Quarta, 6 de
novembro de 2013
Por Ivan de Carvalho

De acordo com o 7º Anuário Brasileiro
de Segurança Pública, divulgado esta semana, foram registrados 50,6 mil casos
de estupro em 2012, representando 26,1 estupros por grupo de 100 mil
habitantes. No ano anterior, foram 22,1 casos registrados de estupro para o
mesmo contingente de 100 mil habitantes.
“Sabemos que estes registros são,
infelizmente, subestimados”, disse a presidente no Twitter, revelando o óbvio e
garantindo que o governo dela é “defensor intransigente da igualdade de
direitos entre mulheres e homens”, não esclarecendo o que, exatamente, isso tem
a ver com estupros, mas acrescentando, à guisa de explicação, que “lutamos
incansavelmente contra a violência que atinge as mulheres”, o que já tem a ver.
Anunciou,
pela terceira vez desde março – quando se comemorou o Dia Internacional da
Mulher – a construção de unidades do projeto Casa da Mulher. “Ao longo desta
semana” serão publicados editais para a construção de Casas da Mulher em 26
capitais. De providências objetivas, ainda que apenas no papel, só mesmo esses
editais.
A presidente chegou a ser didática: “A
violência contra a mulher é uma vergonha que a sociedade brasileira precisa
superar. Para isso é necessário: o fim da impunidade dos agressores, o combate
implacável ao preconceito sexista, o respeito às diferenças e o apoio e
acolhimento às vítimas”.
Observem-se
os itens relacionados por Dilma Rousseff como necessários para superar a
violência contra a mulher no Brasil: 1) fim da impunidade dos agressores; 2)
combate implacável ao preconceito sexista; 3) respeito às diferenças; 4) apoio
e acolhimento às vítimas.
Note-se
que, dos quatro itens relacionados (há outros, muitos, necessários para a
sociedade superar o problema da violência contra a mulher, mas não foram
arrolados na lista presidencial), somente o “respeito às diferenças” diz
respeito, prioritariamente, à sociedade e, secundariamente, ao Estado. Quanto
aos outros três itens, são prioritariamente da responsabilidade do Estado. No
qual pontifica a presidente da República.
As
más línguas poderão dizer que os editais e eventualmente as Casas da Mulher que
deles surgirem em 26 capitais (uma em cada capital?) são mais uma jogada de
marketing da campanha eleitoral antecipada.
Mas
eu jamais diria isso. Ao meu ver, a mensagem dela pelo Twitter lembra a
história daquele piloto de avião que entra numa turbulência e, alarmado,
esgoela-se em gritar para os passageiros: “Pânico, pânico”.
A
presidente, depois de dez anos, dez meses e cinco dias de governo do PT, sai
como uma cavaleira andante, de lança em riste, atacando seu próprio governo,
talvez confundido com um moinho de vento. Explicando melhor: atacando uma situação
de crescimento de índices de estupros registrados que tem raízes profundas na
sociedade, mas crescem sob o estímulo do aumento da violência geral, da
insegurança e da impunidade que o governo comandado por esse partido não teve
vontade ou capacidade (talvez as duas coisas) de conter.
Pelo
menos, por enquanto. Pois ainda dispõe de um ano, um mês e 24 dias.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.