Sábado, 2 de junho de 2012
Da IstoÉ, Edição 2221
Em entrevista à ISTOÉ, o ex-diretor do
DNIT, hoje consultor, denuncia caixa 2 na campanha do PSDB e conta que,
em 2010, quando estava na direção do órgão, arrecadou junto às
empreiteiras para a campanha do PT
por Claudio Dantas Sequeira
"Todos os empreiteiros do Brasil sabiam que o
Rodoanel financiava a campanha do Serra"
Luiz Antônio Pagot
Rodoanel financiava a campanha do Serra"
Luiz Antônio Pagot
Desde o início do ano, o ex-diretor do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT) Luiz Antonio Pagot tem prestado
consultoria em projetos de navegação fluvial. Os negócios vão bem, mas a
incursão no setor privado ainda não foi suficiente para apagar a mágoa
que guarda pela maneira como deixou o governo, no rastro do escândalo de
corrupção no Ministério dos Transportes. Casado, pai de uma filha, o
economista, que é oficial reformado da Marinha, considera-se um técnico
competente, de confiança, e diz que nutria pelo governo uma fidelidade
quase canina. Mas a demissão, que classifica como “traição mortal”,
alimenta agora um sentimento de vingança. E motivou Pagot, nos últimos
dois meses, a fazer uma série de depoimentos à ISTOÉ. Em três encontros
com a reportagem num hotel em Brasília, todos gravados, Pagot contou
detalhes sobre a forma como, no exercício do cargo, foi pressionado pelo
governo de José Serra a aprovar aditivos ilegais ao trecho sul do
Rodoanel. A obra, segundo ele, serviu para abastecer o caixa 2 da
campanha de José Serra à Presidência da República em 2010. “Veio
procurador de empreiteira me avisar: ‘Você tem que se prevenir, tem 8%
entrando lá.’ Era 60% para o Serra, 20% para o Kassab e 20% para o
Alckmin”, disse Pagot. Nas conversas com ISTOÉ, Pagot também afirmou ter
ouvido do senador Demóstenes Torres um pedido para que o ajudasse a
pagar dívidas de campanha com a Delta com a entrega de obras para a
construtora. Mas nem o aditivo de R$ 260 milhões para o trecho sul do
Rodoanel foi liberado pelo DNIT – embora tenha sido pago pelo governo de
São Paulo – nem o favor a Demóstenes foi prestado, segundo Pagot.
Porém, ele não resistiu ao receber uma missão do comitê de campanha do
PT durante as eleições de 2010. Pagot disse que, quando ocupava a
diretoria do órgão que administrava bilhões em obras públicas em todo o
País, recebeu do tesoureiro da campanha do PT, deputado José De Filippi
(SP), um pedido para arrecadar recursos junto às empreiteiras. “Cada um
doou o que quis. Algumas enviavam cópia do boleto para mim e eu remetia
para o Filippi. Outras diziam ‘depositamos’”, afirmou. As doações, no
entanto, teriam sido feitas pelas vias legais, de acordo com o
ex-diretor do DNIT.
CAIXA 2
Segundo Pagot, empreiteiro confirmou que 8% da verba para o trecho
sul do Rodoanel era desviada para a candidatura de Serra ao Planalto
Os segredos que Pagot guardava até agora ajudam a explicar por que a
CPI do Cachoeira adiou deliberadamente sua convocação. Ele diz que está
pronto para falar tudo e desafia: “Duvido que me chamem. Muitos ali têm
medo do que posso contar.” Nas entrevistas à ISTOÉ Pagot forneceu
detalhes dos encontros com o tesoureiro do PT, José De Filippi. Ele
contou que, em meados de 2010, foi chamado ao QG petista, no Lago Sul,
onde foi apresentado a Filippi, que lhe pediu ajuda para passar o chapéu
entre as empreiteiras. Dias depois, revelou, os dois voltaram a se
reunir no DNIT, onde Pagot lhe apresentou uma lista com cerca de 40
empreiteiras médias e grandes que tinham contrato com o órgão. Ao
analisar hoje a prestação de contas da campanha, Pagot identifica ao
menos 15 empresas que abasteceram a campanha do PT a pedido seu: Carioca
Engenharia, Concremat, Construcap, Barbosa Mello, Ferreira Guedes,
Triunfo, CR Almeida, Egesa, Fidens, Trier, Via Engenharia, Central do
Brasil, Lorentz, Sath Construções e STE Engenharia. Elas doaram cerca de
R$ 10 milhões, segundo a prestação de contas apresentada pelo PT ao
TSE. Filippi disse à ISTOÉ que realmente foi apresentado a Pagot no
comitê da campanha durante o primeiro turno da eleição. “Mas a conversa
tratou da proposta de Pagot de a campanha receber três aviões do Blairo
Maggi”, disse Filippi, que negou ter recebido boletos de depósitos. “Num
segundo encontro, depois da eleição de Dilma, ficou acertado que Pagot
buscaria recursos para saldar dívidas da campanha eleitoral”, admite
Filippi.