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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Governo americano autorizou venda de armas que reprimem a primavera árabe

Sexta, 20 de julho de 2012
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo

Por Zach Toombs e R. Jeffrey Smith, da iWatch News

Enquanto critica a repressão a manifestações populares, Washington autoriza e estimula venda de armamento americano para países como o Egito e a Argélia

Uma cisão dentro do governo americano revela uma das maiores contradições no modo como o país se posiciona internacionalmente. Enquanto se anuncia como defensor da democracia, e apóia manifestações populares contra regimes totalitários pelo mundo, Washington autoriza vendas bilionárias de armas e equipamentos para controle de protestos (como gás lacrimogêneo) para esses mesmos regimes.

A contradição veio à tona depois de um racha na publicação de relatórios feitos por diferentes setores do governo em maio e junho desse ano. De um lado, os departamentos envolvidos com a proteção aos direitos humanos criticam os governos de outros países por falta de princípios democráticos, citando abusos ao direito de expressão, reunião, discurso e escolha política. Do outro, setores ligados aos assuntos político-militares exaltam o sucesso do governo americano no estímulo a um mercado bilionário que só cresce: à exportação de armamento.

Para se ter uma ideia do tamanho desse mercado, o relatório do Departamento de Estado sobre assistência militar, de 8 de junho, afirma que o governo aprovou U$44,28 bilhões em carregamentos e armas para 173 nações no último ano. Entre elas, há lugares onde há fartos relatos de violações de direitos humanos, como Emirados Árabes, Qatar, Israel, Djibouti, Honduras, Arábia Saudita, Kuwait e Bahrein. E pelo menos três países onde o governo local reprimiu a resistência democrática no ano passado – Argélia, Egito e Peru. Além do governo do Egito, que comprou equipamentos para dispersar manifestante, como o gás lacrimogêneo, com o aval de Washington.

No mesmo ano em que estourou a primavera árabe, cresceu a exportação de armas americanas – comércio que o governo americano prefere chamar de “parceria”. As vendas de armas autorizadas alcançou U$44,28 bilhões no ano passado, U$10 bilhões a mais que em 2010. Segundo o departamento de estado americano, deve haver um aumento de 70% no ano que vem.

Essas vendas – somados à a exportação feita diretamente de governo para governo, que são supervisionados pelo Pentágono – fazem dos Estados Unidos o maior provedor mundial de armas convencionais, segundo o Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa sobre Paz (Stockholm International Peace Research Institute). Rússia, França e China estão logo atrás nesse ranking. Os EUA cresceu recentemente nesse setor graças à expansão das vendas para o Brasil, Arábia Saudita e Índia.

“Nós vamos continuar a pressionar e defender a venda de armas dos Estados Unidos”, disse Andrew Shapiro, Secretário Assistente da Secretaria de Assuntos Político-Militares do governo americano, em coletiva de imprensa sobre a exportação de armas em junho. “Estamos esperançosos de que as vendas para a Índia aumentem. Fizemos grande progresso nessa relação na última década”. Segundo ele, na última década, as vendas de armas para a Índia saltaram de “quase zero” para U$8 bilhões.