Segunda, 24 de outubro de 2011
Da Agência Brasil
Roberta Lopes e Pedro Peduzzi - Repórteres
Autor de denúncias sobre a existência de um esquema de
corrupção no Ministério do Esporte, o policial militar João Dias
Ferreira se encontra na Superintendência da Polícia Federal no Distrito
Federal, onde prestará novo depoimento. Ao chegar à PF hoje (24),
Ferreira disse que entregará aos investigadores 13 arquivos de áudio e
uma relação de nomes de empresas beneficiadas pelo suposto esquema.
João Dias acrescentou que pessoas ligadas ao ex-ministro e atual
governador do DF, Agnelo Queiroz, participam das gravações, mas negou
ter qualquer gravação com o atual ministro, Orlando Silva. “Há apenas
pessoas próximas a ele”, disse o policial militar, referindo-se a Fábio
Hansem – então chefe de gabinete da Secretaria Nacional do Esporte
Educacional, mas que atualmente assessora Orlando Silva – e Charles
Rocha, então chefe de gabinete da Secretaria Executiva do ministério. A
reunião, segundo a revista Veja, ocorreu em abril de 2008.
“Fui convidado para uma reunião na calada da noite, com o objetivo
de parar com a produção de documentos falsificados que originaram a
Operação Shaolin”, disse. “Acredito que [durante] toda a semana vão
aparecer coisas novas porque estamos recuperando as provas”, disse em
referência aos arquivos na PF obtidos durante a operação.
Além disso, acrescentou, entregará até a próxima quarta-feira (26)
oito vídeos de Michael Vieira, a primeira pessoa a denunciar o esquema,
negociando uma delação premiada. “A minha briga é para provar que
existem vários pagamentos de diversas empresas e entidades. Como nós
rejeitamos esse protocolo, aconteceu a Operação Shaolin”, disse.
Ele voltou a reafirmar que acha difícil o ministro não ter
conhecimento do esquema, já que em todas as reuniões o chefe de gabinete
e o secretário executivo estavam presentes, além de pessoas que
cuidavam da área de prestação de contas e fiscalização do ministério. “A
reunião [sobre o Segundo Tempo] é feita no sétimo andar da Secretaria
Executiva, com a cúpula do ministério. Então é de interesse do
ministério”, completou.
Ex-militante do PCdoB, mesmo partido do ministro, João Dias Ferreira
é responsável pela Federação Brasiliense de Kung Fu e pela Associação
João Dias de Kung Fu, organizações não governamentais (ONGs) com as
quais o ministério firmou dois convênios em 2005 e 2006, para que
crianças e jovens em situação de risco fossem atendidos pelo Programa
Segundo Tempo, criado pelo governo federal para incentivar crianças
carentes a praticar atividades esportivas.
Segundo a denúncia do policial militar, Orlando Silva comandaria um
esquema de desvio de parte do dinheiro que o ministério repassava a
entidades conveniadas ao programa federal. Ferreira e um de seus
funcionários, Célio Soares Pereira, haviam garantido que Silva recebeu
pessoalmente, na garagem do ministério, parte do dinheiro obtido com o
esquema.