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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 27 de maio de 2021

COVID-19 tem impactos “devastadores” na saúde das mulheres, afirma diretora da OPAS

Quinta, 27 de maio de 2021

Em uma coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (26), a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) chamou atenção para o próximo Dia Internacional de Ação sobre a Saúde da Mulher, celebrado em 28 de maio, e alertou para as consequências da interrupção contínua dos serviços de saúde prestados às mulheres no contexto da pandemia de COVID-19.

Para a diretora, o retrocesso poderia “destruir” mais de 20 anos de progresso na redução da mortalidade materna no acesso ao planejamento familiar na América Latina e no Caribe. Nesse cenário, o retorno aos níveis pré-pandêmicos de mortalidade materna pode levar mais de uma década.

Não é só em relação à saúde das mulheres que o quadro se mostra preocupante. Enquanto o número global de mortes em 2020 de COVID-19 quase está perto de três milhões de pessoas — quase o dobro do ano anterior, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) — a diretora da OPAS lembra que metade dessas mortes ocorreram nas Américas.

Quase todas as mortes maternas são evitáveis, mas os impactos da pandemia na saúde das mulheres é devastador

A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, advertiu para as consequências da interrupção contínua dos serviços de saúde prestados às mulheres devido à pandemia de COVID-19. Nas palavras da diretora, o retrocesso poderia “destruir” mais de 20 anos de progresso na redução da mortalidade materna e o aumento do acesso ao planejamento familiar na América Latina e no Caribe.

“Quero destacar os impactos devastadores na saúde e socioeconômicos que esse vírus tem nas mulheres”, disse Etienne, durante a coletiva de imprensa semanal da OPAS, realizada nesta quarta-feira (26).

As mulheres foram particularmente afetadas pelas interrupções dos serviços de saúde reprodutiva e materna. “De acordo com a indicação da ONU, até 20 milhões de mulheres nas Américas tiveram seu controle de natalidade interrompido durante a pandemia, seja porque os serviços não estão disponíveis ou porque as mulheres não podem mais pagar pela contracepção”.

A gravidez e os cuidados com recém-nascidos também foram interrompidos em quase metade dos países das Américas, revelou a diretora da OPAS. As mulheres grávidas são mais vulneráveis a infecções respiratórias como a COVID-19. Se ficarem doentes, tendem a desenvolver sintomas mais graves que exigem intubação, o que pode colocar em risco a mãe e bebê.

“Se isso continuar, espera-se que a pandemia destrua mais de 20 anos de progresso na expansão do acesso das mulheres ao planejamento familiar e no combate às mortes maternas na região”, afirmou Etienne. “Quase todas as mortes maternas são evitáveis e até mesmo o retorno aos níveis pré-pandêmicos de mortalidade materna, que já eram altos, pode levar mais de uma década.”

A taxa de mortalidade materna na América Latina e no Caribe diminuiu de 96 para 74 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos entre 2000 e 2017, uma redução geral de 23,1%.

Chamando a atenção para o próximo Dia Internacional de Ação sobre a Saúde da Mulher, celebrado em 28 de maio, Etienne disse: 

“Chamamos os países a fazerem exatamente isso - agir. Podemos começar garantindo que mulheres e meninas tenham acesso aos serviços de saúde de que precisam - como serviços de saúde sexual e reprodutiva e cuidados relacionados à gravidez e ao recém-nascido - durante a resposta à COVID-19.”

“Devemos lembrar que os desafios e as desigualdades que enfrentamos antes da COVID-19 não desapareceram durante a pandemia - eles apenas pioraram e não podem ser esquecidos. É por isso que devemos fazer da proteção da vida das mulheres uma prioridade coletiva”, acrescentou a diretora da OPAS.

Estabilização em níveis alarmantes - Etienne também falou sobre a afirmação da Organização Mundial da Saúde (OMS), na semana passada, de que o número de vítimas da COVID-19 foi gravemente subnotificado. “O verdadeiro número global de mortes em 2020 do COVID está perto de três milhões de pessoas - quase o dobro dos números notificados no ano passado”, disse. “É preocupante que metade dessas mortes tenha ocorrido aqui, nas Américas, demonstrando o impacto descomunal que essa pandemia teve em nossa região”. Na semana passada, mais de 1,2 milhão de novos casos de COVID-19 e 31 mil mortes foram notificados nas Américas.

“Esses números permaneceram inalterados nas últimas semanas, mostrando uma tendência preocupante: os casos e mortes estão se estabilizando em níveis alarmantes”, enfatizou Etienne. “Na verdade, na semana passada, quatro dos cinco países que notificaram o maior número de novas infecções estavam aqui, em nossa região, e os países da América Latina representaram as cinco maiores taxas de mortalidade em todo o mundo.”

Aumentos de casos foram registrados em países da América Central, incluindo Costa Rica, Panamá, Belize e Honduras, onde os leitos de UTI têm mais de 80% da capacidade preenchida. No Caribe, Trinidad e Tobago declarou emergência nacional após um recente surto de COVID-19. Cuba continua registrando um aumento significativo e São Vicente e Granadinas ainda estão passando por picos depois que as pessoas foram transferidas para abrigos devido a erupções vulcânicas recentes. “Também estamos preocupados com o aumento das tendências de hospitalizações no Haiti”, observou a diretora da OPAS.

Na América do Sul, as novas infecções diminuíram no Chile, Peru e Paraguai. Mas Uruguai, Argentina e Brasil, depois de experimentar progresso por várias semanas, estão vendo mais uma vez um aumento nos casos. A Bolívia está notificando um aumento dramático nos casos e mortes e a Guiana está enfrentando o maior volume de casos e mortes desde o início da pandemia.

Fonte: ONU Brasil