Sexta, 29 de junho de 2012
Por Ivan de Carvalho

Em verdade, o que há com o
PC do B é que a pressão pela desistência da candidatura própria em favor do
apoio ao candidato do PT, deputado Nelson Pelegrino, é muito forte. Os
comunistas integram a base do governo estadual petista, no qual têm cargos,
incluindo a Secretaria Especial da Copa. O segmento do partido que participa
diretamente do governo tem tendência, digamos, “natural”, para atender o apelo
visando à unidade da base em torno de Pelegrino.
Outra corrente do PC do B,
incluindo a quase totalidade da militância, quer a candidatura própria de Alice
Portugal, que vem deixando clara sua vontade de levar a candidatura a prefeita
até às urnas. Esta é, aliás, a orientação fixada pela direção nacional do PC do
B para estas eleições, a ser aplicada onde for possível. O partido tem
considerável expressão político-eleitoral em Salvador. O resultado dessa
divergência interna – ainda que camuflada – logo será conhecido.
2. Outra questão é a
posição tomada pelo PSB, cuja liderança de maior expressão na Bahia é a
senadora Lídice da Mata, que conduz o partido na Bahia em conjunto com o
secretário estadual de Turismo, ex-deputado Domingos Leonelli.
O PSB já descartou a
candidatura de Lídice à prefeitura, porque a senadora mesma resolveu pelo apoio
do PSB ao petista Pelegrino, em nome da unidade da “base” do governo Wagner, do
enfrentamento do que PSB, PT e governo chamam de “direita” e em gratidão pelo
esforço de Wagner para assegurar a eleição da senadora em 2010, quando o PT
tendia a concentrar seus esforços na eleição apenas de Walter Pinheiro,
deixando a Lídice a tarefa difícil de vencer quase que só por conta própria o
senador César Borges, candidato à reeleição.
Bem, o interessante é que
surgiu na mídia uma curiosa hipótese, um raciocínio atribuído ao PSB ou a parte
dos socialistas, pelo menos. Lídice foi apoiada por Wagner e consequentemente
pelo PT em 2010, apoia Pelegrino este ano, pagando a “dívida” e em 2014 realiza
o sonho – um sonho que ela sempre teve – de disputar o governo do Estado com o
apoio do PT.
“Sonho meu, sonho meu”. Mas
não do PT. Para realizar o sonho da senadora e ex-prefeita, o PT teria de
desvencilhar-se das aspirações do senador Walter Pinheiro, do secretário Sérgio
Gabrielli, do prefeito Luiz Caetano e do secretário-chefe da Casa Civil,
deputado Rui Costa, para não falar de aspirantes não petistas como o presidente
da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo.
Mais grave: o poder no
Estado da Bahia é importante para o projeto de poder e consolidação da
hegemonia do PT em âmbito nacional. O PSB não tem motivos para imaginar que o
PT tenha vocação para Fernando Lugo. Especialmente quando o PSD, presidido e
comandado pelo governador Eduardo Campos, de Pernambuco, apresenta, no campo da
chamada “esquerda”, crescimento rápido, que no momento o coloca como
aliado-concorrente do PT, com possibilidade de tornar-se apenas rival em futuro
não distante.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.