Sexta, 28 de maio de 2010
Por Ivan de Carvalho

Há situações, no entanto, em que há mais mortes de tiro. Ou de espadas, lanças, flechas, tacapes, machadinhas, facas e punhais. Sem esquecer queixadas de jumento e armas nucleares. No livro do Apocalypse, o último da Bíblia, são nomeados quatro exímios matadores, responsáveis pela eliminação de um terço da humanidade – a guerra, a fome, a peste e a saraiva.
Sobre a saraiva – “muito grande aquela saraiva”, por causa da qual os homens blasfemarão – a suposição principal é a de que será uma chuva de meteoros de até “um talento”, o que equivale a 40 quilos. Quanto à guerra, à fome e à peste, dispensam apresentação. Óbvio, no entanto, que na guerra estarão envolvidas armas nucleares, “no grande dia do Senhor, quando todos os ímpios queimarão como palha”, segundo profetiza Isaías. E a “peste” poderá ser uma referência às viróticas ou bacterianas, como poderá ser o efeito da radiotividade espalhada pelo conflito nuclear.
Cumpre avisar que outro terço da humanidade morrerá por outras causas, também discriminadas no mesmo e último livro da Bíblia. Mas não é o Fim do Mundo, somente o fim desta civilização. Um terço da humanidade sobrevive e construirá a nova civilização, deixa claro o livro do Apocalypse, palavra grega que se traduz por Revelação.
Bem, aí estão postas as questões da morte morrida e da morte matada. Ontem, assim como na terça-feira, escrevemos sobre insegurança pública, portanto sobre a morte matada. Aliás, para quem acredite no simbolismo aparentemente ingênuo da história de Adão e Eva, a primeira morte ocorrida na humanidade foi da modalidade morte matada – Caim matou Abel. Os governantes podem proclamar: não começamos.
Mas não é da morte matada que pretendo tratar hoje e sim da morte morrida. E das doenças. Para ser otimista, dos tratamentos e da cura. O que buscam os médicos e seus pacientes fazer, principalmente com medicamentos. Mas nem sempre a indústria farmacêutica busca a cura, que estanca o lucro, e por isto às vezes não é pesquisada ou é escondida, mas o tratamento permanente que lhe dá lucros até a morte do doente.
Bem, os medicamentos para uso humano, no Brasil, sofrem uma carga tributária de 35,07 por cento, carga que é totalmente repassada para o preço final ao consumidor-paciente. E haja paciência para agüentar isso sem quebrar as farmácias ou mudar os governantes. Medicamentos veterinários são tributados em 14,31 por cento, comprovando que o governo nos trata pior do que aos bichos ou morre de amores pelos donos dos bichos.
Aí, companheiro, vem uma candidata como a companheira Dilma Rousseff, com sete anos e meio de governo (ministra das Minas e Energia, depois ministra-chefe da Casa Civil e Mãe do PAC) e promete, em campanha eleitoral, que, se for eleita, vai trabalhar para reduzir (não diz em quanto) a carga tributária sobre os remédios. E sobre a energia elétrica, vejam só. Mas esse tempo todo que ela esteve no governo, nem se tocou. Se ela chegar ao governo cumprirá a promessa? Conclua você mesmo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan Lemos de Carvalho é jornalista baiano.