Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Comunicação aloprada

Segunda, 26 de abril de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    No “ato público” de lançamento das candidaturas do senador Aloizio Mercadante e da ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy, respectivamente para governador de São Paulo e para o Senado, a candidata do PT a presidente da República, Dilma Rousseff, não esteve bem.
    Fez um discurso evidentemente lido no teleprompter (ponto eletrônico), procedimento bastante comum, mas no qual se exige dos oradores que leiam sem parecer que estão lendo, que passem ao telespectador a impressão de que o discurso é de improviso. O orador tem que parecer “natural” e parecer olhar para o telespectador, não para um objeto posto fora da visão deste, o teleprompter. A falta de experiência aliou-se à falta de treinamento para produzir a má performance da candidata. Ou então ela é dasajeitada mesmo.
    Mas este não foi o único componente da má performance. Outro foi que ela parecia perdida no palco-palanque, aparentando não saber muito bem o que fazer, para onde olhar e, pior, para qual câmera de TV olhar. Observações de um atento jornalista que estava lá. Não estava bem orientada ou não absorvera as orientações que lhe foram dadas.
    Na verdade, há um forte ruído na comunicação – na área de comunicação da campanha. O jornalista, publicitário e especialista em marketing político João Santana é responsável pela parte de rádio e televisão. A parte de Internet está subordinada a Marcelo Branco. E os rumores ou ruídos dão sinais de que as duas partes da propaganda na campanha de Dilma não estão revelando afinidade. Faltaria sintonia, o que frequentemente ruídos na comunicação. Fala-se até que esses ruídos estariam até mesmo perturbando as meditações do presidente Lula e da candidata Dilma Rousseff, que não teriam igual modo de ver o que acontece no comando de comunicação da campanha.
    E a parte do comando que tem a autoridade sobre o setor da Internet perpetrou um fato notável. Em site oficial de Dilma Rousseff, a página de abertura traz uma trinca de fotos. Dilma menina, Dilma jovem, Dilma atual. O problema é a foto de Dilma jovem (cabeça e pescoço apenas), abaixo de um cartaz “Contra a Censura/ pela Cultura”, numa passeata. Ao lado das três fotografias, a expressão “Minha Vida” e um pequeno enunciado: “Coragem, competência e sensibilidade social: três características muito presentes em toda a vida de Dilma”, observou ontem o blog do jornalista Josias de Souza, da Folha de S. Paulo online. Claro que a foto do meio era muito importante para justificar esse enunciado.
    Isto se a foto do meio fosse da candidata Dilma. Não é. É da atriz Normal Benguell, nos seus tempos de juventude. Se não houvessem dado o corte na foto para que só aparecessem a cabeça e o pescoço de Dilma Bengell e umas figuras indistintas em segundo plano, a foto seria reconhecida como uma fotografia famosa, feita e publicada no jornal Correio da Manhã em 1968. Famosa porque na foto aparecem Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Rousseff e Ruth Escobar, linha de frente feminina da arte de representação no Brasil, na época.
    O jornalista Ricardo Boechat notou e divulgou, na sua coluna na última edição da revista Isto É, que a foto do meio não é de Dilma. É da atriz Normal Bengell. Então, o site “Gente que Mente”, considerado ligado ao PSDB, publicou a foto integralmente, com as atrizes de corpo inteiro. Inclusive Norma Bengell, com a mesma cabeça e o mesmo pescoço que representaram Dilma Rousseff no site da candidata.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano