Sábado, 22 de maio de 2010
Por Ivan de Carvalho

Há no episódio três fatos graves. O primeiro é que um dos multados – exatamente o que foi penalizado com a multa mais alta, certamente devido à intensidade da infração cometida – foi o presidente da República. Ora, uma pessoa neste cargo deve dar o exemplo de absoluto respeito à lei, o que não aconteceu, salvo melhor juízo do pleno do tribunal, no que não acredito.
O segundo fato grave é que esta é a quarta multa imposta pelo TSE ao presidente Lula. Todas elas por propaganda eleitoral indevida. Vale dizer, o presidente já é judicialmente tri-reincidente (a primeira multa, claro, não caracteriza reincidência) em burlar a legislação eleitoral para favorecer a candidata petista. Não são casos, portanto, de mera infração à lei, mas também de desrespeito tanto à responsabilidade do cargo que ele ocupa quanto ao exemplo que um presidente deve dar para a formação da cidadania.
O terceiro fato grave é talvez o mais perigoso e o que está a merecer uma reação enérgica de todas as forças sérias do país, o que, aliás, não tem acontecido, restando saber se essas forças estão intimidadas ou não são realmente sérias. O fato perigoso para o estado de direito é que o presidente resolveu levar na troça, na ironia, na piada sem nenhuma graça e muita desgraça, as multas que lhe foram aplicadas.
Em relação a uma das quatro multas, não à mais recente, mas de igual valor, exatamente R$ 10 mil, ele, de cima do palco ou do palanque, tratou de, perante os cidadãos e cidadãs que o ouviam, ávidos talvez de lhe seguirem os apelos e indicações de caminhos, ridicularizar a penalidade determinada pelo TSE. “Vamos fazer uma vaquinha”, gritou, ou mugiu, sei lá.
O que sei é que há poucos dias o TSE julgou uma reclamação contra programa de propaganda partidária do PT (dez minutos) que fizera “propaganda eleitoral antecipada” – o que é proibido – da candidata Dilma Rousseff. O TSE condenou o PT e aplicou-lhe a penalidade de perda do direito ao programa de propaganda partidária, de igual duração, do primeiro semestre de 2011, por ser o primeiro desse tipo seguinte ao julgamento.
Bem, se o TSE houvesse sido menos lento e feito o julgamento uns poucos dias mais cedo, o PT teria perdido o direito a fazer o programa de propaganda partidária seguinte ao julgamento, durante o qual Lula e Dilma fizeram escandalosos dez minutos de propaganda antecipada da candidata petista. Dá pra pensar sobre um hipotético mecanismo de retardo encrustado no TSE. Não sei a razão, mas lembrei-me do que disse há dias o ex-presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, reclamando do TSE estar sendo “compreensivo” com o comportamento de “altas autoridades” na campanha eleitoral e notando que o tratamento deve ser “igual para todos, de presidente da República a vereador”.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.