Sábado, 27 de agosto de 2011
Da revista Veja
Com 'gabinete' instalado em um hotel, ex-ministro recebe autoridades da República para, entre outras atividades, conspirar contra o governo Dilma
7/6/2011 - 12:41:04 | José Dirceu o “chefe da quadrilha do mensalão”: Enquanto Dilma enfrentava sua maior crise, ele se reunia com integrantes do primeiro escalão do governo - Reprodução/Veja
Desde que foi abatido pelo escândalo do mensalão, em 2005, tudo em que o
ex-ministro José Dirceu se envolve é sempre enevoado por suspeitas.
Oficialmente, ele ganha a vida como um bem sucedido consultor de
empresas instalado em São Paulo. Na clandestinidade, porém, mantém um
concorrido “gabinete” a 3 quilômetros do Palácio do Planalto, instalado
numa suíte de hotel. Tem carro à disposição, motorista, secretário e,
mais impressionante, mantém uma agenda sempre recheada de audiências com
próceres da República – ministros, senadores e deputados, o presidente
da maior estatal do país. José Dirceu não vai às autoridades. As
autoridades é que vão a José Dirceu, numa demonstração de que o chefão –
a quem continuam a chamar de “ministro” – ainda é poderoso.
Dirceu: chefão do PT
A edição de VEJA que chega às bancas neste sábado revela a verdade sobre uma das atividades do ex-ministro: mesmo com os direitos políticos cassados, sob ameaça de ir para a cadeia por corrupção, ele continua o todo-poderoso comandante do PT. E agora com um ingrediente ainda mais complicador: ele usa toda a sua influência para conspirar contra o governo Dilma – e a presidente sabe disso.
A conspiração chegou ao paroxismo durante a crise que resultou na queda
de Antonio Palocci da Casa Civil, no início de junho. Na ocasião,
Dirceu despachou diretamente de seu bunker instalado na área vip de um
hotel cinco estrelas de Brasília, num andar onde o acesso é restrito a
hóspedes e pessoas autorizadas. Foram 45 horas de reuniões que
sacramentaram a derrocada de Palocci e nas quais foi articulada uma
frustrada tentativa do grupo do ex-ministro de ocupar os espaços que se
abririam com a demissão. Articulação minuciosamente monitorada pelo
Palácio do Planalto, que já havia captado sinais de uma conspiração de
Dirceu e de seu grupo para influir nos acontecimentos daquela semana.
Imagens obtidas por VEJA e que estão na galeria que ilustra esta
reportagem mostram que Dirceu recebeu, entre 6 e 8 de junho, visitantes
ilustres como o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, os
senadores Walter Pinheiro, Delcídio Amaral e Lindbergh Farias, todos do
PT, e Eduardo Braga, do PMDB, o presidente da Petrobras, José Sérgio
Gabrielli, e os deputados Devanir Ribeiro e Cândido Vaccarezza, do PT, e
Eduardo Gomes, do PSDB. Esteve por lá também o ex-senador tucano
Eduardo Siqueira Campos.
Apesar de tantas articulações, Dirceu não conseguiu abocanhar cargos
para seus indicados no governo. A presidente Dilma já havia sido
advertida por assessores do perigo de delegar poderes a companheiros que
orbitam em torno de Dirceu. Dilma também conhece bem os caminhos da
guerrilha política e não perde de vista os passos do chefão. “A Dilma e o
PT, principalmente o PT afinado com o Dirceu, vivem uma relação de amor
e ódio”, diz um interlocutor da confiança da presidente e do
ex-ministro.
Dirceu anda muito insatisfeito com o fato de a legenda não ter
conseguido, como previra, impor-se à presidente da República. Dilma está
resistindo bem. Uma faxina menos visível é a que ela está fazendo nos
bancos públicos. Aos poucos, vem substituindo camaradas ligados a Dirceu
por gente de sua confiança. E o chefão não tem gostado nada disso.
O advogado Hélio Madalena e o hotel onde funciona o "gabinete" do ex-ministro
Procurado por VEJA, Dirceu não respondeu às perguntas que lhe foram
feitas. A suíte reservada permanentemente ao “ministro” custa 500 reais a
diária. Quem paga a conta é o escritório de advocacia Tessele &
Madalena, que tem como um dos sócios outro ex-assessor de Dirceu, o
advogado Hélio Madalena. Na última quinta-feira, depois de ser indagado
sobre o caso, Madalena instou a segurança do hotel Naoum a procurar uma
delegacia de polícia para acusar o repórter de VEJA de ter tentado
invadir o apartamento que seu escritório aluga e, gentilmente, cede como
“ocupação residencial” a José Dirceu.
O jornalista esteve mesmo no hotel, investigando, tentando descobrir
que atração é essa que um homem acusado de chefiar uma quadrilha de
vigaristas ainda exerce sobre tantas autoridades. Tentando descobrir por
que o nome dele não consta na relação de hóspedes. Tentando descobrir
por que uma empresa de advocacia paga a fatura de sua misteriosa
“residência” em Brasília. Enfim, tentando mostrar a verdade sobre as
atividades de um personagem que age sempre na sombra. E conseguiu. Mas a
máfia não perdoa.