Sábado, 29 de junho de 2013
Vittorio Medioli (O Tempo)
É realmente deplorável assistir a atos de vândalos que queimam
carros, quebram vidraças, saqueiam lojas e, mais ainda, ver jovens
arriscando-se sob chuva de bombas lacrimogêneas, mesmo aqueles pacíficos
em seu direito de se manifestar que, atingidos na cabeça, podem ser
mortos ou ter um olho esmagado por uma bala de borracha. Balas que se
usam apenas em países incivilizados ou ditaduras. O vandalismo coloca em
risco policiais, também insatisfeitos e inocentes, ao soldo de
governantes que não elegeram.
O vandalismo mostrado nas telas, e comentado com desgosto e semblante
fechado, revolta muita gente em suas casas. Deplorável a quebra de
vidraças do Palácio do Itamaraty, em Brasília. Ninguém concorda com
isso. Agredir uma obra de arte projetada por Oscar Niemayer, admirada
internacionalmente e que conserva obras de artistas famosos, despertou
ao vivo as preocupações de milhões de pessoas. Um prédio tão genial,
inspirador de milhares de outros em todo o planeta, palácio que hospeda a
câmara dos botões do sistema diplomático do Brasil.
Depois ouvi dizer que vandalismo com o patrimônio e o dinheiro
público é ter aberto, nos últimos dez anos, cerca de 50 novas embaixadas
que se reportam a esse Itamaraty, a maioria em países exóticos e
paradisíacos, dotadas com um mínimo de 25 funcionários. Nelas o
embaixador mais simples ganha R$ 50 mil, o mais estrelado, R$ 70 mil, o
funcionário de nível inferior, cerca de R$ 25 mil, entre o salário
propriamente dito e as “verbas”. O custo de uma embaixada, segundo os
dados que se podem encontrar fora da caixa-preta do Itamaraty, aponta um
mínimo de R$ 10 milhões a cada ano por uma embaixada de menor porte.
Nessa categoria se enquadra uma dúzia em paraísos caribenhos cercados de
mar azul e fora da rota turística. Hoje o Brasil possui 92 embaixadas
megalomaníacas cobiçadas por aliados e partidários que procuram o
“dolce” e bem-remunerado “far niente”.
São Vicente e Granadinas (população de 121 mil), Santa Lúcia (162
mil), São Cristóvão e Nevis (51 mil), Barbados (279 mil), Antígua e
Barbuda (88 mil) por um total geral de 701 mil habitantes, na mesma
região, provavelmente custam mais de R$ 50 milhões por ano.
VANDALISMO DE VERDADE
Vandalismo, dizem os vândalos e os despolitizados, é deixar milhões
de brasileiros correndo desesperadamente de um posto de saúde a outro
sem encontrar atendimento, hospitais lotados em seus corredores, com
falta de médicos, leitos e material.
Vandalismo entre esses arruaceiros é considerado deixar um idoso
sentado numa cadeira escancarada por 24 horas tomando soro até ruir aos
pés dos filhos que choram, apenas choram. Deixar um enfartado morrendo
numa maca suja; “internar” pacientes em colchonete estendidos no chão,
sem fraldas, lençóis; aguardar 15 dias para recompor uma fratura exposta
que leva a amputação. Não ter fio cirúrgico e álcool, remédios e o
básico.
Outro vandalismo que as ruas comentam é não ter creches para crianças
que vivem em ambientes insalubres e imundos; vandalismo de Estado é
prometer 6.300 creches em quatro anos e depois de 30 meses ter apenas um
número insignificante e, portanto, não informado. Barbaridade é ter 39
ministérios inúteis e criar mais um para abrigar Afif Domingos, um dublê
de empresário, mas assim mesmo merecer seu kit de jato-executivo,
cartão corporativo, residência oficial e um sem números de assessores e
serviçais.
DINHEIRO PELO RALO
Vandalismo, insistem esses baderneiros, é jogar dinheiro pelo ralo.
Barbaridade é ter uma carga tributária escandinava para manter uma
classe de políticos que se trancam dentro do Congresso e votam às
pressas, agora, aquilo que era negociado anteriormente por benesses e
nomeações.
Barbárie, gritam, é deixar escola sem carteiras e professores sem condições de dar aula.
Outro vandalismo seria nomear ministro do STF para dar impunidade a
mensaleiros que nunca irão para cadeia; eleger presidente do Congresso
que já foi cassado do mesmo cargo por improbidade e corrupção;
primitivismo é tratar de cura gay, sem atar a camisa de força para os
deputados a favor.
Vândalos são esses gringos que chegam de países ricos e ditam como se
gasta R$ 30 bilhões para uma Copa, com um custo médio de R$ 800 milhões
por estádio, construídos em apenas 30 meses. Enquanto isso, com creches
não se gastou mais que R$ 50 milhões.
Hediondo é permitir que a Fifa, presidida por acusados de ladroagem, chegue a ter importância de papa.
Vandalismo é demolir uma potência como a Petrobras, arrasar o setor
de etanol, combustível limpo que poderíamos ter em abundância.
Vandalismo é abandonar estradas e BRs, possibilitando um extermínio nas crateras que se abriram em todo o Brasil.
Enfim, este país tem muitos vandalismos a serem eliminados, para poder escapar do inferno.
Fonte: Tribuna da Imprensa / O Tempo