Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Sobre a conjuntura e o protagonismo do PSOL

Quinta, 19 de outubro de 2017
Do blog O Real não se vê

Por Nildo Ouriques

Carta aos militantes do PSOL (II)*

A crise brasileira se aprofunda e o regime político exibe todos os dias sua podridão. A recente absolvição de Aécio Neves no senado e, da mesma forma, as sucessivas compras de votos e negociatas do liberal Temer para se manter no Planalto, revelam claramente que nada podemos esperar de um parlamento repleto de ladrões e corruptos. Na economia, o desemprego elevado e os baixos salários condenam milhões ao abismo social. No entanto, a rapinagem sobre o Estado, as privatizações, os subsídios, a isenção de impostos, o perdão e/ou refinanciamento a longo prazo de dívidas de empresários e latifundiários engordam a burguesia brasileira. Não há recursos para garantir a previdência social, repete todos os dias o governo. Tampouco há recursos para superar a crise dos estados e municípios que sequer podem assegurar salários a professores, médicos e funcionários públicos, obrigados por Meireles e Temer a pagar uma dívida ilegítima e interminável.  No entanto, sobram recursos para a festa dos empresários!

sábado, 14 de outubro de 2017

O general no pêndulo de Washington

Sábado, 14 de outubro de 2017
Do Blog O Real Não se Vê 


Por Nildo Ouriques*
O general falou na maçonaria mas queria mesmo mandar um recado pro Brasil. Foi orwelliano ao afirmar que quando necessário o exército não faltará com seu dever, promovendo uma “intervenção”; em bom português, estabeleceu o horizonte da ditadura.

A gritaria foi generalizada. Longe dela, após a febre feicibuquiana ceder, assisti a conferência do general. Recomendo à todos, especialmente àqueles que defendemos a Revolução Brasileira. A  condenação moral e mesmo a repulsa ao discurso do militar é tao fácil quanto justificada, mas, como bem sabemos, não move moinho. A indignação – alertou Marx – é a impotência em ação. Àqueles que pensam diferente e seguem jogando palavras ao ar contra o discurso, deveriam indicar com quantos homens e tanques estão dispostos a disciplinar o general Mourão. Enfim, política é força.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

As provas de Palocci

Sexta, 8 de setembro de 2017
Do blog 'O Real Não Se Vê'
Por Nildo Ouriques
O direito burguês é conquista histórica contra o despotismo dos monarcas. No entanto, livre deles, é necessário reconhecer que num estado burguês, de classe, teremos sempre uma justiça de classe. Não há e nem haverá justiça para as maiorias no interior deste sistema, razão pela qual o Estado atua de maneira permanente contra lei e, em consequência, o sistema prisional aqui e em outros países da América Latina está repleto de pobres, negros e índios. Às vítimas do sistema, as prisões do sistema. Um peixe gordo atrás das grades é caso raro.

sábado, 8 de julho de 2017

A coesão burguesa e o político vulgar

Sábado, 8 de julho de 2017


Do Blog O Real não se vê

Por Nildo Ouriques
Na esquerda subsiste uma dúvida: a burguesia esta ou não unificada diante da crise? A dúvida que assalta alguns camaradas com larga experiência tem - curiosamente - origem na aparente divisão da imprensa, pois enquanto a Globo joga duro pela destituição de Temer, a Folha - o jornal municipal paulista - apoiava a permanência do corrupto. É possível observar as oscilações das empresas jornalísticas com certa diversão sem perder o fio da meada. Não resta dúvida que, lentamente, a campanha jornalística está manufaturando o consenso sobre a necessária queda de Temer.

A coesão burguesa é de fácil identificação. Todas as frações do capital querem o fim da previdência social e das leis trabalhistas - aprofundamento da superexploração da força de trabalho - e o corte sistemático do investimento e gasto público. O desemprego bateu 18% na grande São Paulo na semana passada. Enorme. O pesado custo da crise recai sobre os trabalhadores, condenando-os ao abismo social. O superendividamento do estado - pilar da estabilidade monetária - segue sua marcha inabalável. No ano passado, o governo destinou 1 trilhão e 300 bilhões para juros (R$ 304 bilhões) e custo de amortização (1.044 trilhão) da dívida interna. Enfim, o automatismo da dívida e do rentismo superou a casa do trilhão anual!!!!

sábado, 1 de julho de 2017

quinta-feira, 1 de junho de 2017

O burguês delator

Quinta, 1º de maio de 2017
Do blog O Real Não se Vê
Análise de conjuntura e ideias na América Latina

Por Nildo Ouriques

O burguês delator

Imagem relacionada Cresci ouvindo que as empresários pagavam propina para políticos. Ninguém era senador ou deputado, prefeito ou governador sem a grana de um empreiteiro. O político exitoso fazia obras e estas exigiam, obrigatoriamente, aquela gente nefasta. Em consequência, os empreiteiros eram tão detestáveis quanto necessários. Nestes termos, quando comecei a dar importância para a política, tudo sugeria que entre os capitalistas existia uma espécie de laranja podre, mas o mundo dos negócios não era uma podridão completa.

Aos 18 anos li o Manifesto Comunista – arrogantes juvenis, eu confesso, sim, sou leitor tardio! – e observei a natureza de classe do estado: antes que representante do bem comum destinado a disciplinar o instinto animal das pessoas (“o homem é o lobo do homem”) o Estado era um estado de classe, capitalista. As ilusões liberais terminaram. Ainda assim, durante um tempo ainda sentia a falta de um exemplo conclusivo, uma prova final, um caso verdadeiramente exemplar para comprovar a verdade anunciada por Marx.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Brasil não vai acabar, mas ficará mais dependente e mais pobre, é claro

Quarta, 31 de maio de 2017
Da Tribuna da Internet

Resultado de imagem para temer gravado charges
Charge do Oliveira (Arquivo Google)

Por Nildo Domingos Ouriques
O mundo não vai acabar. O mundo nunca acaba. Nem o Brasil. Os últimos 20 anos tornaram o país mais dependente e subdesenvolvido. O privilégio de classe cresceu em termos de poder, renda e patrimônio (propriedade). A república rentista goza de boa saúde e nada poderá ser feito contra ela nos marcos da política atual. O debate público sobre a economia política – que nunca foi exigente entre nós – empobreceu vertiginosamente nas últimas décadas. O liberalismo de direita (tucanos a cabeça) firmou fé no tripé (taxa de juros, inflação e cambio). O liberalismo de esquerda (petistas na condução) incorporou a “herança liberal” e agregou a caridade cristã (migalhas orçamentárias apresentadas como programas sociais).

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A república rentista

Quinta, 22 de dezembro de 2016
O rentismo impôs seu limite de maneira implacável ao antigo pacto de classe iniciado em 1994 e reforçado em 2003 com a vitória de Lula nas eleições presidenciais
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O orgulho burguês no Brasil assume formas mais modestas a cada dia. No passado recente, os economistas afirmavam os resultados da industrialização e com orgulho indisfarçável diziam que o país possuía o maior grau relativo de desenvolvimento capitalista na periferia latino-americana. Os mais desinibidos recordavam inclusive a “época de ouro” do desenvolvimentismo nacional. Naqueles tempos, os economistas gostavam de dizer que a indústria representava 25% do Produto (PIB). Atualmente, esta cifra não passa de 10%, com "tendência de baixa". Em consequência, agora lamentam a “desindustrialização”.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

PEC 241 'é uma declaração de guerra'

Terça, 25 de outubro de 2016
Do Blog do Arretadinho
Ouriques: 'Está sendo construído um discurso para iludir
a população que o maior problema brasileiro são os impostos'
LUTA DE CLASSES
'É uma declaração de guerra contra o povo brasileiro', diz economista sobre PEC 241

Nildo Ouriques afirma que governo não anuncia nenhuma medida contra a dívida pública, que consome entre 40% e 43% do orçamento. No entanto, diminui direitos previdenciários, reduz vagas em universidades

por Redação RBA

São Paulo – Em vídeo divulgado nas redes sociais, o economista e presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Nildo Ouriques, avalia que a Proposta de Emenda à Constituição 241, de 2016, que impõe um teto para os gastos sociais e com saúde e educação pelos próximos 20 anos, é uma “declaração de guerra” contra o povo brasileiro. “A saúde, a educação, as condições de vida não estão boas. E eles estão dizendo, vai piorar. E não é por quatro ou cinco anos. É por vinte. Ou seja, é uma declaração de guerra contra nós. É uma guerra de classe”, afirma.

domingo, 28 de agosto de 2016

Sobre as Leis de Bronze da Lumpemburguesia. A Lei de Bronze Como Lei Moral

Domingo, 28 de agosto de 2016
Em perspectiva histórica, esta cruzada em favor da austeridade e contra o déficit público atua como espécie de reforma moral em meio a crise. Era preciso - sabe a classe dominante - manufaturar a opinião pública favorável as políticas de austeridade iniciadas por Dilma e agora em fase avançada de consolidação com Temer.
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Análise da conjuntura e crítica das ideias na América Latina

Minha fotoPor Nildo Ouriques Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais, Presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (ELA) da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina.


A Lei de Bronze Como Lei Moral

Não poucas vezes a consciência ingenua dos homens é governada por leis de bronze. Leis de bronze são consideradas não somente eternas mas também inflexíveis. Guiados por semelhante crença, eles julgam suficiente a adoção de uma lei qualquer para transformar o mundo ou criar garantias contra as paixões inerentes a vida, sempre avessa a disciplina dos poderes. A experiência ensina que as leis de bronze se assemelham aos postulados morais, razão pela qual a consideração de que "um país não pode gastar mais do que arrecada" equivale ao mandamento sagrado "não matar", "não roubar" ou "não desejar a mulher do próximo". A violação das regras morais tal como o desrespeito às leis de bronze implicam em condenação sumária, castigos severos ou ainda o inferno.




O pecado original e a expulsão do paraíso - Michelangello

O fascínio que certas leis de bronze exercem na cabeça dos homens e a eficácia que eventualmente podem adquirir na vida social, tampouco resiste ao confronto com o real. Neste sentido, as leis de bronze quando exibem sua solidez, cumprem funções ideológicas, ou seja, cumprem funções de legitimação de determinada política ou contribuem com o processo de dominação em seu conjunto. Mas jamais serão eternas. 


A lei da responsabilidade fiscal é de bronze

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é a principal lei de bronze em uso na sociedade brasileira. Em consequência, a legitimação político-social para o processo de destituição da presidente Dilma apareceu inicialmente sob a forma jurídica de crime de responsabilidade cometido contra a lei fiscal, obrigação de zelo absoluto de todo governante realmente preocupado com a sorte republicana. A imprensa e os políticos da ordem insistem que as "pedaladas fiscais" constituem crime de responsabilidade, a despeito dos pareceres técnicos em favor da presidente Dilma no senado. A questão não é técnica, obviamente; de resto, sabemos que política e verdade raramente coincidem. A oposição tucana apelou à LRF consciente do golpe certeiro contra a legitimidade da presidente mas também porque inauguraria nova cruzada moral em favor da valiosa lei de bronze: nenhum governante pode produzir déficits, pois estes seriam, especialmente em tempos de crise, muito nocivos para o Estado e para o bem estar social da população.



Em perspectiva histórica, esta cruzada em favor da austeridade e contra o déficit público atua como espécie de reforma moral em meio a crise. Era preciso - sabe a classe dominante - manufaturar a opinião pública favorável as políticas de austeridade iniciadas por Dilma e agora em fase avançada de consolidação com Temer. Neste tempo turbulento, toda economia de recursos é necessária, razão pela qual os já minguados programas sociais antes motivo de orgulho dos petistas representam luxo porque, como acredita o homem comum, "a vida não esta fácil para ninguém". A maior parte das pessoas julga que a crise afeta a todos negativamente e nem nos piores pesadelos podem supor a crise como aquela oportunidade extraordinária para os capitalistas acumular fortunas e/ou criar condições para conquistar maior riqueza e poder.

Ao povo, a austeridade permanente

Portanto, a destituição da presidente Dilma cumpre objetivos imediatos e estratégicos. No curto prazo, justifica o supressão de muitos direitos dos trabalhadores. No longo, impulsionado pela força da reforma moral, abre tempo de experimentação burguesa contra a ampliação do horizonte político nacional, exatamente quando aos olhos de milhões de pessoas o sistema político se revela miserável, intragável. Enfim, a reforma moral em curso limita toda política no país à enfadonha administração competente da crise no momento em que milhões recusam com asco o fazer político burguês.



Na exaustão do sistema político emerge a figura e evidencia-se a função de Temer. Nada mais afeito à crise que um político com o perfil do golpista. Temer é perfeito porque "chegou lá" pelas mãos generosas do pragmatismo petista, aquele mesmo pragmatismo considerado até bem pouco tempo não grave limitação política ou submissão à correlação de forças supostamente desfavorável para avançar em direção de reformas radicais em favor do povo mas, ao contrário, um pragmatismo então considerado pedra angular da astucia e da inteligencia lulista pretensamente capaz de agradar proletários e burgueses em favor de alguns trocados para as classes subalternas. Ademais, Temer é a quinta-essência burlesca do bacharel oitocentista, misto de discurso e gesto antiquado, mas disponível à política de modernização de todas as frações do capital e disposto a seguir com enorme convicção para o lixo da história com direito a aposentadoria de presidente sem culpa no cartório. Ele próprio talvez não saiba, mas ao menos suspeita que ao tocar no teto, tocou também no fundo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A burguesia decide por Dilma

Quinta, 7 de abril de 2016
Do Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br 
Por Nildo Ouriques*
A burguesia decidiu que Dilma fica. Não é decisão nova. É decisão antiga que se fortaleceu no último período diante da situação política e econômica no país.

A primeira razão da posição burguesa resulta do profundo "ajuste" praticado por Dilma contra os trabalhadores. No essencial, o desemprego é elevadíssimo (superior a 10%) e os salários baixaram violentamente. Dilma vetou a possibilidade de auditoria da dívida e, em consequência, garantiu vida longa ao rentismo. A brutal recessão e a desvalorização do cambio - nesta ordem - turbinaram a balança comercial, tal como pretendiam todas as frações burguesas.

Os cortes no investimento das áreas sociais (o Diário Oficial comunicou dia 30/03 adicionais R$ 4,2 bilhões na Educação e outros R$ 2,28 bilhões na Saúde) alimentaram a fatia dos recursos públicos destinada aos pagamentos da dívida às custas dos trabalhadores. Enfim, as bases para a retomada da acumulação de capital estão sendo criadas. O governo é, basicamente, o que no antigo jargão definiríamos como neoliberal.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Entre nós, os economistas II

Quinta, 11 de fevereiro de 2016
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Artigo publicado quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016.

Entre nós, os economistas II

A ideologia da crise fiscal 
Por Nildo Ouriques
Ideologia sempre é arma perigosa. De minha parte, rechaço qualquer ideologia pois somente quando os trabalhadores estão armados com o pensamento crítico é quando, de fato, se apresentam como o inimigo real para as classes dominantes. 

A burguesia criou a ideologia de que o estado brasileiro vive severa crise fiscal. Todos os dias de manhã, a tarde e a noite, fomenta a ideologia da crise fiscal do estado brasileiro; no rádio, jornal e TV repete a ladainha; o resultado pode ser visto na declaração do líder sindical bocó, do cretinismo parlamentar e do jornalista cínico, todos indicando que é preciso fazer um "ajuste fiscal" para recolocar o Brasil na "rota do crescimento". É farsa completa, mas é o alimento cotidiano de milhões, resultado necessário da manufaturação do consenso que funciona com perfeição tal como no Brasil indiciou Lima Barreto no início do século passado no insuperável romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909) e, antes dele, John Hobson, no também indispensável Estudios sobre el imperialismo, 1902). George Seldes, Lippmann (o reaça), Orwell e Chomsky ainda não existiam. 

Abismo que criaste com teus pés

Pois bem, hoje um jornal paulista (FSP) indica que no coração burguês do país, "o grau de endividamento pulou de 148% de sua receita corrente líquida em 2014 para 168%".  Ora, o estado de São Paulo é administrado por tucanos há quase duas décadas. No parlamento, a bancada tucana defende com unhas e dentes a ideologia que, como diz Cartola num samba genial, agora também pode ser vista no "abismo que cavaste com os teus pés". O petismo cala sobre o essencial, evita a crítica como se o rombo fiscal tucano não existisse porque, há tempos, também adotou a ideologia da "austeridade fiscal" que marcava os governos neoliberais. Enfim, tucanos primeiros e petistas mais tarde, adotaram a mesma ideologia. Dilma no Planalto e Alckmin em São Paulo dão de ombros. Ambos endividam o estado, apoiam a política de austeridade e justificam tudo em nome da responsabilidade fiscal.  Mas para nossa sorte, a realidade é tenaz e não se curva às ideologias!

Farra fiscal garantida e ajuste permanente

Noutro jornal paulista (Valor) leio hoje que os subsídios concedidos à burguesia brasileira pelo governo Dilma - via BNDES - custarão ao Tesouro (com impactos fiscais!) R$ 323 bilhões até 2060. No total, a farra dos subsídios às distintas frações do capital, alcançou até dezembro passado, R$ 523 bilhões. É claro que neste contexto, o assalto ao estado esta no DNA de industriais, latifundiários, comerciantes e multinacionais e, obviamente, compreende-se que a destituição da presidente é carta fora do baralho. Afinal, por que tirar da cadeira presidencial uma pessoa que atende com tanta diligência nossa classe dominante? Não bastasse os subsídios, a presidente Dilma seguirá com o "ajuste fiscal" permanente, a supressão de direitos previdenciários, o fim das receitas vinculadas, o aumento de impostos e, sobretudo, com a garantia de que os segredos do endividamento interno e externo estarão garantidos após o veto que exerceu sobre a auditoria da dívida. A oposição tucana - aquele mesma que clama pela destituição da presidente - apoiará no congresso a maioria das medidas propostas pelo governo do PT e seus aliados. Exceto a CPMF, para não dar na cara, entende?    

De minha parte, declarei desde o início minha oposição a Lei de Responsabilidade Fiscal porque - a exemplos de outros poucos economistas críticos - sabia que a eficiência fiscal do estado seria destinada para o mega negócio da dívida pública que arrancou com força em 1994, a verdadeira âncora do Plano Real. A dívida pública é, desde então, o coração da republica rentista! A maioria dos keynesianos praticaram o bom mocismo e, orientados pelo medo na alma e de olho no DNA da lumpemburguesia que pretendem representar, logo se apressaram em afirmar que "Keynes nunca foi favorável a irresponsabilidade fiscal". Claro que não. Keynes, a despeito de suas imensas limitações e sua inequívoca posição de classe, não cederia diante deste discurso de quinta, afeito somente aos bocós.    

À esquerda, com força e duas moléculas de lucidez

Aos partidos de esquerda basta duas moléculas de lucidez: anunciar sem vacilação a ruptura com a Lei de Responsabilidade Fiscal, denunciar o superendividamento estatal, praticar a política da recusa ao bom mocismo e estimular a educação política permanente sobre este pilar da dominação burguesa. Neste momento, a busca de votos deveria estar subalternizada à construção de um programa na consciência popular. Enfrentar a política da "austeridade permanente" e combater a ideologia da crise fiscal do estado brasileiro é a primeira tarefa da construção necessária de uma alternativa real. 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

A alma de Lula

Sábado, 6 de fevereiro de 2016
Por Nildo Ouriques
Foi Chico de Oliveira, o oscilante sociólogo uspiano, quem afirmou ser Lula um "homem sem caráter". De minha parte, não descarto a análise de extração psicanalítica, mas considero a caneta presidencial o indicador mais confiável sobre o caráter de qualquer presidente. No entanto, antes que o rasteiro moralismo burguês dominante torça o nariz para meu desprezo inicial pela perspectiva moral, reafirmo que, na política, é claro que o caráter conta, mas a prova final sobre a conduta presidencial será sempre o Diário Oficial.

Ainda assim, não cometo engano em afirmar que, entre os petistas, poucos conhecem Lula na intimidade - e, portanto, seu caráter - tão bem quanto Gilberto Carvalho, o ex-ministro chefe do gabinete presidencial entre 2004-2010. A propósito das investigações sobre a edição de medidas provisórias criadas para benefício das multinacionais do setor automobilístico, Gilbertinho - como é conhecido nas suas bases - afirmou que "o estímulo à indústria automobilística era a alma do presidente Lula". Arrematou dizendo que "dada a importância do setor automobilístico no Brasil, essa coisa de estímulo ao setor era, digamos, a alma do presidente Lula. Ele sempre teve muita preocupação com isso."(Valor, 26 de janeiro).