Segunda, 31 outubro de 2011
Por
Ivan de Carvalho

Mas o fato está aí. Dando
sequência a outros, vários.
Fidel Castro, que em já avançada idade foi
acometido de misterioso câncer abdominal que quase o levou à morte e o obrigou
a passar a presidência e o comando ao irmão Raul Castro, na república
hereditária de Cuba. Mudou de vida, mas sobreviveu.
Dilma Rousseff, em quem descobriu-se, em fase
inicial, um linfoma sincero e franco (ela não tentou esconder, despistar) às
vésperas das eleições, mas está declarada curada, fazendo apenas, como mandam
os protocolos médicos, revisões periódicas.
O ex-vice-presidente José Alencar, mineiro como
Tancredo e muito mais cortado do que ele, teve câncer abdominal com metástases
e foi de uma coragem impressionante. Driblou a morte durante 11 anos, até o
final inevitável.
Fernando Lugo, presidente do Paraguai, do qual se
anunciou a retirada total da próstata, informando-se que não havia neoplasia.
Barack Obama, que surpreendeu a todos informando
que acabara de ser operado (com algum tubinho, nada de serra no esterno) para
retirada de um nódulo pulmonar que mudara de morfologia e cuja biópsia
confirmou não ser maligno. Como cautela adicional, deixou de fumar.
Finalmente, sem sair das Américas, Hugo Chávez, o
ditador-presidente da Venezuela, retirou sob sigilo em Cuba um tumor maligno em
algum lugar até hoje incerto e não sabido da região pélvica, ao que se seguiram
vários ciclos de quimioterapia braba. Ele se declarou curado reiteradamente,
mas acaba de cancelar sua presença numa reunião de chefes de Estado e admitir
que não terá mais a mesma desenvoltura física de antes. Médicos ouvidos no
anonimato não vinham fazendo bons prognósticos para ele.
Quanto a Lula, registrado o trauma nacional, a
esperança e o desejo mais sincero de que vença a batalha, cumpre assinalar que
o tumor foi qualificado de “não muito grande”, o que também significa que não é
pequeno nem foi detectado no início, e que o Hospital Sírio-Libanês anunciou
que hoje ele começa o tratamento, “inicialmente” com quimioterapia. O
“inicialmente” aí significa que precisará ser usada também radioterapia. O
tumor, na região supra-glote, tem 3 centímetros.
Quanto à voz, dá-se como certo que algum estrago
é inevitável. A quimioterapia afeta a voz, a radioterapia também. Somadas,
afetam mais, uma agrava os efeitos da outra. A equipe médica optou por não
remover cirurgicamente o tumor. A remoção seria desastrosa para a voz do
paciente. Para Lula e seu estilo de fazer política, a voz é considerada
elemento essencial.
Sob o aspecto político, há uma grande mudança.
Incerteza sempre há na política e em quase tudo, mas o problema de saúde do
ex-presidente aumenta a nível crítico a incerteza. Imagine-se que a presidente
Dilma sofra desgaste popular progressivo, agravado pelos efeitos atuais e
futuros da crise financeira e econômica global no Brasil e chegue às eleições
de 2014 com chances mínimas de reeleição. O PT tinha uma rede de segurança –
Lula. Mas se ele não estiver em condições físicas de ser candidato ou se
estiver claro que não terá condições para governar, então... bem, o PT tem
Jaques Wagner, da Bahia, o PSB tem Eduardo Campos, governador de Pernambuco, o
PMDB...o PSD... o PP...
Estará em plena ação o princípio da incerteza.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.