Quinta, 23 de julho de 2015
Vladimir Platonow - Repórter da
Agência Brasil
O Brasil registrou 10.136 assassinatos de jovens entre 11 e 19 anos em
2013, em média 28 mortos por dia, o que equivale a 3,5 chacinas da Candelária
perpetradas diariamente, de acordo com o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz,
autor do estudo Mapa da Violência e coordenador da Área de Estudos sobre
Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
A chacina da Candelária ocorreu na noite de 23 de julho de 1993, deixando
mortos oito jovens de 11 a 19 anos, em frente à Igreja da Candelária, no centro
do Rio. Os autores foram PMs e as vítimas eram moradores de rua que
freqüentavam as imediações da igreja e dormiam no local.
Waiselfisz falou na abertura da audiência pública Jovens Vítimas da
Violência e Justiça Reparadora para os Familiares, realizada na sede do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio. Segundo ele, o
perfil das vítimas jovens que sofrem violência é de cor negra, pobre e pouco
escolarizado e os índices vêm aumentando a cada ano.
“Os índices de violência nesta faixa etária [11 a 19 anos] foram
crescendo drasticamente ao longo desses anos. Entre 1993 e 2013, praticamente
quadruplicaram os níveis de violência. A chacina da Candelária foi a ponta de
um iceberg que já existia no Brasil”, disse o sociólogo, durante a audiência
pública, com a presença do ministro Pepe Vargas, da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República.
De acordo com os dados nacionais apresentados por Waiselfisz, o índice de
jovens negros, entre 16 e 17 anos, mortos no ano de 2013, é de 66,3 por 100 mil
habitantes. O de jovens brancos, na mesma faixa etária, é de 24,2 por 100 mil.
Quanto à escolaridade, 82% das vítimas de assassinatos no país tinham até
sete anos de estudo, o que equivale ao nível fundamental. Na faixa etária de 16
e 17 anos, 93% dos mortos são homens.
Pepe Vargas destacou que os números são um alerta de que as chacinas não
cessaram: “A violência sobre adolescentes e jovens aumentou no Brasil nesses
últimos anos. Precisamos fazer um grande pacto nacional pela redução de
homicídios. O governo está discutindo, sob a coordenação do Ministério da
Justiça, uma proposta para a construção deste pacto”.
Pepe Vargas prometeu “ter um foco sobre adolescentes e jovens, que têm
sido mais vítimas de violência do que causadores dela. Principalmente, temos
que fazer um debate intenso, não apenas em âmbito federal, mas envolvendo os
governos estaduais, municipais e a sociedade como um todo”.
Os dados completos do estudo Mapa da Violência 2015 podem ser acessados
no endereço www.mapadaviolencia.org.br.