Quinta, 4 de agosto de 2011
Por Ivan de Carvalho

E apesar de toda essa repressão comandada pelo presidente-ditador Bashar al-Assad – há onze anos no cargo que herdou de seu pai, Hafez al-Assad, que morreu depois de exercer a ditadura por três décadas – as manifestações populares contrárias ao governo e que exigem reformas no país, especialmente liberdade e democracia, estão transformando-se numa rebelião.
Essa mudança de manifestações pacíficas que cresceram à medida que a repressão violenta, indiscriminada e cruel foi sendo ampliada, tornando-se, na prática, numa grande rebelião desarmada, conseguiu levar o governo sírio a uma situação internacional muito incômoda. Daí o que aconteceu ontem no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
O Conselho de Segurança evitou, pelo menos por enquanto, tomar a forma de medida mais grave à sua disposição, representada por uma Resolução, cuja força de constranger o estado-alvo é bem maior que a da medida escolhida, a “declaração presidencial”, lida pelo presidente rotativo do Conselho, o embaixador indiano Hardeep Singh Puri. A “declaração presidencial” condena a violência do regime sírio contra a população civil desde o início dos protestos e pede que essa violência (unilateral) cesse imediatamente. Diz ainda que “os responsáveis pela violência devem ser responsabilizados”.
Bom sinal para a política externa brasileira é que a decisão do Conselho de Segurança da ONU foi tomada com base numa proposta discutida em conjunto pelas delegações brasileira e britânica. Não é o fato da participação brasileira que é importante, mas a iniciativa do Brasil de co-liderar uma posição que inegavelmente condena o que vem praticando o regime sírio contra o povo sírio.
Explicando melhor: importa, a respeito da política externa brasileira, a posição condenatória do comportamento do regime sírio e, em conseqüência, favorável à liberdade de manifestação do povo manietado pelo regime brutal da família al-Assad há quatro décadas.
Vamos combinar uma coisa: se o presidente do Brasil fosse ainda Luiz Inácio Lula da Silva, a posição brasileira no Conselho de Segurança teria sido outra. Muito provavelmente uma discreta resistência a qualquer condenação à Síria e a abstenção na votação.
A presidente Dilma Rousseff não está (no meu modo de ver) fazendo uma política externa firme e coerente, há situações em que evita entrar em bola dividida, mas, de um modo geral, está sendo mais fiel à liberdade, à democracia e aos direitos humanos que a lamentável e às vezes ridícula política externa exercitada pelo governo Lula.
Voltando à decisão do Conselho de Segurança da ONU. Ontem, enquanto o órgão divulgava sua “declaração presidencial”, a ditadura síria ocupou, com tanques de guerra, a praça Orontes, principal da cidade de Hama, logo depois de bombardear pesadamente a cidade, segundo relataram seus moradores. A praça tem sido um dos locais sírios em que mais ocorrem manifestações importantes. Todas as comunicações com a cidade foram cortadas.
Uma sugestão? É hora do governo brasileiro pedir nova reunião do Conselho de Segurança da ONU e propor coisa mais dura do que a “declaração presidencial” de oito pontos aprovada ontem.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.