Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 29 de maio de 2010

Eles não sabem

Sábado, 29 de maio de 2010
 Por Ivan de Carvalho
     Há verdades evidentes por si mesmas, diz a Declaração Unânime dos 13 Estados Unidos da América, aquele núcleo que em 4 de julho de 1776 emitiu o documento que ao mesmo tempo era uma Declaração de Independência em relação à Inglaterra e a carta-doutrina da mais importante Revolução política da história conhecida da humanidade. Digo Revolução política porque, caso se busque uma revolução muito mais abrangente, ela será encontrada – tenho certeza – nos Evangelhos.
    Mas, voltando ao começo, a Declaração Unânime dos 13 Estados Unidos da América afirma que os homens, criados iguais pelo criador, foram dotados de certos direitos inalienáveis, entre estes a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
    Aproveito, nesses tempos de tanta insegurança, mal que o povo debita aos Estados – porque estes têm as polícias mais visíveis, enquanto a União (brasileira) e seu governo parece lavar as mãos o tempo todo, numa espécie de malandra síndrome de Pilatos –, para lembrar ainda que a Declaração fala na constituição de governos que pareçam ao povo convenientes para “realizar-lhe a segurança e a felicidade”.
    Bem, vê aí o leitor? A segurança também foi incluída. A segurança.
    Mas que segurança pode haver quando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aparece aos fotógrafos, abraçado ao colega da Bolívia, Evo Morales, e convida-o, rindo muito: “Vamos posar aqui; vamos fazer inveja no Serra”. E fez piada com o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, que, na quarta-feira, afirmara que o governo da Bolívia “é cúmplice” do tráfico de cocaína para o Brasil. Morales, já de mãos dadas com Lula, também riu, mas nada falou.
    José Serra, do PSDB e o principal candidato da oposição a presidente da República, na quarta-feira, respondendo a perguntas de jornalistas, afirmou que o governo boliviano faz “corpo mole” ao permitir que “de 80% a 90%” da cocaína que entra no Brasil venha “via Bolívia”. E Serra explicou: "É um problema de bom senso. Você acha que poderia entrar toda essa cocaína no Brasil sem que o governo boliviano fizesse, pelo menos, corpo mole? Eu acho que não", definindo sua avaliação sobre a conivência do governo boliviano de Evo Morales com o tráfico de drogas para o Brasil como “uma análise”, ressalvando: “Eu não fiz uma acusação”.
    Claro que não fez, nem podia, pois não tem o controle da Polícia Federal para conseguir as provas. Tem, contudo, a evidência e a lógica a seu lado. Morales foi eleito presidente como líder dos “cocaleiros”, os que cultivam a coca, matéria prima para a cocaína. Com os votos deles. Do antigo Império Inca, em toda a região pessoas guardam o hábito de mascar folhas de coca para se sentirem estimuladas e com “alto astral”. Para isto a natureza dá folhas suficientes, não precisa ninguém plantar. Os cocaleiros cultivam a coca para a fabricação da cocaína. E o presidente Evo Morales é o grande líder dos cocaleiros. E a Bolívia tem boa parte de sua economia baseada na lavoura de coca.
    Então, presidente Lula, o que significam suas cenas com Morales? E você, candidata Dilma Rousseff, porque fica tão brava com Serra se ele apenas fez “análise” óbvia e responsável, sobre tema tão relevante para a nação? Morales é um chefe de Estado e tal? É. Morales é o líder cocaleiro? É. E então? Não sabem disso o presidente e a candidata do PT? Vai ver, não sabem também que o crack é feito à base de cocaína.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.