Terça, 20 de abril de 2011
Por Ivan de Carvalho

Só para lembrar,
os europeus fizeram suas viagens inaugurais ao Brasil em caravelas, só
recentemente os saveiros deixaram de ser vistos todo o tempo cortando as águas
da Bahia de Todos os Santos e atracando junto à rampa do Mercado Modelo. Outros
tipos de barcos à vela e de balões atmosféricos movidos pelas correntes de ar
continuam em plena moda em quase todo o mundo.
Mas
automóvel, não. Isso só existe na cidade de Brignoles, na França. O automóvel
que usa como combustível o ar, no estágio de desenvolvimento em que está, tem
80 cavalos de força, velocidade máxima de 150 quilômetros e
autonomia de 300
quilômetros, após o que o tanque precisa ser
reabastecido.
Mas de graça.
É só chegar a uma bomba de ar compromido, daquelas usadas para encher pneus, na
garage de casa, no borracheiro ou nos postos nas cidades e estradas e pronto.
Nos postos, haveria para se pagar apenas a energia usada pela bomba de ar e o
serviço do frentista – uma pechincha, portanto. Mas suspeito que, no Brasil, se
algum dia aqui chegar esse veículo, logo o governo cuidará de enviar ao
Congresso projeto de lei ou medida provisória, tributando o “ar veicular”. E aí
adeus aquele tradicional anúncio que muitos postos e bombas de gasolina usavam
– “Água e ar grátis”.
De acordo com
a reportagem, algumas cidades já demonstraram seu interesse no automóvel movido
a ar. Paris, Cidade do México, Hong Kong, Roma, Cairo. O avanço é enorme sob o
aspecto ambiental. O veículo movido a diesel ou gasolina, ou, ainda que menos,
a etanol, é altamente poluente. O ar que sai do motor de um automóvel movido a
gasolina tem, se o motor estiver bem regulado, nove por cento de oxigênio. O ar
que sai da descarga do protótipo do automóvel movido a ar tem 21 por cento de
oxigênio – o percentual normal desse gás no ar.
E o automóvel
a ar não produz monóxido de carbono nem dióxido de carbono. Além disso, o ar
sai livre ou menos carregado de outras impurezas que continha quando entrou no
motor, pois há um filtro para cuidar disso. O automóvel movido a ar será
lançado inicialmente só como táxi.
Mas o que é
que impediria que, uma vez suprida a frota de táxis, seja progressivamente – na
medida da produção, que poderia ser assumida pelas grandes montadoras mundiais,
e da demanda (poderia ser vedada mundialmente a fabricação de automóveis e
outros veículos automotores que não fossem movidos a ar) – substituída toda a
frota atual de automóveis e similares?
Ah, sim, uma
coisa impediria sim. E vai impedir. O grande, imenso negócio do petróleo, que
até dispensa a citação do etanol, mais chamado simplesmente de álcool no
Brasil. As empresas de petróleo, orgulho do capitalismo e do “socialismo”, a
depender das mãos em que estejam, mas sempre sugismundas. Bem que elas
gostariam de vender ar, mas... E as empresas que vendem insumos para as
empresas de petróleo. E os acionistas de umas e outras? E os países que vivem
de exportar petróleo, com seus governantes. Onde iriam parar Hugo Chávez,
Muammar Gaddafi, Mohammad Rafsanjani, entre tantos outros, muitos outros.
O motor do
automóvel movido a ar tem apenas dois cilindros. Eles controlam a saída do ar
comprimido previamente injetado no “tanque” e o ar que entra espontaneamente do
meio ambiente. Quando os dois jatos de ar se encontram, a temperatura vai a 400
graus Celsius. E isso faz o motor trabalhar. Energia barata, limpa e sem os
riscos, por exemplo, das usinas nucleares. O que estão esperando?
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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