Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O ZORRO

Segunda, 27 de setembro de 2010
Por Georges Michel Sobrinho
   Acompanhar os fatos e a disputa entre candidatos no nosso processo eleitoral tornou-se uma novela com capítulos emocionantes. A quase todo momento surgem notícias de casos verdadeiramente escabrosos, no governo e fora dele. Fatos antigos, que deveriam ser denunciados à época, aparecem como recentes, como é caso da violação das declarações de renda de parentes e pessoas ligadas ao José Serra (se demorasse mais tempo o crime já teria sido prescrito). A Receita Federal não pertence à área da Casa Civil, onde Dilma até recentemente era titular, o objetivo é mudar o rumo que tomou o processo eleitoral.

 Jornalista Georges Michel Sobrinho
Os meios de comunicação numa busca intensa de encontrar algo que pudesse comprometê-la, acabaram encontrando atos que incriminam a substituta da Dilma na Casa Civil. O Presidente Lula tomou as medidas pertinentes e demitiu a ministra Erenice e determinou aos órgãos competentes apuração dos fatos. Mas como nos velhos tempos, os aprendizes do lacerdismo não se dão por vencidos, tem prática histórica nesse setor, já levaram um presidente ao suicídio e depuseram outro e não vão parar por aí.

   Na propaganda eleitoral no rádio e na TV os tucanos prometem o que não realizaram quando foram governo. O salário mínimo não chegava a cem dólares, o povo nunca se beneficiou com as privatizações, o dinheiro sumiu e a imprensa nunca cobrou o seu destino. O objetivo agora é levar a eleição para o segundo turno, custe o que custar.

   A candidata do PT, Dilma Russef segundo todas as pesquisas está em primeiro lugar, e já seria vencedora no primeiro turno. O interessante é que no Brasil as eleições começam e terminam sem o povo votar, as pesquisas já fazem este papel. O povo só referenda. A tão propagada urna eletrônica, que segundo os especialistas em eletrônica não é confiável, confirmará o resultado das pesquisas. Poderíamos afirmar que estas alem de induzir o eleitor, funcionam como fiscal do resultado da eleição, que não poderá ser modificado pela cibernética eleitoral. As denúncias surtem pouco efeito na preferência do eleitor. A abundância delas parece que cria uma espécie de escudo, de couraça, que o votante deixa de acreditar ou se convence que a política é assim mesmo.

     Na eleição de 1989, quando havia um leque de bons candidatos, Covas, Ulisses, Brizola, foram para o segundo turno justamente os dois com menos preparo e experiência, na época. O Lula, jovem líder sindical e o ex-governador Collor, cujo único feito como governador foi demitir servidores de baixo salário e dois ou três marajás. Eleito Presidente, deu no que deu, confiscou a poupança, desagradou quase todas as correntes políticas, isolou-se e sem estrutura partidária, foi expulso do governo por corrupção, a bem do Brasil. Não faltaram denúncias durante a campanha eleitoral. As pesquisas o elegeram antes do voto. O povo alienado, adormecido pelo bombardeio dos meios de comunicação a favor do candidato, obedeceu e o elegeu. Pode elegê-lo de novo, agora como governador das Alagoas, o mecanismo permanece o mesmo.

   O governo de FHC foi rico em denúncias, desde a compra de votos para mudar a Constituição e conseguir a reeleição, aos escândalos das privatizações, empresas vendidas a preço de banana e ainda financiadas pelo BNDES, como a Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo. O mesmo aconteceu com a Companhia Siderúrgica Nacional (quando era ministro da fazenda). Privatizou ainda, dentre outras grandes metalúrgicas, a Belgo Mineira e a Açominas. E também outras empresas estratégicas para o desenvolvimento do Brasil como a Telebrás, Eletrobrás, indústrias, vias férreas, rodovias e uma infinidade de empresas pertencentes ao estado brasileiro, patrimônio nacional.

   Com a imprensa “benevolente”, poderia até ter vendido o Banco do Brasil e a Petrobras, não faltou vontade. E nenhuma denuncia séria da oposição da época ante essas medidas, senão os protestos de lideranças nacionalistas como Leonel Brizola, através dos tijolaços com publicações pagas na imprensa, já que todos os meios de comunicação estavam solidários com o governo e não publicavam nada que pudesse comprometê-los.

   Há quase oito anos, Dilma era praticamente desconhecida do grande público. De origem política na militância em organizações radicais que lutavam contra a ditadura, se integrou, depois da anistia, na luta partidária ao lado de Brizola.

   Dificilmente pensava-se que ela poderia ser escolhida a candidata do PT para suceder Lula no governo.
Veio o crescimento econômico, apesar da crise internacional, os recordes de empregos formais dos últimos tempos, o que é traduzido em salários, bem estar, alimentação, educação para os filhos e tudo que se pode alcançar, tendo dinheiro. O salário mínimo foi de míseros cem dólares do governo anterior para trezentos neste governo. O programa “minha casa minha vida” com financiamento bancário, “bolsa família” dentre outros muitos benefícios, faz com que o governo fique imune a qualquer tipo de denúncias de corrupção. O povo pode até acreditar nessas denúncias, porém não quer perder sequer o mínimo que conseguiu neste governo e Dilma é a segurança da continuação de todas essas conquistas.

   A proteção aos fracos e oprimidos torna-se realidade no Brasil.

   A ficção vira história.

   Georges Michel Sobrinho
            Jornalista