Sexta, 22 de março de 2013
No Congresso um grupo de mulheres andava pelos
corredores em que se localizam os gabinetes parlamentares. Cada uma das pessoas
com cara de brava maior que as demais, sobrancelhas franzidas, e cada qual
falando, e alto, somente consigo mesma.
Em outros corredores, também povoados de parlamentares, novo grupo, mas de homens, na maior agitação. Cada integrante gesticulava feito doido, e mais doido que todos os demais. Parecia que eles estavam numa disputada para ver quem mais imitava, gesticulava e se parecia com um doido.
Ainda nos labirintos da Câmara dos Deputados e do Senado, mais um grupo se deslocava. Os integrantes desta caravana não tinham a cara zangada, não franziam as sobrancelhas, e também não davam uma de louco em seus gestos. Mas estavam tensos, se sentiam ameaçados. Cada um levava nos bolsos uma pequena quantidade de dinheiro, e um ou outro integrante é que portava também cartão de banco.
Grupos semelhantes aos três anteriores, e no mesmo momento, encontravam-se em assembleias legislativas dos Estados, em câmaras de vereadores, em prefeituras brasileiras.
Não, nenhum desses grupos fazia parte de qualquer movimento político, de trabalhadores, de desempregados, de sem terras, de sem tetos, ou de sem nada.
Estavam as pessoas dos três tipos de grupos, seguindo rigorosamente as dicas de segurança recomendadas aos cidadãos pelas polícias estaduais, especialmente das dos Estados da Bahia e da Paraíba.
O grupo 1, o do parágrafo primeiro dessa postagem, seguia as dicas de segurança da polícia paraibana. Especialmente aquela publicada em site da corporação e que recomenda que se as mulheres se sentirem inseguras ao andar na rua, ou ao sair do banco com dinheiro na bolsa façam “cara de brava, franza as sobrancelhas, fale alto consigo mesmo”. Elas, por estarem no Congresso, território mas perigoso do que nossas ruas e becos, claro, se sentiam inseguras.
Integrantes do grupo 2 (parágrafo segundo dessa postagem) seguiam rigorosamente as dicas da polícia baiana, no sentido de que a pessoa ao ser sequestrada (daí se conclui que também em vias de ser vítima do ladrão) deve começar a “gesticular feito um doido”.
Os homens do grupo 3 (parágrafo terceiro dessa postagem), por sua vez, andavam nos corredores do Congresso com os cuidados recomendados aos baianos pela sua valorosa polícia. A recomendação é que se faz necessário levar o ”imposto do ladrão”. Claro que a polícia da Boa Terra não chegou a tanto, de dizer que o dinheiro que ela recomenda cada cidadão levar quando sai às ruas para não deixar o assaltante zangado seria um “imposto do ladrão”. Mas que é, é. A complementação da dica baiana é que a pessoa leve poucos cartões.
Pensando bem, essa situação fictícia relatada acima
e ambientada no congresso, nas assembleias, câmara e prefeituras, tornaria o
nosso país uma loucura (ou já seria?) se as dicas das várias polícias estaduais
fossem realmente seguidas à risca pelas pessoas.
Socorro, a polícia vem aí dando dicas de segurança!