Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A maldição haitiana

 Janeiro

14

A maldição haitiana

O terremoto do Haiti havia sido o ponto culminante da longa tragédia de um país sem sombra e sem água, que havia sido arrasada pela voracidade colonial e pela guerra contra a escravidão.
Os amos destronados explicam isso de outra maneira: o vodu tinha e tem a culpa de todas as desgraças. O vodu não merece ser chamado de religião. Não é nada além de uma superstição vinda da África, magia negra, coisa de negros, coisa do Diabo.
A Igreja Católica, onde não faltam fieis capazes de vender unhas de santos e plumas do arcanjo Gabriel, conseguiu que essa superstição fosse legalmente proibida no Haiti em 1845, 1860, 1915 e 1942.
Nos últimos tempos, o combate contra a superstição corre por conta das seitas evangélicas. As seitas vêm do país de Pat Robertson: um país que não tem 13º andar em seus edifícios nem fileiras 13 em seus aviões, e onde são maioria os civilizados cristãos que acreditam que Deus fabricou o mundo em uma semana.

Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias
(Um calendário histórico sobre a humanidade),
2ª Edição, L&PM Editores, 2012, página 28
========
Leia também: