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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Os perigos globais da degradação da Amazônia

Sexta, 28 de janeiro de 2022


Instituto Humanitas Unisinos

Em algumas partes das terras baixas amazônicas, em apenas um grama de terra convivem mais de 1.000 espécies de fungos. Em apenas 10.000 metros quadrados de floresta tropical existem mais tipos de árvores do que em toda a Europa. E nas águas que percorrem a imensa bacia hidrográfica habitam uma em cada 10 espécies de peixes de água doce do mundo, mais da metade delas são endêmicas. Entre elas, o imenso pirarucu, um peixe que tem as escamas mais duras do mundo, uma língua óssea e que é capaz de respirar fora da água.


A reportagem é de Juan F. Samaniego, publicada por La Marea-Climática, 25-01-2022. A tradução é do Cepat.


Ainda hoje, grande parte de seu território permanece inexplorado. Na Amazônia, uma nova espécie é descrita à ciência a cada dois dias. Aos pés dos Andes e até o Atlântico, há cerca de 10 milhões de anos a região é o laboratório de biodiversidade do planeta. Mas, além disso, esse ecossistema de mais de 7 milhões de quilômetros quadrados, capaz de gerar sua própria chuva, influencia o clima global e é um de nossos últimos freios de emergência diante das mudanças climáticas.

Mesmo assim, observamos sua destruição com indiferença. “A Amazônia é o refrigerador do planeta, seu ar condicionado. Se a destruirmos, teremos consequências globais. Não temos consciência que de que todos fazem parte de um mesmo planeta. Tudo está interligado de modo que não conseguimos entender”, explica Encarni Montoya, pesquisadora de Geociências Barcelona (GEO3BCN-CSIC) e uma das integrantes do Painel Científico pela Amazônia, formado por mais de 200 especialistas.

É também uma das autoras de um relatório de avaliação da Amazônia apresentado durante a COP26, realizada em novembro, um documento que resume dois anos de intenso trabalho científico e que alerta que a região está se aproximando de um ponto crítico de não retorno por culpa, entre outras coisas, do desmatamento, incêndios e mudanças climáticas.

“Teve pouca repercussão, menos ainda na Espanha. Teve muito pouco impacto em relação ao nível de pesquisa que se faz aqui e os laços que temos com a América Latina. A indiferença com o qual foi recebido é desanimadora”, destaca Montoya, especialista em estudar os fósseis para entender a ecologia do passado.


Uma fábrica de reciclagem de chuva


Uma floresta encharcada onde crocodilos e piranhas espreitam, dezenas de tipos de tarântula se abrigam entre as raízes e imensas colônias de formigas formam procissões quilométricas em busca de alimentos. A Amazônia evoca uma imagem muito clara em nossa mente. Mas a realidade é muito mais diversa. A região abrange de florestas costeiras a ecossistemas pré-andinos, florestas chuvosas e secas, pântanos, turfeiras e savanas.

“Só a bacia amazônica é maior que a Europa”, explica a paleoecologista. Sua magnitude é tal que a região é uma imensa fábrica de chuvas. Uma correia transportadora de água do oceano Atlântico para o interior da América do Sul. “Graças às temperaturas e à fisiologia das árvores, a água captada na costa entra em um ciclo de precipitação e evaporação constante, de reciclagem, que a transporta para o interior. Assim, consegue-se que a umidade do Atlântico vá praticamente até os Andes”.