Sábado, 28 de outubro de 2017
Por José Carlos de Assis
Não
temos mais crise no país, e sim a esbórnia, a putaria, o salve-se quem
puder. Michel Temer conseguiu misturar seus odores putrefatos de
criminoso comum com o fedor condescendente da maioria do Congresso. Mas
não é tanto isso que importa. Importam, sim, a exibição da utilização
abusiva da máquina pública para comprar votos com cargos de governo,
ministérios, emendas parlamentares, tudo para impedir a investigação
criminal, tudo apresentado pela indefectível Rede Globo como atividade
política normal.
Afinal,
o que é obstrução da Justiça? Não seria obstrução de Justiça a compra
de votos na Câmara para impedir a investigação dos crimes de Temer
denunciados pela Procuradoria Geral da República? Onde está a corporação
de juízes e de promotores, tão prontos a se insurgirem com veemência
contra o projeto de lei do abuso de autoridade, quando se revelam
cinicamente indiferentes ao crime que se comete contra o povo e contra a
Nação nesse espetáculo dantesco de carnificina de todos os valore s da
República? Há maior abuso de poder do que o feito por Temer na
despudorada compra de votos na Câmara?
A
permanência de Temer é um risco para a Nação porque no curto período
que lhe resta ele pode vender a mãe para atender os interesses das
multinacionais do petróleo e da energia, como está acontecendo neste
momento com o pré-sal, ou os interesses do “mercado”, como é o caso da
Previdência. Nossa esperança é que a pequena rebeldia observada na
Câmara sinalize um limite para as ações da quadrilha do Planalto. Se
isso acontecer, a eventual saída, cassação ou impeachment são
indiferentes. Nos encontraremos com a quadrilha em 2018 com boas
perspectivas.
A
política, arte de organização dos homens e da Nação, é a mais nobre das
atividades. Mas quando ela cai nas mãos de quadrilheiros toda a moral
pública desaba. Roubar, agredir, matar, mentir, manipular, desconhecer
critérios de educação e perder o sentido de solidariedade, tudo passa a
ser lugar comum, ou normal. Nesse contexto, floresce o neoliberalismo -
ou simplesmente liberalismo (como costuma de corrigir o senador Roberto
Requião) -, quando se entende a liberdade como ausência de limites. A
isso se contrapõe a democracia, situação em que a sociedade, desde que
ausente a manipulação da mídia, estabelece os próprios limites. É essa
liberdade democrática que está sendo degradada na era Temer. Estamos no
jogo duro em que as classes dominantes e as elites dirigentes não tem
qualquer limite na sua atuação, exceto o que se pode esperar da
incipiente rebeldia de parte da Câmara e do Senado ou o que vier a ser
imposto nas eleições dos próximo ano.
Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical