Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Brasília em festa

Quarta, 27 de abril de 2022



Brasília em festa

Por Isaac Roitman.
27 De Abril De 2022

Comemoramos 62 anos da criação de nossa capital e também 60 anos da UnB

É bastante comum se receber notícias de nossa capital, com perplexidade e preocupações. Tentarei convencer os leitores que Brasília é uma fonte de inspiração e celebração. Em abril de 2022 comemoramos 62 anos da criação de nossa capital e também 60 anos de nossa querida Universidade de Brasília (UnB), e também nesse ano o centenário de Darcy Ribeiro, que, em parceria com Anísio Teixeira, implantou a UnB.

É pertinente lembrar o pensamento de Juscelino Kubitschek feito em 1956: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”

Temos todos, brasilienses de nascimento ou de adoção, um compromisso com os fundadores da capital que deve ser uma cidade laboratório e espalhar as iniciativas virtuosas para todo o Brasil. Ainda estamos muito longe de termos um Brasil feliz e justo. Para superar as crises, em todas as dimensões, precisamos implantar, desde os primeiros anos de vida, uma educação para a cidadania onde as práticas pedagógicas devem estimular o pensamento, a criatividade, as práticas sociais civilizadas e a crítica argumentada. Virtudes e hábitos tais como, solidariedade, ética, bondade, respeito a diversidade, respeito ao meio ambiente, compaixão e amor devem ser implantadas e cultivadas.

Essas ideias já eram defendidas por Anísio Teixeira que pregava que a sociedade democrática deve ser forjada através da escola. Devemos ser otimistas e crer no aperfeiçoamento da democracia. A democracia brasileira precisa ser preservada, fortalecida e consolidada em um processo de construção que é de responsabilidade de todos nós.

Desde a sua fundação, a UnB procurou ser inovadora. Em 1986, foi a primeira universidade brasileira a criar um Centro de Estudos Avançado Multidisciplinares, o CEAM, estimulando a criação de centros semelhantes em outras universidades do país.

Um outro aspecto que indica um pioneirismo da UnB foi o estabelecimento de medida que favorece os direitos humanos e o combate da discriminação racial dos afrodescendentes e de povos originários com o benefício de cotas e vagas indicadas para acesso à universidade. Esse acesso colaborou na ascensão de muitos estudantes que, de outro modo, não ingressariam em curso superior.

A UnB, além de seu campus Darcy Ribeiro, implantou campus em Ceilândia, Gama e Planaltina, ampliando seus laços com a sociedade de Brasília e de sua área de influência geográfica. A UnB foi a primeira Universidade federal a implantar cotas para afrodescendentes e de origem ancestral. Esse acesso, foi inédito no país inteiro e colaborou na ascensão de muitos estudantes que, de outro modo, não ingressariam em curso superior.

Pode-se afirmar que, sempre necessária e essencial, a Universidade deu um passo importante para enfrentar o desafio reduzindo as desigualdades econômicas e sociais, tornando-se mais inclusiva, como apontava sempre o seu primeiro reitor, Darcy Ribeiro.

O grande desafio é que os jovens e toda a sociedade brasileira defendam esse tesouro, esse valioso patrimônio brasileiro que é a Universidade Pública. Para a Universidade Pública, o grande desafio é a consolidação da responsabilidade social em seus formandos e a produção do saber que será o instrumento para conquista da equidade social do povo brasileiro. Assim estaremos plantando um futuro virtuoso para o Brasil.

Vivas à UnB e a Brasília. Lembremos o pensamento do grande geógrafo Milton Santos, que pode indicar os caminhos do futuro dessa linda, necessária e sexagenária Universidade e de sua linda capital Brasília: “A coisa mais importante para os brasileiros é inventar o Brasil que nós queremos.”

Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e membro do Movimento 2022-2030 o Brasil e o Mundo que queremos.