Sexta, 25 de fevereiro de 2011
Por Ivan de Carvalho

De outro lado, o PMDB raciocina que não chegou ainda o momento de retaliar, pois a presidente Dilma Rousseff acaba de obter nas urnas o seu mandato e está, assim, protegida, além do poder inerente ao cargo que ocupa, pelo manto do apoio popular. Estes dois fatores são fortíssimos elementos para a manutenção de uma base partidária e parlamentar fiel e submissa.
Tais
circunstâncias – o poder do cargo, a manifestação eleitoral muito recente e a
fidelidade submissa de todos os outros setores da base parlamentar e política
do governo – levam o PMDB, por sua vez, a encher-se de cautelas e não lançar
desafios nem mostrar as unhas (ou garras?) antes que o governo sofra um certo
desgaste, o que parece razoavelmente provável, quando se considera a herança bendita deixada pelo antecessor
e com a qual a presidente terá de lidar. Mas, se acontecer, exigirá tempo.
Enquanto
esse tempo não passa e o desgaste do governo não se materializa, o PMDB espera
e vai se enchendo de raiva como o sapo-boi se enche de ar. Se, nessa situação,
esperar demais, pode ter o mesmo destino não raro reservado ao batráquio –
explodir, numa idiota autodestruição, enquanto supõe que crescer à base de um
enchimento de nada vai assustar o predador.
Não
assusta, porque o predador já conhece bem sua presa. Que se entregou de mãos e
pés atados na presunção, alimentada à base de promessas que não se cumprem, de
que seria um participante privilegiado do poder, do qual este não poderia
prescindir, enquanto ele, o PMDB, poderia ameaçar, chantagear, rebelar-se, até
passar para o outro lado, juntando-se a Aécio Neves e sua candidatura a
presidente.
Aliás,
passar para o outro lado exigiria ao PMDB renunciar às “boquinhas” que o
governo do PT lhe tem permitido ocupar, o que não fará facilmente nem sem uma dolorida
emoção. Mas não só isto.
A
outra grande dificuldade de passar para o outro lado, composto pelo PSDB,
Democratas e PPS, além, supõe-se, do PV e do Psol, é que esse outro lado saiu
muito fragilizado das urnas e está ensaiando, pelo menos no PSDB e no DEM – as
peças principais –, guerras civis. Além disso, parece impossível que o PMDB
demonstre, numa eventual passagem para o “outro lado”, a impecável unidade com
que se apresentou na votação do salário mínimo proposto pelo governo na Câmara
dos Deputados.
E
enquanto o PMDB espera para ver o que mais de cargos de segunda ou terceira
classe lhe será concedido, bem como o momento propício para demonstrar sua
insatisfação em alguma ou algumas votações no Congresso, até o que o partido ia
conseguindo por sorte ou esforço próprio lhe foi tirado.
Para
ser mais claro: Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo – maior cidade do Brasil
e terceiro maior orçamento público do país – vai deixar o DEM e combinara com o
ex-presidente do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, que é do
PMDB paulista, ingressar na sessão estadual do partido para ser candidato a
governador em 2014. O PMDB foi destruído em São Paulo, não tem
sequer um deputado federal e só tem um estadual. Orestes Quércia morreu. Kassab,
talvez, para o PMDB paulista, (meu Deus dos céus) a ressurreição e a vida. Aí a
presidente Dilma pediu a ele para esquecer o PMDB e ingressar no PSB. Deverá
ser atendida, do que estão à vista todos os sinais.
É
preciso mais do que isto pata ter certeza do que o governo e o PT planejam para
o PMDB?
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano