Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 27 de maio de 2012

A Marcha de Brasília contra a corrupção: qual o significado do apartidarismo?

Domingo, 27 de maio de 2012
Por Marcello Barra*
Não ter partido é um partido, assim como o silêncio tem significado. A consequência prática de quem diz não ter partido é muito clara no mundo real: a manutenção da situação e do status quo, portanto, o partido que está no poder, da classe dominante - como Marx os chamou, os “partidos da ordem”.

A mídia é financiada pelos grandes bancos, empresas multinacionais e governo, por isso ela defende o status quo. Defende não de maneira explícita, pois seria facilmente desmascada, mas de uma maneira sutil e dissimulada, seja através da programação exibida e da seleção e modo de exibição das notícias.

Há relação entre a mídia da classe dominante e os "apartidários" (partidários da manutenção). A mídia reforça o chamado apartidarismo. Como? Na grande parte da programação, excluindo a importância dos partidos para a organização política da sociedade e, mais especificamente nos telejornais, promovendo e divulgando movimentos ditos apartidários e não os partidário. Organização política é partido político. O contrário são os ditadores e salvadores da pátria (indivíduos que trazem os interesses das elites dominantes), os SuperCollors, miraculosos, “o cara”.

A mídia defende o apartidarismo pois ela própria é o principal partido da ordem, como mostrou Roberto Robaina através do caso do Jornal Nacional.A maneira existente para agir dentro da política é através de um partido político - os movimentos sociais representam a ação do mundo social na política, que influenciam a esfera política, mas não são o mundo político propriamente dito. Ademais, o sistema político da sociedade atual é a democracia formal, que se caracteriza pelo voto como principal instrumento de mudança institucional. Em síntese, enquanto a conjuntura for de (relativa) estabilidade social e econômica, a mudança só ocorre dentro da institucionalidade e a única ferramenta política da classe trabalhadora e do povo na institucionalidade é o partido político.

Veja o exemplo da Espanha. Os espanhois lideraram a mobilização dos indignados na Europa. Entretanto, apesar de combaterem os dois partidos do poder com a palavra de ordem "Ni PP, Ni PSOE", o PSDB e PT deles, ao não se organizarem em partido político, contribuíram para a vitória da direita explícita, lá representada pelo PP (PSDB). Hoje há um racha nos indignados da Espanha: aqueles que defendem a organização política do movimento e aqueles pela não-organização. Com isso se vê a diferença entre setores consequentes e setores inconsequentes. De que adiantam marchas, protestos, panfletos, confrontos, lutas se a não-organização política leva ao retrocesso?

A Grécia dá o exemplo consequente. Grande parte dos indignados gregos, que foram aqueles que ocuparam as praças e instituiram assembleias populares nas ruas, convergiram para a esquerda anticapitalista, na forma de uma coalizão de partidos de esquerda, o Syriza. Este é considerado o grande vencedor das eleições e lidera as pesquisas para as próximas, dado que não houve formação de uma maioria, e teve-se que chamar outra eleição.

A Revolução Árabe iniciou a rebelião das massas em 2011. Os revolucionários tunisianos e egípcios impuseram à classe dominante a organização em partidos políticos legalizados, que lhes era proibida. No Brasil, a sociedade lutou tenazmente contra a ditadura militar e, graças a isso, hoje os partidos políticos são um direito garantido na Constituição, em que as pessoas são livres para se filiarem. Partidos políticos são uma conquista da democracia brasileira.

O Chile é um exemplo de nossos irmãos latino-americanos muito significativo. O movimento dos estudantes secundaristas, os pinguins, foi muito forte e impulsionou uma enorme mobilização da sociedade, que veio a envolver os universitários, as famílias e os trabalhadores chilenos. Este movimento derrubou a direção pelega da UNE deles, dirigida pelo correspondente ao PCdoB/UJS daqui. Camila Vallejo não representava combate, lutas e compromisso com o real interesse dos estudantes. Caiu Camila Valejos, caiu UJS, caiu PCdoB na UNE deles! Os estudantes radicalizados venceram. Paralelamente, do enorme movimento surgiram novas lideranças estudantis e juvenis, que criaram novos partidos políticos que correspondem às reais necessidades de organização e luta.

A via concreta que existe hoje no Brasil é partidária. Suprimir o partido da classe proletária da luta histórica contra a corrupção significa a derrota dos 99% de brasileiros, dos oprimidos, explorados e dominados. O apartidarismo significa a vitória de 1%. #ElesNãoNosRepresentam.

A Democracia REAL já! é a luta para que os 99% de fato mandem, e não os 1%, como é hoje. Por isso, o partido político é tão necessário para o povo e a classe trabalhadora. E também por isso que a ideologia do apartidarismo representa a defesa da ordem, do sistema corrupto com Cachoeiras e banqueiros.
Para conhecer mais:

Manifesto Contra a corrupção, em defesa da política. A Marcha de Brasília contra a corrupção.

Isso não causa revolta de massas pois corrobora a ideologia diariamente transmitida pela mídia. Por sua vez, os setores sociais diretamente atingidos pelo ataque da mídia se conscientizam e reagem, e também os segmentos sociais mais politizados da classe trabalhadora.



*Marcelo Barra - Sociólogo - para O MIRACULOSO