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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 16 de julho de 2019

Diretora da Anistia Internacional fala sobre conquistas e desafios da população negra no Brasil

Terça, 16 de julho de 2019
Da
ONU Brasil
Em entrevista ao Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para ocasião do Dia Mundial da População (UNFPA), a diretora-executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, fala sobre as conquistas e desafios da população negra no Brasil, em especial meninas e mulheres.
“Convivi com várias gerações de mulheres negras da minha família (bisavó, avós, mãe e tias, primas, sobrinhas). Nunca houve oportunidades, mas conquistas — e as gerações mais novas sempre usufruíram mais do que as anteriores. Entre todas, as mais novas e as mais velhas, sou a que teve acesso a mais espaços e possibilidades, a partir das conquistas feitas”, declarou. Leia a entrevista completa.
Jurema Werneck é diretora executiva da Anistia Internacional. Foto: Anistia Internacional
Jurema Werneck é diretora executiva da Anistia Internacional. Foto: Anistia Internacional
Diretora-executiva da Anistia Internacional, a ativista brasileira dos direitos humanos Jurema Weneck é doutora em Comunicação e Cultura e graduada em Medicina. Como membro do Conselho Consultivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), foi convidada, para a ocasião do Dia Mundial da População (11 de julho), a refletir sobre as questões ainda abertas dos compromissos firmados pelos países durante a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo em 1994.

A campanha do UNFPA “Mais que minha mãe, menos que minha filha” busca responder a essas questões e celebrar os 25 anos da CIPD, que representou uma mudança de paradigma na forma como os direitos reprodutivos passaram a ser abordados no mundo. Na ocasião, mais de 170 países adotaram um plano de ação inovador que passou a orientar as políticas públicas a partir do prisma dos direitos humanos, das escolhas individuais e do empoderamento feminino.
UNFPA: Na sua visão, quais oportunidades de trabalho, educação e renda você teve e sua mãe não pôde ter? Por quê?
Jurema Werneck: O acesso a quaisquer oportunidades de desenvolvimento, de qualquer espécie, num país em que o racismo patriarcal heteronormativo é mediado por sua raça/cor, identidade de gênero, classe social, região geográfica onde nasceu ou vive etc. Isso significa dizer que não existem oportunidades disponíveis, mas conquistas a serem alcançadas a partir do esforço de muitas e muitos e, às vezes, de comunidades inteiras. Convivi com várias gerações de mulheres negras da minha família (bisavó, avós, mãe e tias, primas, sobrinhas). Nunca houve oportunidades, mas conquistas — e as gerações mais novas sempre usufruíram mais do que as anteriores. Entre todas, as mais novas e as mais velhas, sou a que teve acesso a mais espaços e possibilidades, a partir das conquistas feitas.
UNFPA: Seus filhos e filhas, caso tenha ou pretenda ter, podem ter oportunidades ainda melhores que as suas?
Jurema Werneck: Não tenho filhos. Tenho sobrinhos e sobrinhas. Em termos materiais, de acesso a informação e possibilidades de desenvolvimento, eles e elas têm muito mais acesso do que minha a geração e as anteriores.
UNFPA: O que você deseja para os seus sobrinhos e sobrinhas?
Jurema Werneck: Quero que o racismo patriarcal heteronormativo não tenha um impacto tão devastador na vida deles e delas como teve na vidas de todas e todos nós que viemos antes. Que tenham mais chances, que encontrem mais portas abertas e menos violência e menos desafios e barreiras materiais e simbólicas.
UNFPA: Acha que seus sobrinhos e sobrinhas têm mais liberdades e direitos?
Jurema Werneck: Em uma sociedade desigual, com forte presença do racismo patriarcal heteronormativo, é muito difícil pessoas e a população negra experimentarem liberdades ou direitos. Mas temos avançado nas lutas para ampliar os espaços e liberdades (que seguem ameaçados!)
UNFPA: Sobre prevenção e métodos contraceptivos, você costuma utilizar algum? Isso já faz parte da sua cultura?
Jurema Werneck: Faz parte das lutas por direitos e saúde das mulheres. Mas não vivi a necessidade de usá-lo, devido à minha orientação sexual.
UNFPA: Acha que a geração da sua mãe era diferente da sua no acesso aos métodos de contracepção? Quais os principais motivos para isso?
Jurema Werneck: Sim. Não havia políticas públicas para isto. Hoje há, ainda que enfrentem muitas barreiras.