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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Arte, Cultura, decepção, abandono, desprezo

Segunda, 23 de novembro de 2009

Imagem de gamalivre.com.br em 21-11-2009
Festival de cinema no Gama atrai pouca gente, tem tela pequena e está sendo realizado na rua.

A foto acima revela parte do quadro de penúria a que foi levada a cultura na cidade do Gama. O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que todo ano acontece, era realizado também no Cine Itapuã, no Gama. Pelo desprezo com que as autoridades do DF têm tratado a área da cultura, o festival deste ano no Gama está sendo realizado no meio de uma praça, em instalações que deveriam envergonhar qualquer governo, e deixar corados os deputados distritais que se consideram da cidade, especialmente aqueles dois que se encontram, pelo menos até hoje, na base parlamentar do governador.
Antes o Cine Itapuã enchia durante a realização do festival. Pessoas ficavam sentadas nos corredores, prestigiavam o evento em todos os dias. Hoje, abnegados tentam fazer o que podem, mas a precariedade do local de exibição não ajuda. Tela de projeção pequena, cadeiras de plástico como as usadas em botecos, equipamentos em cima de mesas improvisadas, som horrível, por ser em espaço aberto.
O resultado é público diminuto, quase que inexistente, para assistir a alguns filmes curtas-metragens. É o retrato do misto de incompetência e desprezo pela cultura na cidade. Sábado (22/11), por exemplo, apesar do clima bom, sem chuva ou muito frio, cerca de 40 pessoas se encontravam sentadas vendo os filmes. Existia mais um mesmo tanto em pé, perambulando por barracas de cachorro-quente e papos paralelos aos diálogos que aconteciam nas fitas exibidas na telinha.
Enquanto isso acontece, outras coisas não acontecem. Não acontece, por exemplo, a votação na Comissão de Assuntos Sociais (Cas) da CLDF de projeto de lei que tornaria o Centro Cultural Itapuã em patrimônio arquitetônico, afetivo e cultural do Distrito Federal, considerando-o de “excepcional valor artístico” e a sua conservação “de relevante interesse público”. Seria a salvação para o Centro Cultural Itapuã.
Mas tal projeto dorme há mais de cinco meses no gabinete do deputado Wilson Lima, fato que tem decepcionado artistas e outras pessoas ligadas à arte e cultura no Gama. O projeto de lei, depois de receber parecer favorável do deputado Milton Barbosa, teve pedido de vistas de Wilson Lima, deputado eleito com grande apoio do Gama. Enquanto o projeto dorme em suas mãos, a arte e a cultura agonizam na cidade, o Festival de Cinema que é apresentado na cidade é um fiasco por não ter instalações adequadas para as apresentações. Artistas não contam com o espaço Cultural Itapuã, nem com o acanhado Galpãozinho. Até as instalações da Associação dos Artesãos do Gama foi abandonada pelo poder público, sendo hoje refúgio para moradores de rua e depósito de lixo, urina e fezes, tudo isso no coração da cidade do Gama, a menos de 800 metros da Administração Regional.
A Biblioteca Pública foi transferida temporariamente para o pequeno e inadequado prédio que era usado pela Receita do DF, localizado atrás do Centro Cultural Itapuã. Na época prometeram a imediata recuperação do antigo prédio da biblioteca junto à rodoviária da cidade. Nada até agora foi feito, a não ser o fato de que pelo menos nos próximo dois anos tal prédio não será devolvido à biblioteca. Será usado, inclusive por força de lei aprovada na CLDF, por um instituto que ministra cursos profissionalizantes. Importantes cursos, sem dúvida. Mas tinha que ser nas instalações da Biblioteca? É aquela tal coisa de cobrir um santo descobrindo outro. A biblioteca que espere o novo governo tomar posse em janeiro de 2011, se é que novo governo terá alguma sensibilidade para a cultura.
Numa atividade como a desenvolvida na praça do Cine Itapuã, ou seja, a versão do Gama do 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, sempre há espaço para “babação”. Quando não há espaço espontâneo, há espaço cobrado. Causou estranheza a várias pessoas presentes  no evento as faixas estendidas no espaço da improvisada “sala” de projeção ao ar livre. Era um oba-oba a parlamentares, fosse distrital ou senador. Numa mensagem em faixa exposta no local o nome do combativo Conselho de Cultura do Gama foi  indevidamente usado, pois nem sequer tal conselho havia se reunido para discutir “agradecimento” a qualquer político. Na grande faixa, que não se sabe exatamente mandada colocar por quem,  mas desconfia-se, a frase de agradecimento ao governador “pelos investimentos na cultura”. A faixa, acredito, seria de protesto, pelo que conheço do Conselho de Cultura do Gama.  Seus autores intelectuais - da faixa - certamente fecham os olhos ao passarem pelo Cine Itapuã, pelo Galpãozinho, pela Associação dos Artesãos do Gama, e pela Casa de Cultura do Gama (coisa que até agora não saiu do papel). Veja abaixo fotos dos locais de cultura do Gama, todos eles abandonados. Agradecimentos por quê?

Imagem de gamalivre.com.br em 21-11-2009
Galpãozinho, o pequeno teatro do Gama, há muito fora de combate.



Imagem de gamalivre.com.br em 21-11-2009 
Coluna enferrujada que "sustenta" o prédio da Biblioteca Pública.


Imagem de gamalivre.com.br em 21-11-2009
Interior do prédio da Associação dos Artesãos do Gama. Lixo, urina e fezes. Retrato do abandono pelas autoridades.


Imagem de gamalivre.com.br em 21-11-2009
Símbolo da Sabedoria, a coruja resiste em seus domínios territoriais na Biblioteca Pública. Se ela entendesse o que se passa com a biblioteca...