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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

CRISE HUMANITÁRIA —Terra Indígena Yanomami tem queda de 80% nas áreas atingidas por garimpo ilegal, diz Ministério da Defesa

Sexta, 15 de setembro de 2023
Ministério da Defesa diz que grandes pontos de garimpo na Terra Indígena Yanomami já foram desativados - Bruno Kelly/Amazônia Real

Queda ocorre sete meses após início da expulsão dos invasores; garimpeiros remanescentes seguem provocando insegurança

Redação
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 15 de Setembro de 2023

A área atingida pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami caiu 78,5% entre janeiro e setembro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (15) pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), do Ministério da Defesa.

Nos primeiros nove meses de 2023, a área impactada pelo garimpo foi de 214 hectares. Já no ano passado atividade ocupou 999 hectares, conforme aponta o monitoramento por satélite do Cenispam.

Na terra indígena Yanomami, o garimpo ilegal provocou uma crise humanitária que, ignorada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), resultou na morte por causas evitáveis de pelo menos 570 crianças indígenas.


Segundo o Ministério da Defesa, a redução de quase 80% indica que a presença dos garimpeiros está restrita a pequenas áreas da região e que as maiores concentrações de invasores foram desmobilizadas.

Imagens de satélite divulgadas pelo Cinespam mostram que houve mudança na coloração de dois rios afetados pelo garimpo - Uraricoera e Mucajaí. O cor amarelada, fruto da contaminação pelo mercúrio, deu lugar ao tom mais natural mais escuro da água.

Imagens de satélite mostram rios mais saudáveis após redução de 80% no garimpo na Terra Indígena Yanomami / Divulgação/Governo Federal

A baixa no garimpo ocorre sete meses após o governo federal deflagrar a operação Libertação, que mobiliza 700 integrantes de diferentes instituições governamentais, com o objetivo de por fim ao garimpo ilegal no território Yanomami.

Após a intervenção do governo federal, foram abertas frentes de atendimento de saúde dentro do território. As vítimas sofriam com malária, verminoses, desnutrição e contaminação por mercúrio.

Garimpo segue provocando insegurança, dizem indígenas

Um relatório lançado em agosto deste ano por associações Yanomami e Ye’kwana aponta que garimpeiros ainda persistem no território, provocando instabilidade e insegurança.

As organizações indígenas dizem que políticos, militares e facções criminosas ligadas ao garimpo ilegal contribuem para tumultuar e atrasar ainda mais o processo de expulsão dos garimpeiros, que se arrasta desde fevereiro deste ano.

O relatório cobra ações do governo federal para aperfeiçoar e ampliar ações de saúde, ajuda humanitária e restabelecimento de segurança alimentar, profundamente afetadas pelo garimpo.


"Talvez você possa considerar 70% de evolução positiva depois de 6 meses. Mas ainda precisa ser olhado mais para dentro da terra Yanomami" afirmou em agosto Maurício Ye'kwana, da Hutukara Associação Yanomami.

"[A gestão federal] precisa ter esse diálogo com as organizações indígenas. Porque só o governo entrando lá dentro e tentando fazer algo não vai conseguir fazer. Não sem a presença das organizações indígenas que estão ali", cobrou o líder indígena.

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) reconhece que ainda há questões a serem resolvidas envolvendo a Terra Indígena Yanomami, mas afirmou que a reconstrução dos estragos que foram feitos ao longo de anos de descaso leva algum tempo.

"Ainda assim, podemos afirmar que o tratamento dispensado não só aos Yanomami, mas a todos os povos indígenas, já mudou para melhor", declarou o MPI.

Edição: Thalita Pires