Terça, 25 de outubro de 2016
Do Blog do Arretadinho
| Ouriques: 'Está sendo construído um discurso para iludir a população que o maior problema brasileiro são os impostos' | 
LUTA DE CLASSES
'É uma declaração de guerra contra o povo brasileiro', diz economista sobre PEC 241
Nildo Ouriques afirma que governo não anuncia nenhuma medida contra a 
dívida pública, que consome entre 40% e 43% do orçamento. No entanto, 
diminui direitos previdenciários, reduz vagas em universidades
por Redação RBA
São Paulo – Em vídeo divulgado nas redes sociais, o economista e 
presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade 
Federal de Santa Catarina (UFSC), Nildo Ouriques, avalia que a Proposta 
de Emenda à Constituição 241, de 2016, que impõe um teto para os gastos 
sociais e com saúde e educação pelos próximos 20 anos, é uma “declaração
 de guerra” contra o povo brasileiro. “A saúde, a educação, as condições
 de vida não estão boas. E eles estão dizendo, vai piorar. E não é por 
quatro ou cinco anos. É por vinte. Ou seja, é uma declaração de guerra 
contra nós. É uma guerra de classe”, afirma.
Para Ouriques, está sendo construído um discurso para iludir a população
 a acreditar que o maior problema brasileiro são os impostos muito 
elevados, que inibiriam investimentos e a iniciativa das pessoas, e a 
irresponsabilidade dos governos. “Todo o esforço da classe dominante 
brasileira consiste em iludir a população, criar uma ideologia, segundo a
 qual a crise é consequência da irresponsabilidade dos governos, que 
arrecadam muito e gastam muito mal. E não bastasse isso, ainda tem a 
corrupção, que é a forma mais deslavada de inépcia e desrespeito com os 
assuntos públicos”, avalia.
Ele, porém, ressalta que o principal dispêndio dos governos federal, 
estadual e municipal não é com áreas sociais, mas sim com juros e 
amortizações de um sistema de dívida, que consome uma imensa parte da 
arrecadação de impostos e dos ativos que os governos vendem – 
privatizam. Porém, não há nenhuma medida quanto à dívida, somente contra
 os gastos considerados sociais. “E terá de ser por vinte anos. Não é 
que essa disciplina resolverá o problema em 20 anos. É que como vamos 
manter intocável o pagamento de juros, então não tem outra alternativa a
 não ser apertar a população. Diminuindo direitos previdenciários, 
reduzindo vagas em universidades, tudo o que está sendo proposto”, 
afirma.
Ouriques lembra que no começo do Plano Real, em 1994, a dívida 
brasileira era de aproximadamente R$ 64 bilhões. Hoje são cerca de R$ 4 
trilhões. “Os que decidiram fazer o Plano Real elevaram radicalmente a 
taxa básica de juros a mais de 50%. E deram como alternativa aos 
capitalistas comprar Títulos da Dívida Pública. Remunerados a um tal 
valor com uma taxa tão elevada, que era melhor emprestar dinheiro ao 
governo do que investir na produção de produtos”, relata. Hoje, a dívida
 consome entre 40% e 43% do orçamento da União, aliada a uma das maiores
 taxas básicas de juros do mundo.
“A carga tributária não é elevada porque precisa pagar salários 
astronômicos para deputados e juízes, mas porque precisa manter o 
pagamento de juros e amortizações da dívida. Precisa de uma auditoria. É
 o maior esquema de corrupção da República”, disse. “Mas nós próximos 20
 anos o que vai governar a vida é uma austeridade contra o povo”, 
completa.
Ouriques defende uma auditoria da dívida pública, além de uma atuação 
firme do governo em outras áreas que efetivamente contribuem para o 
déficit financeiro do governo: excesso de incentivos fiscais, sonegação 
de impostos e evasão de divisas. Hoje o país tem uma dívida ativa – 
valores devidos por empresas e pessoas aos governos – de R$ 1,5 trilhão.
 Dessa dívida, cerca de R$ 250 bilhões correspondem a causas já 
transitadas em julgado. “O capitalista não tem mais a quem recorrer. O 
governo poderia lançar mão desse valor para equalizar a dívida. Mas ele 
não faz”, afirma.
Além disso, segundo Ouriques, ao menos US$ 1,5 trilhão está depositado 
por brasileiros em paraísos fiscais. “Esse dinheiro saiu daqui sem 
tributação, de forma ilegal, não sabemos como foi adquirido. E todo ano 
tem no Congresso uma lei propondo anistiar isso, com a justificativa de 
que o país precisa de capitais. E é cobrada uma parcela mínima do 
imposto devido, que permite ao capitalista legalizar esse dinheiro”, 
ressalta. Outros R$ 500 bilhões são sonegados por ano, segundo 
estimativas do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda 
(Sinprofaz), que denuncia repetidamente a precarização dos 
trabalhadores, que impede a atuação.
Assista ao vídeo:

 
 
 
