Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Dilma falou

Sexta, 13 de novembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
O ministro da Minas e Energia, Edson Lobão, e sua antecessora no cargo, Dilma Rousssef, hoje ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República e candidata do PT à sucessão presidencial consideraram ontem “caso encerrado” o incidente do apagão que atingiu 18 Estados na noite de terça e madrugada de quarta-feira.
Interessante é que Dilma Roussef, mesmo tendo comandado o Ministério das Minas e Energia durante vários anos e ocupando atualmente o segundo maior cargo em importância e poder na administração federal, cargo do qual exerce uma espécie de coordenação sobre o governo e também sobre a execução do PAC (que inclui obras no setor de energia elétrica), não dera um piu sobre o apagão antes de considerá-lo “caso encerrado”. Ela só falou para dar o suposto ponto final do “caso encerrado”, ante uma cobrança que se levantava de que ela devia pronunciar-se e dar explicações sobre as causas – principalmente as remotas – do blecaute.
    Politicamente, interpretou-se o mutismo da ministra-candidata até a 25º hora a uma atitude de preservação política. Não falando sobre o apagão, omitindo-se totalmente, ela evitaria ser contaminada pelo evento. O ministro Lobão, do PMDB e afilhado político do senador José Sarney que se lixasse para dar explicações sobre o que não sabia ou pelo menos não tinha certeza, só hipóteses ou probabilidades.
Até mesmo o presidente Lula deu uma infeliz entrevista coletiva para várias dezenas de jornalistas, na manhã de quarta-feira. Ele ia se saindo razoavelmente bem, na medida em que advertiu que não daria explicações sobre o que não sabia e revelando que até aquele momento o que sabia era que não houve interrupção da geração de energia em Itaipu e que não foi por falta de interligação do sistema que o incidente aconteceu.
E foi então que esbuguelou a própria estrevista. Disse que além disso nada poderia dizer, porque “não vou chutar”, concluindo espetacularmente: “Não chuto nesse assunto”. Ora, as palavras presidenciais foram anotadas pelos jornalistas, foram gravadas, ele foi filmado dizendo-as, emissoras colocaram a declaração final em suas transmissões imediatas, após o que a mídia parece ter encerrado a questão dos chutes.
Mas encerrado como, se o presidente da República afirma que “nesse assunto eu não chuto”, deixando implícito (involuntariamente, claro) que, em outros, chuta? Qual a misteriosa razão que impede a mídia de questionar ou até pedir ao presidente que esclareça em que assuntos ele chuta (além do futebol)?
Será que também não chutam nesse assunto do apagão o ministro Lobão e a ministra Rousseff, quando declaram o incidente “caso encerrado”, isto é, esclarecido? A dupla ministerial recorreu, como quase invariavelmente se recorre nesse tipo de caso, a “ventos, raios e chuvas” para explicar o apagão, mas o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo e toda a torcida do Flamengo dizem ser necessária uma “explicação cabal” à sociedade. É o que se aguarda.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano