Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

A Melhor Mão de Obra e a Pátria Impossível

A melhor mão de obra
O sacerdote francês Jean-Baptiste Labat recomendava num de seus livros, publicados em 1742:
Os meninos africanos de dez a quinze anos são os melhores escravos para se levar para a América. Tem-se a vantagem de educá-los para que marquem o passo como melhor convenha aos seus amos. Os meninos esquecem com mais facilidade seu país natal e os vícios que lá reinam, se encarinham com seus amos e estão menos inclinados à rebelião que os negros mais velhos.
Esse piedoso missionários sabia do que falava. Nas ilhas francesas do mar do Caribe, Père Labat oferecia batismos, comunhões e confissões, e entre missa e missa vigiava suas propriedades. Ele era dono de terras e escravos.
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A pátria impossível
Em 1791, outro amo de terras e escravos enviou uma carta do Haiti:
— Os negros são muito obedientes, e serão sempre — dizia.
A carta estava navegando rumo a Paris quando ocorreu o impossível: na noite de 22 para 23 de agosto, noite de tormenta, a maior insurreição de escravos da história da humanidade explodiu nas profundidades da selva haitiana. E esses negros muito obedientes humilharam o exército de Napoleão Bonaparte, que havia invadido a Europa de Madri a Moscou.

Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um calendário histórico sobre a humanidade), 2ª Edição, L&PM Editores, 2012, páginas 268 e 269. 


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sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Terra que grita

  Janeiro 

13

Terra que grita

No ano de 2010, um terremoto engoliu boa parte do Haiti e deixou mais de duzentos mil mortos.

No dia seguinte, Pat Robertson, telepastor evangélico, explicou lá dos Estados Unidos: o pastor de almas revelou que os negros haitiano eram os culpados pela sua liberdade. O Diabo, que os havia libertado da França, estava mandando a conta.

Eduardo Galeano, no livro 'Os filhos dos dias',
2ª ed. página 27. L&PM Editores.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A maldição haitiana

Janeiro

14

A maldição haitiana

O terremoto do Haiti havia sido o ponto culminante da longa tragédia de um país sem sombra e sem água, que havia sido arrasada pela voracidade colonial e pela guerra contra a escravidão.
Os amos destronados explicam isso de outra maneira: o vodu tinha e tem a culpa de todas as desgraças. O vodu não merece ser chamado de religião. Não é nada além de uma superstição vinda da África, magia negra, coisa de negros, coisa do Diabo.
A Igreja Católica, onde não faltam fieis capazes de vender unhas de santos e plumas do arcanjo Gabriel, conseguiu que essa superstição fosse legalmente proibida no Haiti em 1845, 1860, 1915 e 1942.
Nos últimos tempos, o combate contra a superstição corre por conta das seitas evangélicas. As seitas vêm do país de Pat Robertson: um país que não tem 13º andar em seus edifícios nem fileiras 13 em seus aviões, e onde são maioria os civilizados cristãos que acreditam que Deus fabricou o mundo em uma semana.

Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um calendário histórico sobre a humanidade), 2ª Edição, L&PM Editores, 2012, página 28

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Leia também: 

Terra que grita

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Terra que grita

 Janeiro 

13

Terra que grita

    No ano de 2010, um terremoto engoliu boa parte do Haiti e deixou mais de duzentos mil mortos.
 No dia seguinte, Pat Robertson, telepastor evangélico, explicou lá dos Estados Unidos: o pastor de almas revelou que os negros haitiano eram os culpados pela sua liberdade. O Diabo, que os havia libertado da França, estava mandando a conta.

Eduardo Galeano, no livro 'Os filhos dos dias', 2ª ed. página 27. L&PM Editores.

sábado, 14 de janeiro de 2017

A maldição haitiana

Janeiro
14

A maldição haitiana

O terremoto do Haiti havia sido o ponto culminante da longa tragédia de um país sem sombra e sem água, que havia sido arrasado pela voracidade colonial e pela guerra contra a escravidão.
Os amos destronados explicam isso de outa maneira: o vodu tinha e tem a culpa de todas as desgraças. O vodu não merece ser chamado de religião. Não é nada além de uma superstição da África, magia negra, coisa de negros, coisa do Diabo.
A Igreja católica, onde não faltam fiéis capazes de vender unhas de santos e plumas de arcanjo Gabriel, conseguiu que essa superstição fosse legalmente proibida no Haiti em 1845, 1860, 1896, 1915 e 1942.
Nos último tempos, o combate contra a superstição corre por conta das seitas evangélicas. As seitas vêm do país de Pat Robertson: um país que não tem 13º andar em seus edifícios nem fileira 13 em seus aviões, e onde são maioria os civilizados cristãos que acreditam que Deus fabricou o mundo em uma semana.

                 Do livro "Os filhos dos Dias", de Eduardo            Galeano, Editora L&PM, 2ª edição, página 28.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Dia 13 de outubro em São Paulo: Ato pela retirada das tropas do Haiti

Quinta, 8 de outubro de 2015
Ato ocorre na Assembleia Legislativa, às 18h, na Sala Tiradentes

Aproxima-se o dia 15 de outubro, data em que se renova o mandato da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) para a ocupação do Haiti. Há mais de 11 anos, desde o governo Lula, as tropas brasileiras e de outras nações estão no Haiti promovendo uma vergonhosa ocupação militar suprimindo a soberania do povo haitiano e violando seu direito à autodeterminação. Sob a desculpa de que o Haiti é uma ameaça à paz e à segurança hemisférica. Enquanto isso, as comunidades e organizações haitianas reclamam por sua dignidade e direitos.

A MINUSTAH não é uma missão de paz nem uma missão humanitária. É uma força de ocupação terceirizada das Nações Unidas a serviço do imperialismo dos Estados Unidos, França e Canadá, que durante séculos buscam subjulgar o Haiti.

A MINUSTAH fracassou em todos os seus objetivos declarados no país, ajudou a manipular as eleições presidenciais de 2010/2011, o crescimento da violência, da fome, da miséria e da exploração dos trabalhadores e do povo haitiano

A MINUSTAH viola os Direitos Humanos, entre elas com o abuso sexual de mulheres, meninas, meninos e jovens. Foi a responsável pela introdução do cólera, que resultou em mais de 8.000 mortes e 700.000 pessoas infectadas.


Exigimos do Conselho de Segurança da ONU, a retirada imediata das tropas da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti e que ponham fim a toda ocupação do país. Exigimos do governo de Dilma Rousseff a retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti. Exigimos a formação de um Tribunal Internacional que identifique, julgue e puna os responsáveis pelos crimes cometidos neste país e as violações dos Direitos Humanos, assim como a criação de uma comissão de reparação das vítimas destes crimes e destas violações, com inventário dos danos causados, e a reparação através de indenizações ou compensações.

Todos temos o dever de defender aquele que foi o primeiro povo a se livrar da escravidão e defender os direitos humanos.

Por um Haiti livre e soberano!

Fora as tropas Minustah do Haiti Já!

Fim dos 100 anos da ocupação estrangeria do Haiti! Basta!

Deputado Giannazi do PSOL, PSTU e CSP-CONLUTAS-SP

sexta-feira, 10 de abril de 2015

No Haiti, movimentos sociais querem invasores fora dali

Sexta, 10 de abril de 2015
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo

por  | 9 de abril de 2015


A favela Fort National, em um morro de Porto Príncipe, oferece um perfeito exemplo do misto de ironia, agonia e luta que envolve o Haiti hoje
Vista de Porto Príncipe, capital do Haiti. Foto: Eliza Capai
Vista de Porto Príncipe, capital do Haiti. Foto: Eliza Capai
Por Kim Ives
Sua superfície, rochosa como a da Lua, está coberta por pilhas de detritos, sujeira, lixo. Centenas de moradores morreram aqui quando o terremoto de 12 de janeiro de 2010 destruiu oito em cada dez casas de concreto que se apertavam – e ainda hoje se apertam – entre os corredores estreitos e escuros nos quais corre o esgoto. Moscas e ratos convivem nesse labirinto sombrio com famílias numerosas; as crianças se agacham como sapos e saem pulando quando um estranho passa pela entrada das residências (não raro protegidas apenas por uma cortina).
Observando-se o padrão de telhados de lata por Fort National, vergalhões enferrujados retorcidos escapam das paredes de concreto inacabadas, como dedos rogando aos céus pelo maná.

Terremoto em 2010 deixou centenas de milhares de mortos em Porto Príncipe. Foto: Eliza Capai
No alto dessa vizinhança empoleirada sobre a maior colina do centro da capital, há uma enorme placa que já ostentou a visão imaginada de um arborizado complexo de apartamentos com calçadas largas e pessoas bem-vestidas. Esse projeto, que seria levado a cabo por uma construtora dominicana sob um contestado contrato sem licitação, seria financiado por US$ 174 milhões dos US$ 13 bilhões da verba de ajuda internacional ao Haiti pós-terremoto. A placa, como a promessa, já se deteriorou há muito tempo, como tantos projetos anunciados no país depois da tragédia. Menos de metade dos US$ 13 bilhões já foi gasta, e, além de alguns hotéis de luxo e um parque gigante no norte, longe da região do terremoto, é difícil ver mudança na dura realidade do Haiti apesar do mutirão feito a seu favor pelo mundo inteiro.

Para onde foram os US$ 174 milhões de Fort National?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Haiti cinco anos depois: Exija dignidade!

Quinta, 15 de janeiro de 2015
Campo Grace Village, na municipalidade de Carrefour, Port-au-Prince. Abril de 2013.Campo Grace Village, na municipalidade de Carrefour, Port-au-Prince. Abril de 2013. 
Cinco anos após o desastroso terremoto no Haiti, dezenas de milhares de pessoas continuam desabrigadas.
A falta de prioridade para a questão habitacional pelo governo haitiano, remoções forçadas, e programas de curto prazo por parte da comunidade internacional, resultaram no fracasso para realojar o maioria das pessoas que perderam tudo no desastre.

Canaã, na periferia de Port-au-Prince, é um símbolo do trabalho ainda por fazer, para permitir aos haitianos viver com dignidade e com os seus direitos respeitados.

Hoje, mais de 200.000 pessoas vivem nesta grande extensão de terra declarada de utilidade pública pelo governo do Haiti depois do terremoto. Entretanto, sem qualquer ajuda, eles constroem suas casas, para refazer suas vidas.

As famílias de Canaã tentam sobreviver, apesar das ameaças de remoção forçada e falta de acesso a serviços essenciais, como água potável, eletricidade, educação e saúde.

O governo haitiano, com o apoio da comunidade internacional, tem a obrigação de assegurar o direito do seu povo, especialmente dos mais pobres, a uma moradia digna e sustentável.


Ao Presidente do Haiti, Michel Martelly:
Prezado Presidente Michel Martelly,
Peço-lhe que intervenha pelos moradores de Canaã, e por todos os desalojados pelo terremoto, e:
• Evite as remoções forçadas;
• Garanta acesso sustentável à moradia adequada, e a serviços essenciais, especialmente eletricidade, água potável, educação e saúde.

Atenciosamente,

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A maldição haitiana


Janeiro
14
Do livro "Os filhos dos Dias", de Eduardo Galeano, Editora L&PM, 2ª edição, página 28.
Você pode clicar na imagem acima para ampliá-la.

Veja também Terra que grita

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Ações contra a ONU por epidemia no Haiti ameaçam imunidade legal da organização

Terça, 13 de janeiro de 2015
Danilo Macedo - Repórter da Agência Brasil
Três ações movidas por haitianos contra a Organização das Nações Unidas (ONU) colocam em xeque a imunidade diplomática e legal da entidade e a expõem a um dos maiores constrangimentos internacionais desde a sua criação, em 1945, segundo a advogada e coordenadora do Programa de Cooperação Internacional do Instituto Igarapé, Eduarda Hamann.
Em janeiro de 2010, quando o Haiti foi devastado por um terremoto, milhares de missões de todo o mundo desembarcaram no país com o objetivo de ajudar os haitianos a se recuperar do desastre. Além da destruição do terremoto, outra tragédia assolou o país em outubro daquele ano: uma epidemia de cólera, doença que nunca havia sido registrada no país em quase 100 anos. No total, já foram registrados 720 mil casos, o equivalente a 7% da população do país.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Haiti: Forças de paz da ONU deixam mães e bebês para trás

Quarta, 26 de novembro de 2014
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Soldados da missão da ONU comandada pelo Brasil abandonam haitianas grávidas; não existe sistema para reivindicação de paternidade através da organização

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CONVERSA PÚBLICA: o Haiti e a missão da ONU

Terça, 20 de dezembro de 2011
Da Pública Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo

Na semana passada mais um escândalo se abateu sobre a missão brasileira no Haiti. Oito soldados brasileiros teriam espancado dois haitianos na capital, Porto Príncipe.

É mais uma escândalo para uma população que já tem mostrado sinais de revolta contra a longa presença da ONU no país. Em setembro diversos protestos aconteceram na capital, pouco depois de um vídeo vazar para a internet mostrando o suposto estupro de um jovem haitiano por soldados uruguaios. Em novembro, uma ONG de direitos humanos processou a ONU por levado a epidemia de cólera para o Haiti. A doença já atingiu 500 mil pessoas e matou mais de 6.600.

Diante de tantas denúncias, a Pública conversou com dois jornalistas que cobrem de perto o Haiti. Eles foram os responsáveis pela publicação dos documentos do WikiLeaks no país.

“Com o tempo o cinismo e desprezo pela ONU viraram hostilidade e raiva”, diz Kim Ives. “O problema da cólera agora está gravíssimo”. Kim Ives cresceu num bairro haitiano em Nova York e cobre o Haiti desde 1983, quando dirigiu o premiado documentário “Bitter Cane”, filmado secretamente durante a ditadura de Baby Doc. Hoje é editor do jornal independente Haiti Liberté.

“Foi uma negligência criminosa por parte da ONU que levou a uma epidemia que afetou 5% de toda a população. Quando isso aconteceu, eles deveriam agir rapidamente para conter o problema. Mas não agiram. Foram irresponsáveis duas vezes”, completa Dan Coughlin, colaborador do jornal americano The Nation.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O inferno dos haitianos deportados dos EUA

Sexta, 18 de novembro de 2011
Da Pública

A administração Obama continua deportando haitianos, que são detidos ilegalmente quando chegam ao país e levados para cadeias superlotadas em plena epidemia de cólera

 Por Jacob Kushner, do Florida Center for Investigative Reporting
Apenas desde janeiro deste ano os Estados Unidos deportaram mais de 250 haitianos – com o pleno conhecimento de que metade deles seriam presos ao chegar ao país e correriam graves riscos de saúde nas insalubres cadeias haitianas.

Uma investigação do Florida Center for Investigative Reporting descobriu que a administração Obama não cumpriu sua promessa de buscar alternativas à deportação nos casos em que há riscos humanitários.

“No Haiti, diferentemente de outros países, os deportados são imediatamente presos quando desembarcam. E as condições das prisões são universalmente condenadas como grave violação aos direitos humanos”, diz Rebecca Sharpless, da clínica de Imigração da Faculdade de Direito da Universidade de Miami, que ajuda imigrantes a apelar contra a deportação.

Os riscos à saúde para deportados encarcerados aumentaram ainda mais desde outubro de 2010, quando teve início uma violenta epidemia de cólera que infectou cerca de 470.000 pessoas e matou mais de 6.500 – incluindo alguns prisioneiros.

Especialistas em saúde afirmam que os deportados presos correm grande risco de contrair cólera, que se espalha rapidamente nas cadeias superlotadas, onde não há água tratada, sabonete e sistemas adequados de eliminação de resíduos.

Uma vez expostas à cólera, as vítimas podem morrer em menos de 24 horas.

Esse parece ter sido a caso de um deportado de 34 anos, Wildrick Guerrier, que morreu em janeiro deste ano. Guerrier foi condenado na Flórida por agressão e posse de arma de fogo – o que motivou sua deportação.  Ele faleceu como conseqüência dos sintomas similares aos da cólera dois dias depois de ser libertado da prisão onde adoeceu. É a mesma prisão usada hoje em dia para abrigar os haitianos que são enviados de volta ao país.

O governo haitiano diz que cerca de metade dos deportados são detidos para que se verifique quais deles são “criminosos sérios”. Trata-se, portanto, de uma detenção arbitrária. O período de detenção sem qualquer processo formal pode chegar a até 11 dias, em clara violação às leis haitianas e aos tratados da ONU.

Uma breve pausa
Um dia depois do terremoto de janeiro de 2010 destruir grande parte da capital, o governo americano suspendeu todas as deportações. Desde então a ONU e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem feito lobby para que os países vizinhos suspendam o procedimento por causa das péssimas condições atuais do país.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

HAITI: “Aba Minustah”

Terça, 27 de setembro de 2011
Da Pública Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Às vésperas de mais uma renovação da permanência da missão de paz, protestantes pedem a saída das tropas da ONU comandadas pelo Brasil; documentos do Wikileaks confirmam rumores sobre golpe contra Aristide

Por Marina Amaral e Natalia Viana
Três soldados uniformizados seguram com força um rapaz moreno sobre um colchão. Com os braços torcidos por trás das costas, ele recebe um soco e tem sua calça abaixada entre as risadas estridentes do grupo. Um quarto soldado, de pé e sem camisa, abre a braguilha da sua calça camuflada e aproxima o seu pênis do menino, deitado de costas. Ele faz uma expressão de terror; pouco depois, os soldados o soltam, ainda entre gargalhadas.

O vídeo que expõe a tortura e suposto estupro do jovem haitiano por parte de quatro soldados uruguaios, integrantes da força da ONU no Haiti (MINUSTAH), vazou no começo de setembro pela internet, provocando comoção nacional.  O presidente Michel Martelly, condenou veementemente o ato que “revoltou a consciência da nação’, e a porta-voz da missão de paz, Eliane Nabaa, expressou a preocupação de que o “lamentável” episódio possa “impactar nossa relação com os haitianos”. O ministro brasileiro da Defesa, Celso Amorim, ressalvou: “Não se pode contaminar toda a missão de paz por um episódio
específico”.
Para a maioria da população haitiana, porém, o humilhante vídeo é apenas mais um motivo de revolta contra a missão militar da ONU, há tempo demais no país. Enquanto a discussão segue a passos lentos da ONU – na semana passada, o secretário-geral Ban Ki-Moon recomendou a redução de 12 mil soldados e policiais para cerca de 9 mil, voltando à quantidade anterior ao terremoto de 2010, mas uma decisão só vai sair em outubro – as ruas de Porto Príncipe têm sido palco de vigorosos protestos que são difíceis de ignorar.

No dia 14 de setembro deste ano, um protesto contra a presença das tropas da ONU teve início em frente à base militar comandada pelo Brasil em Bel Air. Os cerca de 400 manifestantes que pediam o fim da Minustah foram até a frente do Palácio Presidencial foram  dispersados por diversas bombas de gás lacrimogêneo atiradas pela Polícia Nacional Haitiana (PNH). Outros protestos estão sendo articulados para as próximas semanas.

Na última sexta-feira, falando na ONU, Martelly afirmou sobre os protestos: “Muita gente está fazendo política, pedindo a saída da Minustah porque eles querem criar instabilidade. A Minustah só pode sair quando houver uma alternativa”.

Porém, muito antes do assombro causado pelo vídeo, já era comum ver pelas ruas de Porto Príncipe pichações com os dizeres “abaixo a Minustah” ou “abaixo a ocupação”; e a população se referia desdenhosamente à força comandada pelos brasileiros, apelidada de “pepe blanc”, ou “estrangeiros de segunda mão” – em referência à etnia das tropas composta por nove países latino-americanos, quatro países asiáticos, além das Filipinas e Jordânia, que se juntaram aos “estrangeiros de primeira mão” – Canadá, Estados Unidos e França.

Depois de sete anos no Haiti, com a participação de mais de 13 mil soldados brasileiros, 1 bilhão de reais de gastos do governo, o sentimento dos haitianos é bem diferente do entusiasmo demonstrado no jogo da seleção do Brasil, em agosto de 2004, o marco midiático da missão.“A verdade é que, em geral, a Minustah é vista como uma força de ocupação”, diz Michèle Montas, jornalista haitiana que foi porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

Uma das promessas de campanha de Martelly, eleito no início desse ano, foi a retirada das forças da ONU no país. Cinco meses depois da posse, porém, o presidente haitiano ainda não conseguiu nem montar o governo – dois nomes propostos para primeiro-ministro foram rechaçados pelo parlamento –, que dirá mandar as tropas embora.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, antes de assumir a pasta, também afirmou em um programa de TV que “não fazia sentido” manter as tropas brasileiras no país. Recentemente, já como ministro da Defesa, ponderou: “Não podemos ter uma saída desorganizada que gere uma situação de caos”.

O início de tudo: circunstâncias nebulosas
A ocupação da ONU no Haiti começou assim que o avião militar americano partiu na madrugada de 29 de fevereiro de 2004 levando o presidente Jean-Bertrand Aristide em direção ao exílio. Desestabilizado por meses de greves e protestos, que degeneraram em rebelião armada, Aristide assinou a carta de renúncia em uma reunião, na noite do dia 28,  com representantes diplomáticos da França e dos Estados Unidos.
Até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu nesse encontro.

Três dias depois, em uma comunicação por celular de Bangui, a capital da República Centro-Africana, a um amigo em Washington, Aristide afirmou ter sido forçado a renunciar e a deixar o país, “sequestrado por soldados americanos armados”, o que contribuiu, desde o começo, para o ceticismo da população em relação as forças da ONU no país.

Leia a íntegra da reportagem HAITI: “Aba Minustah”

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Mais de 630 mil pessoas ainda vivem em acampamentos no Haiti

Quarta, 14 de setembro de 2011
Da Agência Pulsar
Uma investigação da Haiti Grassroots Watch registra as péssimas condições de higiene e segurança em que se encontram os acampamentos no Haiti. Pelos menos 6 mil 160 pessoas já morreram de cólera e os contaminados pela doença chegam a 426 mil.

Na país caribenho existem mil acampamentos que abrigam famílias que perderam suas casas durante o terremoto corrido em março de 2010. Todos carecem de instalações sanitárias adequadas.

O estudo, concluído em março desde ano, destaca que apenas 18% dos acampamentos têm pias para que as pessoas possam lavar as mãos. Apenas 29% possuem sistema de recolhimento e depósito de lixo sólido. Nos acampamentos, a média é de um vaso sanitário para cada grupo de 112 pessoas.

No último verão haitiano, sob a alegação de falta de verbas, foram suspensos os serviços de limpeza sanitária, distribuição de água e atenção médica na maioria dos acampamentos.

Segundo dados do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas (ONU), agências humanitárias receberam mais 40 milhões de dólares para a realização dos serviços em 2011.

A investigação da Haiti Grassroots Watch também chama atenção para o fato da maioria dos desabrigados não estar incluída nos planos de reconstrução de moradias no país. As 68 mil casas prometidas somente resolveriam o problema de 22% das famílias acampadas, de acordo com dados de um levantamento realizado no ano passado. (pulsar/tierramerica)

sexta-feira, 29 de julho de 2011

WIKILEAKS: EUA atuaram contra aumento de mínimo no Haiti para 5 dólares

Sexta, 29 de julho de 2011
Da Pública
Entre 2008 e 2009, a embaixada em Port-au-Prince fez lobby para combater o aumento salarial, que tinha grande apoio da população

Por Dan Coughlin e Kim Ives, do Haiti Liberté

Entre 2008 e 2009, a embaixada americana do Haiti se reuniu a portas fechadas com donos de fábricas contratadas pelas marcas Levi’s, Hanes e Fruit of de Loom com o intuito de bloquear o aumento de salários da indústria têxtil do Haiti – que são os mais baixos do continente – segundo documentos do Departamento de Estado americano.

Os donos das fábricas se recusavam a pagar 62 centavos por hora, o que equivale a 5 doláres por 8 horas de trabalho, conforme estabelecia uma medida aprovada por unanimidade pelo Congresso haitiano em 2009.

Nos bastidores, porém, os donos de fábricas tiveram o apoio vigoroso dos EUA, da Agência de Desenvolvimento Internacional (USAID) e da embaixada americana, segundo documentos da embaixada entregues ao Haïti Liberté, parceiro da Pública, por meio do grupo de transparência WikiLeaks.

Na época, o mínimo salarial diário era de 70 gourdes, ou 1 dólar e 75 centavos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Em 2004, Brasil deu US$1,7 milhão para treinamento forças de paz paraguaias

Terça, 5 de julho de 2011
Do site apublica.org
Documento da Embaixada de Assunção mostra que o Ministério da Defesa pagou treinamento para tropas do Paraguai para que o país vizinho integrasse a missão de paz no Haiti comandada pelo Brasil


Por Tadeu Breda, especial para a Pública
Pouco mais de dois anos após assumir o comando da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), em junho de 2004, o Brasil enviou dinheiro ao Paraguai para que o pais vizinho integrasse as forças de paz na ilha caribenha. A informação consta de um telegrama da Embaixada dos Estados Unidos em Assunção vazado pelo WikiLeaks – e que a Agência Pública divulga com exclusividade.

O documento atesta que, em julho de 2006, o governo brasileiro havia confirmado a destinação de 1,7 milhão de dólares para o Exército paraguaio. “Os fundos serão utilizados para reparar 40 veículos blindados e prover equipamentos, uniformes e treinamento para um pelotão de capacetes-azuis que irão integrar o contingente brasileiro”, escreveram os diplomatas estadunidenses.

Um oficial do Exército paraguaio, cujo nome foi mantido em sigilo, revelou à Embaixada que o grupamento a ser enviado ao Haiti consistiria em cinco oficiais e 25 praças. A informação viria a provar-se precisa cinco meses depois, quando, em dezembro de 2006, Brasil e Paraguai assinaram um memorando de entendimento para a incorporação de “um pelotão de fuzileiros formado por trinta militares paraguaios, constituído por tenentes (no máximo cinco), sargentos e cabos/soldados, para cumprir as tarefas que lhe forem designadas como integrante do Batalhão Brasileiro na Minustah”.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Presidente do Haiti critica intervenção militar no país

Segunda, 11 de abril de 2011
Da Agência Pulsar Brasil
De acordo com o Conselho de Segurança da ONU, apenas 37% das contribuições prometidas ao Haiti foram concretizadas. O Conselho se reuniu na semana passada. O presidente René Preval disse que o país não precisa de tanques e armas.

A sessão teve como objetivo discutir a ajuda da comunidade internacional ao país. Também contou com a participação de sete ministros de relações exteriores da América Latina. Para embaixador brasileiro, Antônio Simões, o dinheiro deveria ser remetido diretamente para o governo.

Compartilha dessa visão, o ex-presidente dos EUA, que estava presente como enviado especial da ONU. Ele defendeu que as organizações não-governamentais devem agir junto do governo na missão de reconstruir o país.

Já o presidente do Haiti René Preval, criticou as intervenções militares no país: "Mais do que tanques, veículos blindados e soldados, o Haiti precisa de escavadeiras, engenheiros, inspetores de política e especialistas no reforço da justiça”, afirmou.

A Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah) ocupa o país de 2004, que após o terremoto, reafirmou sua missão de ajudar a reconstruir o país.

O Brasil comanda a Minustah e mais de mil militares brasileiros fazem parte da tropa.

Algumas organizações sociais afirmam que tropas militares não resolvem problemas sociais e alegam que o dinheiro poderia ser usado para educação, saúde e moradia, entre outras ações. (pulsar/adital)
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Comentário do Gama Live: e o governo brasileiro instrumentalizado pelos interesses americanos no Haiti, ao empregar nosso soldados num conflito que nada tem a vê com nós.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Brasileiro afastado de missão da OEA no Haiti reitera críticas à ação internacional no país

Domingo, 2 de janeiro de 2011
Da Agência Brasil
Renata Giraldi - Repórter
O ex-representante especial da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, o brasileiro Ricardo Seitenfus, reiterou hoje (2), ao participar da cerimônia de transmissão de cargo de Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, as críticas ao número de militares presentes no país caribenho e à ação das organizações não governamentais.

Em decorrência dessas críticas, Seitenfus foi afastado das funções no final de dezembro. Para ele, a decisão foi “contraproducente”, mas disse que representou o que muitos pensam sobre as missões em atuação no Haiti. “Tenho impressão que não falei inverdades. O Haiti não precisa de tantos soldados. O Haiti precisa de engenheiros, técnicos e desenvolvimento socioeconômico”, disse Seitenfus.

O brasileiro afirmou que “o Haiti não pode ser simplesmente ser objeto ou coadjuvante da sua própria história. O Haiti tem de estar no centro da sua história”. Segundo ele, suas críticas “são reflexões generosas feitas com o coração, mas que retratam a percepção de muita gente que não tem voz. Fui o porta-voz daqueles que não têm voz”.

Ao ser perguntado sobre como recebeu a informação sobre seu afastamento, Steinfus disse que foi uma medida contraproducente. “É contraproducente. Meu mandato foi incurtado, pois ia até 31 de março. Isso deu uma grande repercussão. É uma forma de tentar calar algo no Haiti que é a aspiração do Haiti de tentar recuperar sua autonomia”, disse.

Seitenfus criticou, em entrevista recente a um jornal suíço, o papel da comunidade internacional e, especialmente da Missão das Nações Unidas (Minustah), presente no Haiti desde 2004. Para o ex-presidente de Cuba Fidel Castro, Steinfus fez afirmações “incontestáveis”.