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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Goiânia Área do Desastre Radioativo com o Césio 137. O desastre aconteceu há exatos 36 anos. No dia 13 de setembro de 1987

Quarta, 13 de setembro de 2023
Instalações da clínica de onde foi retirada a cápsula, em Goiânia (Foto: Divulgação/Cnen)

Texto de 
Geraldo da Costa Júnior*

Fundada em 1933 por Pedro Ludovico Teixeira, Goiânia completará 90 anos em 24 de outubro, cidade que foi concebida dentro do escopo de modernidade que depois geraria Brasília, a Capital Federal. Como sói acontecer com as cidades modernas, para sua instalação foi escolhida uma região que apresentasse topografia regular e rede de drenagem adequada a um plano urbanístico além de seu tempo, com avenidas longas, grandes praças arborizadas e planejadas em espaços funcionais demarcados em áreas para órgãos públicos, residenciais e comerciais.

Na década de 1980, Goiânia vivia o ápice de sua juventude e um período desenvolvimentista surgia num horizonte em que era considerada a Capital mais organizada do país, com boa qualidade de vida e palco até de eventos culturais e esportivos internacionais, e sede de shows musicais de turnês do mundo inteiro e da Copa América de Futebol e Corridas de Moto do Mundial de Pilotos em 19873 1989.

E assim, exatamente em 1987, ocorre o desastre com a cápsula contendo o material radioativo Césio 137, fruto mal ajambrado do descuido e da falta de compromisso com a saúde e o bem-estar social e econômico, pois o rompimento do aparelho se deu em um terreno de uma clínica hospitalar abandonada onde ainda se encontrava equipamento de exame radiológico.

Catadores de lixo para reciclagem adentraram as dependências da clínica, que ficava próximo à antiga Santa Casa de Misericórdia — onde hoje se encontra o Centro de Convenções de Goiânia na avenida Tocantins e adjacências da Rua 4 no centro de Goiânia.

A partir da penetração do terreno abandonado da clínica que estava sem nenhuma vigilância a cápsula foi levada e depois violada.

Acontece, então, o desastre que iria desandar no maior sinistro radiológico ao mundo, pouco mais de um ano após o Desastre Nuclear com a Usina de Chernobyl, na Ucrânia, ainda sob os domínios da União Soviética, atual Rússia, em abril de 1986.

Talvez por isto a mídia internacional além da nacional acorreu para Goiânia e a cidade ficou traumatizada, estigmatizada e impotente com as mortes, ferimentos e mutilações de pessoas pela radiação — o terreno onde a cápsula foi arrombada no antigo Bairro Popular, hoje zona central da cidade encontra-se interditado até hoje.

Toneladas de material possivelmente radioativo foram enterradas sob uma camada de concreto de vários metros em Abadía de Goiás, a 18 quilômetros de Goiânia. As pessoas atingidas pelo desastre, catadores, servidores públicos da vigilância sanitária, PMs e bombeiros foram divididos em 3 grupos de acordo com a periculosidade a que foram expostas e hoje boa parte recebe uma forma de auxílio, alguns, pensão do Estado de Goiás e do Governo Federal, exceto uma parte que nada recebeu.

Os sucessivos governos do Estado de Goiás e da Prefeitura de Goiânia vêm desde o desastre operando políticas públicas de apagamento da memória dos eventos trágicos relacionados após ‘acidente’ com o Césio 137. Um memorial que seria construído em homenagem as vítimas jamais saiu das ‘intenções’, A Santa Casa de Misericórdia foi removida do local do desastre, o Estádio Olímpico foi completamente reformado com sua fachada modernizada, apagando a memória de que naquele estádio é que se fez a medição da radiação em milhares de pessoas.
Desta forma, as novas gerações mesmo os descendentes das vítimas do Césio 137, levam uma vida de esquecimento desta história, que apesar de triste, deve ser sempre lembrada, pois diversos episódios envolvendo material radioativo ocorreram desde então, e corre-se o risco de uma tragédia ainda maior no Brasil.


*Autor: Geraldo da Costa Júnior, mestre em História, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental  (EPPGGe Jornalista.