Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 24 de outubro de 2009

A chapa dos sonhos

Sábado, 24 de outubro de 2009
Por Ivan de Carvalho
Perto de completar três dos quatro anos de seu segundo mandato como governador de Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral e a terceira maior economia do país, o tucano Aécio Neves tem muita vontade de ser candidato a presidente para suceder a Lula. E está trabalhando duro para isto.
    O início desta semana registrou uma ação sua e outra que o beneficia. A dele foi defender, inclusive junto ao seu concorrente a candidato a presidente da República dentro do PSDB, o governador paulista José Serra, uma decisão sobre quem será o candidato tucano até janeiro.
Isto daria a Aécio Neves mais tempo, e ele precisa muito disso, para trabalhar junto ao eleitorado em geral e a diversos segmentos da sociedade a sua candidatura, pois seus índices de popularidade ainda são muito modestos. Aécio precisa desesperadamente de exposição e ela viria, não com a tese que chegou a lançar, de realização das prévias, mas com uma decisão que o faça o candidato da oposição.
A iniciativa do governador mineiro de cobrar para janeiro a decisão sobre o candidato do PSDB e seus aliados a presidente também é um esforço para embaraçar a estratégia do governador paulista José Serra, que trabalha para retardar a decisão, que se for tomada em março ainda lhe parecerá precoce, mesmo que já admita isto.
Uma outra iniciativa, não de Aécio, mas em seu favor, também acaba de ocorrer. O mineiro considerou “enorme estímulo” a manifestação majoritária de preferência por seu nome das bancadas do Democratas na Câmara dos Deputados e no Senado e interpretou o fato como “uma demonstração clara de que não há decisão tomada e há espaço para nós criarmos um projeto que eu chamaria de mais convergente”.
Quem não tem cão caça com gato. A iniciativa de Aécio de tentar abreviar a escolha do candidato e a manifestação de parte dos congressistas do DEM em seu favor mal conseguem responder a uma pesquisa eleitoral encomendada pelo PSDB, na qual Serra – como em todas as outras, com a alta exposição que já teve e continua tendo nacionalmente em sua vida pública – aparece muito bem na foto. E excepcionalmente em cenário no qual Aécio é proposto como candidato a vice na “chapa dos sonhos”, que une como ponto de partido o PSDB, os dois maiores colégios eleitorais do país e as primeira e terceira economias, além de ter a aprovação do DEM, que renuncia alegremente, em nome do aumento das chances de vitória, ao “direito” de indicar o candidato a vice, com as devidas compensações, naturalmente.
Um experiente e bem informado político, muito bem colocado para analisar este processo, reconhece que Aécio quer ser o candidato da oposição a presidente, mas admite que a escolha acabará recaindo sobre Serra. E que Aécio não escolherá alternativas como a de candidato a senador, mas cederá às pressões de Minas Gerais –  e, por que não, do PSDB? – para integrar a chapa de Serra como candidato a vice. Tudo muito bem conversado, claro, que mineiro não é bobo. Muito menos quando é neto de Tancredo Neves.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia de hoje.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.