Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 30 de junho de 2013

Julian Assange: Declaração após um ano na Embaixada do Equador

Domingo, 30 de junho de 2013

Declaração após um ano na Embaixada do Equador

por Julian Assange
Já se passou um ano desde que cheguei a esta Embaixada em busca de refúgio à perseguição.

Em consequência dessa decisão, pude trabalhar relativamente a salvo da espionagem estado-unidense.
 
Mas hoje, o calvário de Edward Snowden acaba de começar.
 
Dois processos perigosos e fora de controle instalaram-se na última década, com consequências fatais para a democracia.
 
O segredo de Estado propagou-se a uma escala aterradora.
 
Simultaneamente, a privacidade humana foi secretamente erradicada.
 
Algumas semanas atrás, Edward Snowden revelou a existência de um programa em execução – que envolve a administração Obama, a comunidade de inteligência e as maiores corporações de serviços da Internet – destinado a espiar o mundo inteiro.
 
Automaticamente foram-lhe atribuídas pela administração Obama acusações de espionagem.

 
O governo dos Estados Unidos espia todos e cada um de nós, mas é Edward Snowden que é acusado de espionagem, por nos haver alertado.
 
Estamos a chegar ao ponto em que a marca de distinção internacional e de serviço à humanidade já não é mais o Prémio Nobel da Paz mas sim uma acusação de espionagem por parte do Departamento da Justiça dos EUA.
 
Edward Snowden é o oitavo denunciante acusado de espionagem sob a administração deste presidente.
 
O julgamento mediático de Bradley Manning entra na sua quarta semana esta segunda-feira.
 
Depois de uma sucessão de injustiças contra ele cometidas, o governo dos Estados Unidos está a tentar declará-lo culpável de "colaborar com o inimigo".
 
A palavra "traidor" tem sido muito utilizada ultimamente.
 
Mas quem é realmente o traidor aqui?
 
Quem foi que prometeu a uma geração "esperança" e "mudança", só para trair aquelas promessas com lúgubre miséria e estagnação?
 
Quem jurou defender a Constituição dos Estados Unidos, só para a seguir alimentar a besta invisível das leis secretas que a devora viva a partir de dentro?
 
Quem prometeu presidir "a administração mais transparente da História", só para esmagar um denunciante após o outro sob o peso das acusações de espionagem?
 
Que combinou no seu executivo os poderes de juiz, jurado e executor, reivindicando todo o planeta como sua jurisdição para exercer esses poderes?
 
Quem se arroga o poder de espiar o planeta inteiro – cada um de nós – e quando é apanhado em flagrante nos explica que "vamos ter de escolher"?
 
Quem é essa pessoa?
 
Sejamos muito cuidadosos acerca de quem chamamos "traidor".
 
Edward Snowden é um dos nossos.
 
São jovens com formação técnica que pertencem à geração traída por Barack Obama.
 
São a geração que cresceu com a Internet e que foi por ela formada.
 
O governo estado-unidense sempre vai precisar analistas de inteligência e administradores de sistema e vai ter de contratá-los entre os membros desta geração e das que se seguirão.
 
Um dia, esta geração dirigirá a NSA, a CIA e o FBI.
 
Não se trata de um fenómeno que vá desaparecer.
 
Trata-se de algo inevitável.
 
Ao tentar destruir estes jovens que nos alertam, acusando-os de espionagem, o governo dos Estados Unidos está a enfrentar toda uma geração e essa é uma batalha que vai perder.
 
Isto não é o modo de consertar as coisas.
 
A única maneira de consertá-las é esta:
 
Mudem as políticas.
 
Deixem de espionar o mundo.
 
Eliminem as leis secretas.
 
Cessem as detenções por tempo indefinido e sem julgamento.
 
Deixem de assassinar pessoas.
 
Deixem de invadir outros países e de enviar jovens estado-unidenses para matar e morrer.
 
Parem as ocupações e acabem com as guerras secretas.
 
Deixem de devorar os jovens: Edward Snowden, Barrett Brown, Jeremy Hammond, Aaron Swartz, Gottfrid Svartholm, Jacob Appelbaum e Bradley Manning.
 
As acusações contra Edward Snowden pretendem intimidar qualquer país que possa estar a considerar levantar-se pelos seus direitos.
 
Não se pode permitir que essa táctica funcione.
 
O esforço a fim de encontrar asilo para Edward Snowden deve ser intensificado.
 
Qual será o corajoso país que se erguerá em favor dele e reconhecerá o serviço que prestou à humanidade?
 
Digam aos seus governos para darem um passo em frente.
 
Avancem e apoiem Snowden.

O original encontra-se em http://wikileaks.org/Statement-by-Julian-Assange-after,249.html

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .