Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 16 de maio de 2021

A Malufada de Ibaneis

Domingo, 16 de maio de 2021

Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna

A doação, em agosto de 2020, de 22,5 mil equipamentos de proteção individual (EPIs), usados por profissionais de Saúde, ao município piauiense de Corrente, onde o governador Ibaneis Rocha passou a infância, e agora a alocação de R$ 7 milhões do “orçamento paralelo” para três cidades piauienses pode ter motivações que vão além de uma preocupação com municípios mais pobres do Brasil.

Por Chico Sant’Anna

O nome Ibaneis é uma variação de Ibañez, termo castelhano, originário no Latim e que significa, segundo dicionários epistemológicos, o adaptado, aquele que se adaptou. Em seu primeiro mandato como político, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, parece ter se adaptado rapidamente às regras do campeonato. Esta semana, a imprensa trouxe a público que o governador do Distrito Federal destinou a municípios do Piauí cerca de R$ 7 milhões, de R$ 15 milhões que lhe foram aquinhoados pelo Ministério da Integração Regional. Dinheiro para aplicar em melhorias de rodovias, escoamento e aquisição de maquinários. Que motivos levariam um político de um estado a deixar de investir na sua própria base e levar bens e recursos para outro Estado? Para se obter a resposta, talvez o caminho seja voltar no tempo. Afinal, o mundo da política dá voltas.

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É dificil saber exatamente quantas ambulâncias Paulo Maluf distribuiu Brasil afora. Há quem fale em centenas e até em mihares. No facsimile acima, em um só decreto ele distribuiu dezenove ambilâncias para cidades de Sergipe, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco e Piauí.

Na década de 80, quando o Brasil vivia os estertores da ditadura militar, o ex-governador e ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, então filiado à Arena, o partido de sustentação dos militares, montou sua estratégia para chegar à presidência da República fazendo doações a Estados e municípios não paulistas, notadamente, de ambulâncias.

Maluf, com essa estratégia, tinha interesse em ganhar a simpatia de prefeitos e governadores para, primeiro, ser escolhido no âmbito da Arena candidato à sucessão do general João Figueiredo. Com essa tática, se sobrepôs às ambições de Hélio Beltrão, então ministro da Previdência Social, Murilo Macedo, ministro do Trabalho, o coronel Mário Andreazza, ministro do Interior e o próprio vice-presidente de Figueiredo, Aureliano Chaves. Maluf venceu a convenção situacionista e acreditava que as benesses viabilizaria o apoio dos integrantes do colégio eleitoral que iriam escolher o futuro presidente – já que a emenda das Diretas Já não vingou no Congresso.

O colégio eleitoral era formado pelos parlamentares federais e delegados de cada Assembleia Legislativa dos Estados. Daí a importância para Maluf da sua diplomacia eleitoral adoçada com ambulâncias e outros regalitos. A tática não deu certo. A Arena rachou, nasceu o PDS e o PFL, e desse racha saiu o apoio necessário à vitória de Tancredo Neves, candidato do MDB, onde hoje está Ibaneis Rocha.

Presentes para o Piauí