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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Dois artigos: NOVE DE JULHO e ESCÂNDALOS, DIVERSIONISMOS, CPI E O DIRETOR DA CIA VEM AO BRASIL

Sexta, 9 de julho de 2021

NOVE DE JULHO: a oligarquia paulista comemora sua contrarrevolução*

Hoje (09/07), um dos âncoras da TV Globo, deu bom dia aos telespectadores “informando” que a data Nove de Julho, feriado estadual paulista, seria referente “ao dia que o povo de São Paulo se rebelou contra a ditadura de Getúlio Vargas”. Falso.

A Revolução de 30, liderada por Getúlio, com amplo apoio popular, já dera início a uma série de transformações estruturais visando que o Brasil deixasse de ser uma grande fazenda de café, para transformar-se em país industrializado, e, ademais, com direitos sociais e trabalhistas. A primeira medida do Governo Vargas foi uma anistia aos presos e perseguidos políticos, entre eles o Líder comunista Luiz Carlos Prestes (que fora convidado para ser o chefe militar da Revolução, mas recusara)  e todos os líderes da Coluna, que, à exceção de Prestes, participaram ativamente daquele movimento que mudou a face do Brasil. Logo de início, Getúlio Vargas criou o Ministério do Trabalho e o da Educação, indicando o peso e a importância que as questões trabalhistas e sociais teriam em seu governo.

Aliás, a criação do Ministério do Trabalho e logo em seguida uma vasta legislação trabalhista, simbolizava uma resposta de Getúlio à célebre frase de Washington Luiz, que, quando presidente, representando a oligarquia paulista, declarara que “greve é questão de polícia”. Getúlio, demonstrando que greve é uma questão de política, cria um Ministério para edificar toda uma série de direitos para os trabalhadores, consubstanciados na CLT, e que apenas vieram a ser seu processo de demolição realizado pelas mão de dois outros paulistas conservadores, Michel Temer e o atual agente do capital de plantão no Alvorada, Jair Bolsonaro.

Quando os líderes da oligarquia paulista iniciaram a contestação do governo federal, fizeram uso de uma fake news, afirmando ser um movimento constitucionalista, quando o presidente Getúlio Vargas já havia dado início à reforma das regras eleitorais da República Velha e até fixado data para a eleição de uma nova Assembleia Constituinte, o que de fato veio a ocorrer na data prevista, no ano seguinte. Entre as regras para esta eleição, foi implementada uma bandeira do Movimento Tenentista: uma bancada de 100 deputados constituintes operários, eleitos em assembleias sindicais, para que, conforme expressão de Getúlio, “se pudesse ouvir a voz dos trabalhadores dentro da Constituinte”, já que, via de regra, a classe trabalhadora é alijada da atividade parlamentar. Se há dúvidas, basta observar quantos trabalhadores há hoje em meio aos 513 deputados. No máximo meia dúzia de trabalhadores, com apenas dois lavradores.

Voto feminino e voto secreto, conquistas da Revolução de 30

 Também para as eleições da Constituinte de 1933, Getúlio Vargas legalizara o voto secreto, sepultando o voto a “bico de pena”, criou a Justiça Eleitoral, e legalizou o voto feminino, a partir de quando as mulheres brasileiras passaram a ter sua cidadania reconhecida, com o direito de votar e de serem votadas. Para se medir a importância política desta medida getulista, para comparar: a França, palco do Iluminismo e da Grande Revolução Francesa, e que se auto elogia como campeã de democracia, somente veio a reconhecer o direito ao voto feminino em 1946, depois da Segunda Guerra, seguindo direito reconhecido no Brasil em 1932, muito embora não se possa deixar de mencionar o pioneirismo da Revolução de Outubro de 1917, primeiro país a ter voto feminino legalizado.

Na realidade, essas e outras tantas medidas indicavam o contexto em que se engendrava a Contrarrevolução Paulista de 1932, marcado pelo fato de Getúlio já ter dado início a um conjunto de ações relevantes para que o Brasil deixasse de ser um país atrasado, agrário, sem direitos reconhecidos, e, ainda mais grave, um país rapinado pela exportação de matérias primas a preços negativos e importador de produtos industrializados a preços extorsivos. Em resumo: uma colônia.

Vargas realizou Auditoria da Dívida Externa

Naquele mesmo ano, o governo Getúlio Vargas dera início à realização de uma Auditoria da Dívida Externa, o que contrariou enormemente os credores internacionais, principalmente representados pelos bancos ingleses. O que explica o apoio que os capitais ingleses ofereceram à pseudo Revolução Constitucionalista, que, ao invés de avançar para uma nova Constituição, pretendia o retorno à Constituição anterior, grafada ainda nos tempos imperiais. Ao final dos trabalhos da Auditoria, a dívida externa brasileira foi reduzida em mais de 60%, dada a anulação de enorme quantidade contratos fraudados, sendo que a parte da dívida reconhecida pelo Governo Vargas, teve o seu pagamento condicionado aos investimentos em programas sociais, priorizados porque o presidente decidiu não sacrificar programas sociais para o pagamento de credores. Além disso, o governo Vargas decidiu anular todas concessões feitas pelo estado do Amazonas ao Grupo Rockfeller para a exploração de petróleo, anulando também diversas concessões de explorações minerais a grupos estrangeiros e decretou a nacionalização do subsolo brasileiro.

Confirmando os temores da oligarquia paulista e dos banqueiros internacionais, a Assembleia Constituinte de 1933 aprovou a criação do salário mínimo, a nacionalização dos bancos e a criação do monopólio estatal dos seguros e resseguros.

Granadas, areia e solidariedade

A oligarquia paulista empreende uma sublevação armada contra o governo federal que durou 6 meses, na qual, há um fato muito simbólico, e muito sonegado ao grande público. Durante as batalhas, as tropas federais perceberam que as granadas lançadas pelas tropas paulistas não explodiam. Várias peças foram recolhidas para análise. Abertos os artefatos, comprovou-se que as granadas paulistas não tinham pólvora, mas apenas areia. A sabotagem era, na realidade, a forma de solidariedade da classe operária paulista, fabricante das granadas, ao governo do Presidente Getúlio Vargas.

Por fim, há muitos outros fatos importantes desta guerra inútil, desnecessária, empreendida pelo paulistanismo reacionário, que encontrou do outro lado das barricadas, nas tropas mineiras que também defendiam o governo Getúlio Vargas, dois mineiros que mais tarde seriam presidentes da república, Juscelino Kubistchek e Tancredo Neves, além do de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que era o corneteiro do 12 Regimento de Infantaria de Minas Gerais.

Solidário com Getúlio, e do mesmo lado da barricada dos outros dois presidentes mineiros, JK e Tancredo, o nordestino Lula declarou: aquilo não foi Revolução, foi Contrarrevolução!

Beto Almeida, jornalista

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ESCÂNDALOS, DIVERSIONISMOS, CPI E O DIRETOR DA CIA VEM AO BRASIL*

O Brasil passa por períodos muito difíceis, desde quando as finanças internacionais aplicaram um golpe sub-reptício, traiçoeiro, na sucessão do Presidente Ernesto Geisel. A nosso ver, começa naquele momento a queda do Brasil Potência, do país que agia pelos seus próprios interesses e se desenvolvia, e passa a ser colônia dos capitais apátridas, residentes em paraísos fiscais, e atinge, com a pandemia do covid 19, ápices de miséria.

No dia 1º de julho último, às 19h30, em Brasília, no Setor de Habitações Individuais Sul, QI 5, número 46, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, com o Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, e o Chefe da Casa Civil, General Luiz Eduardo Ramos, estiveram, fora da agenda presidencial, com o novo diretor da Agência Central de Inteligência (CIA, em inglês), dos Estados Unidos da América (EUA), William J. Burns, nomeado pelo Presidente Joe Biden. Mister Burns procedia de Bogotá (Colômbia) que sofre verdadeira guerra civil, com mais de 60 mortos e mil pessoas feridas em luta contra as medidas do Presidente Iván Duque.

Há turbulências, revoltas e mudanças de governo na América do Sul - Chile, Peru, Equador, antes na Bolívia e na Argentina - o que explica a viagem do “homem da CIA”, e os aparentes desencontros entre os governistas e os oposicionistas no Brasil.

Longe de pretender ser dono da verdade, mas seguindo a máxima que levou o Presidente Richard Nixon à renúncia, em agosto de 1974, vou “seguir o dinheiro” (follow the money), como recomendou, no filme sobre Watergate (Todos os Homens do Presidente), o ex-diretor-assistente do FBI, W. Mark Felt.

O neoliberalismo está sendo derrotado pela realidade do cotidiano das classes médias europeias, estadunidense, sul-americanas, e a Ásia, a África e o Oriente Médio se aproximam, cada vez mais, da República Popular da China e da Federação Russa. Disto resulta a fúria do “homem da guerra”, Joe Biden, do establishment estadunidense, do inglês, e dos capitais especuladores à China e à Rússia, com sanções econômicas e ameaças militares.

A “guerra fria” do século XXI não é mais a guerra ideológica do século XX. É uma guerra do tipo colonial, onde a comunicação tem um peso extraordinário. O esclarecido leitor sabe bem da influência das “fake news”, das “redes sociais”, dos “facebook”, “instagram” e outros “whatsApp”, das ações das “Cambridge Analytica” e sua sucessora britânica Emerdata Limited.

Tudo isso traz a denominação de guerra híbrida e das cismogêneses. Figuras como Biden, lembram-me certos pastores neopentecostais que se aproximam com citações da bíblia, tremendamente evangélicos, e que me obrigam a colocar, preventivamente, a mão no bolso.

Parte destas disputas se dá no âmbito parlamentar e a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), no Senado Federal, para investigar “supostas omissões e irregularidades nas ações do governo federal durante a pandemia de COVID-19 no Brasil”, oficialmente instalada em 27 de abril de 2021, ganhou a mais ampla repercussão nas mídias. E por que?

Porque logo se constatou pelas mentiras e contradições dos depoentes que se estava diante de mais um episódio de corrupção, no governo que divulga ser um exemplo de probidade.

“De alguma maneira, maioria das CPIs realizadas no Brasil têm como motivação o tema da corrupção. A CPI dá ao Legislativo a oportunidade para controlar a corrupção dos outros poderes e, também, a própria corrupção. John Thompson (O escândalo político. Poder e visibilidade na era da mídia, Vozes, Petrópolis, 2002) apontou que, nas democracias contemporâneas, há a presença da lógica do escândalo como processo permanente na opinião pública, em que a corrupção é um tema típico da cobertura da mídia, que se esforça por denunciar as delinquências do homem público e de agentes privados, com relação à administração pública” (Francisco Filgueiras, “Comissões Parlamentares de Inquérito”, in L. Avritzer, N. Bignotto, J. Guimarães e H.M. Murgel Starling (organizadores), Corrupção - Ensaios e Críticas, Editora UFMG, Belo Horizonte, 2008).

A grande corrupção, aquela que açambarca a metade, ou ainda mais, dos orçamentos públicos, é promovida pelos subornos e negociatas das finanças, de resto nunca auditadas deste o Estado Novo de Getúlio Vargas. Mas sendo o verdadeiro poder no estado neoliberal brasileiro, não se imagina uma CPI do Banco Central nem do Sistema Financeiro Nacional.

Artigo da jornalista Cláudia Motta, de 18/05/2021, para a Rede Brasil Atual, nos informa do estudo do cientista político William Nozaki, A Militarização da Administração Pública no Brasil: Projeto de Nação ou Projeto de Poder?, onde ficamos sabendo que há mais de seis mil militares em cargos civis no Governo Bolsonaro.

 

militares
            no governo

 

Como é óbvio, em um Ministério até há pouco tempo administrado por um General, o caso de suspeita de corrupção na compra de vacinas, quando mais de 530 mil brasileiros já faleceram vítimas do covid-19, provoca reações emocionais, o que dizer então das oportunisticamente políticas.

Mas havia muito mais temas incomodando o governo, que nem pode ser atribuída à cismogênica oposição. E a questão sobre o que Mister Burns tratou, fora da agenda, com dois ministros militares ladeando o Presidente, é uma que não quer calar. Estariam, mais uma vez, os EUA impondo uma guerra do Brasil contra a Venezuela, que nossos militares, conhecendo a inferioridade bélica e o preparo insuficiente dos soldados brasileiros, já sabem de antemão que seremos derrotados? Ou querem, com mais pressão sobre um governo fraco, instalar bases militares estadunidenses no Brasil, a partir do já entregue Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), a 32 km de São Luís (Maranhão)?

Por isso, o jornalista Ricardo Noblat escreve em sua coluna de 08/07/2021, no Metrópoles: “Sob a supervisão direta de um general de divisão de nome Eduardo Pazuello, de triste memória, e com o apoio do alto, uma gangue de civis e militares tomou de assalto o Ministério da Saúde sob a alegação de combater o que não passaria de um resfriadinho”.

“Braga Neto era o chefe da Casa Civil quando o país foi quase soterrado por gigantescos volumes de drogas ineficazes contra o vírus produzidas pelo Exército. Parte das verbas destinadas ao SUS durante a pandemia foi usada para pagar despesas militares”.

“Se há uma banda podre no mundo civil, por que não haveria no meio militar? Onde está escrito que militar é mais honesto e patriota do que civil? É dentro dos quartéis que veladamente isso é ensinado, mas está longe de corresponder à verdade”.

Em 23/12/2019, Romulus Maya, editor do Duplo Expresso, redigiu, para um artigo meu, a seguinte chamada: “que Estado podemos imaginar, dominado pela especulação, pela corrupção, pelas drogas, contrabandos e uma religião que divulga e pratica a teologia do enriquecimento, sem qualquer restrição ética ou moral?”.

Penso que as Forças Armadas ainda não acordaram para o País que se tornou o Brasil, sob o domínio neoliberal, das finanças e da teologia da prosperidade. E, enquanto os dossiês que comprometem as famílias no governo não caem no domínio público, os Correios vão fazer companhia às grandes empresas brasileiras, Petrobrás, Eletrobrás, Telebrás, Embratel, Embraer, Vale do Rio doce e muitas outras que passaram às mãos do gestores de ativos, a denominação com que as finanças apátridas se apresentam neste século.

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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Os dois artigos acima foram publicados no Portal Pátria Latina, em 09/07/2021.