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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Doenças parecidas, tratamentos diferentes

Segunda, 30 de novembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda e seu vice, Paulo Octávio, divulgaram no início da noite de ontem uma nota em que se defendem de acusações resultantes da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.
Qualificam de “torpe vilania” de um ex-colaborador – que teria apresentado uma “versão mentirosa” dos fatos – o recebimento de dinheiro que, na versão da PF e de ex-colaborador seria para caixa de campanha eleitoral e corrupção e na versão do governador e vice, para ações sociais, a exemplo da distribuição de panetones.
O vídeo apresentado, em que Arruda recebe dinheiro, é de 2005, antes de sua eleição para governador, embora haja informações de que há outros vídeos. Mas não estou escrevendo aqui na Bahia para esmiuçar a política do Distrito Federal.
Importo-me muito mais com uma visão mais ampla do drama pelo qual passa o surpreendente e controvertido governador, que se recuperara quase milagrosamente (milagrosamente não terá sido, pois Deus, sabendo o futuro, não teria feito tal milagre) do caso da violação do painel eletrônico do Senado para bisbilhotar quem votou como na cassação do então senador Luiz Estêvão.
Arruda, então do PSDB e líder do governo FHC no Senado, jurou por pais, filhos e netos que nunca vira a lista dos votos, para no discurso seguinte admitir que recebera, sim, em um envelope, a tal lista.
    Arruda saiu do PSDB, ingressou mais tarde no DEM e elegeu-se governador do Distrito Federal. Dirão alguns que os votos lavaram e levaram o lixo. Sei não. Mas agora ele, que seria candidato à reeleição, aparece sob forte suspeita, não quanto a reincidência na violação de votação secreta, mas de corrupção.
    Hoje a cúpula do DEM se reúne com Arruda, o único governador do partido no país, para ouvir suas explicações. Oficialmente, informa o Democratas que se as explicações não forem satisfatórias (se forem, tudo bem), Arruda terá a opção de sair espontaneamente, cancelando sua filiação, para não ser expulso. “O partido lhe dá crédito, mas as preocupações são grandes. Ele deve se defender, mas, se não conseguir se explicar, aí devemos partir para a solução extrema que é a expulsão", disse o senador Demóstenes Torres, democrata de Goiás. Nos bastidores, a conversa é outra: Arruda sai do DEM, por bem ou na marra.
    Creio que vale uma comparação. O PT – junto com alguns dos partidos aliados – envolveu-se profundamente com o escândalo do Mensalão, envolvendo figuras de proa da legenda. Até dólares na cueca houve. Mas manteve filiados seus “mensaleiros” e o presidente Lula ainda se deu ao luxo de apoiar para prefeito o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, o do Mensalinho. Aí, aparece a ministra e candidata a presidente da República Dilma Rousseff, defendendo a volta dos mensaleiros petistas à política. Doenças parecidas, tratamentos diferentes.

Este artigo foi publicdo originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano