Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 15 de abril de 2022

As pinturas negras

As pinturas negras

Em 1828, Francisco de Goya morreu no desterro.

Acossado pela Inquisição, tinha partido para a França.

Em sua agonia, Goya evocou, entre algumas palavras incompreensíveis, sua querida casa dos arredores de Madri, nas margens do rio Manzanares. Lá havia ficado o melhor dele, o mais seu, pintado nas paredes.

Depois da sua morte, essa casa foi vendida e revendida, com pinturas e tudo, até que as obras, desprendidas das paredes, passaram para a tela. Foram oferecidas, em vão, na Exposição Internacional de Paris. Ninguém se interessou em ver, e muito menos em comprar, essas ferozes profecias do século seguinte, onde a dor matava a cor e sem pudor o horror se mostrava em carne viva. Tampouco o Museu do Prado quis comprá-las, até que no começo de 1882 as obras enfim entraram lá, doadas.

As chamadas pinturas negras ocupam, agora, uma das salas mais visitadas do museu.

— Isso, eu pinto para mim – havia dito Goya.

Ele não sabia que pintava para nós.

(Eduardo Galeano, no livro Os Filhos dos Dias,
2ª Edição, 2012, pág. 129, L&PM Editores)

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