Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
A
ficha já deve estar caindo para os petistas que me satanizaram ou
ignoraram durante a última campanha eleitoral: era eu quem via mais
longe, não os jenios que dirigem o partido.
Bom conhecedor do que seja um arrocho fiscal, uma recessão e de como se
comporta o povo brasileiro quando seu bolso fica vazio, eu adverti: já
que lhe faltava coragem política para tentar trilhar caminho diferente
do da ortodoxia econômica do capitalismo, então melhor seria o PT, pelo
menos, não continuar na Presidência da República no período 2015/2018,
deixando para outra força qualquer o mico de acertas as contas públicas
tirando o couro e o sangue dos explorados.
Surgiu uma chance de sair do Palácio do Planalto sem grandes traumas:
perder para os tucanos seria duro de engolirem, mas a entrada da Marina
Silva na disputa facilitava tudo.
Filha pródiga do petismo, ela não era, até então, exacerbadamente hostil
ao seu partido de origem, nem levava jeito de, num mandato presidencial
adquirir solidez política. Exatamente por conta do desagrado no qual
incorre quem faz o serviço sujo do capitalismo, a tendência seria a de
não conseguir se reeleger nem fazer seu sucessor. O mais provável,
então, é que Lula voltasse garbosamente em 2018.
Sabe-se lá o porquê --suspeito que todos os bons companheiros pendurados nos infinitos cabides do governo e das estatais ou beneficiários de boquinhas hajam
tido peso determinante em tal insensatez--, o PT preferiu fincar os
dentes no osso, desconstruindo Marina com uma das campanhas eleitorais
mais mentirosas, manipulatórias e sórdidas já vistas no Brasil.
Resultado: está tendo ele próprio de desgastar-se, impondo aos
brasileiros um pacote de odiosas medidas de austeridade que parecem
copiadas de Margaret Thatcher, Ronald Reagan e Augusto Pinochet.
Neoliberalismo puro!
Ao fazer aquilo que tanto repudiava e vinha execrando há mais de três
décadas, o PT desmoralizou a si próprio e ao restante da esquerda (pois o
cidadão comum dificilmente diferencia a força majoritária das outras
tendências, vê tudo como uma coisa só).
Antes do 2º mandato completar um semestre, a recessão do Levy já fez a
rejeição a Dilma subir aos píncaros: 65% dos brasileiros a veem como
"ruim" ou "péssima", contra míseros 10% que ainda a apoiam.
E o pior ainda está para vir. Não existe a mais remota dúvida de que a
recessão se agravará (a única incógnita é vai ou não virar depressão);
nem de que a situação só vai começar a melhorar em 2017 --e isto na mais
benigna das hipóteses. O período de penúria poderá durar ainda mais.
Pelo andar da carruagem, se não renunciar nem for impedida, Dilma só por
milagre escapará de passar à História como campeã absoluta de
impopularidade presidencial, pior ainda do que o Sarney e o Collor.
Neste momento, já é um cadáver político. Talvez o cinema se inspire nela para fazer o primeiro filme sobre presidente zumbi...
Quanto a Lula, que deveria conquistar um terceiro mandato com um pé nas
costas, seu prestígio também despenca a olhos vistos. Se o 1º turno
fosse hoje, tomaria uma sova do Aécio Neves: 35% a 25%, ficando a Marina
com 18%. E ainda corre o risco de dar com os costados numa prisão,
pagando o preço da imprevidência: o mandato que não buscou na última
eleição poderá lhe fazer muita falta. O Paulo Maluf, que agora é seu
amigo desde criancinha, poderia tê-lo instruído a este respeito.
[Aliás, se tal mandato fosse o presidencial, estaríamos, pelo menos, com
um mandatário carismático e politicamente hábil, alguém que talvez
conseguisse convencer o povão a suportar melhor a fase de vacas magras.
Todas as vezes em que o "volta Lula!" pareceu ganhar força, eu
manifestei simpatia pela substituição da cabeça de chapa, pois via como o
pior cenário possível e imaginável termos uma presidenta tão fraca num
período tão complicado como o que se desenhava. Dilma quis porque quis o
bis. Para quê? Para cumprir funções cerimoniais enquanto o Levy e o
Temer governam? Será que seu sonho de menina era tornar-se rainha da
Inglaterra?]
Mais: terão os grãos petistas, no ano passado, adotado estratégias
sugeridas pelo Felipão? Pois a obstinação em vencerem a qualquer preço
uma eleição na qual a vitória não nada traria de bom está destruindo o
partido: perdeu a classe média, perderá o poder, tende a encolher
acentuadamente nas próximas eleições e é bem provável que sua componente
de esquerda migre. A consequência desse 1x7 político e moral será uma
volta à estaca zero, a necessidade de começarmos tudo de novo sem sequer
termos o prestígio de que desfrutávamos em 1980. É desalentador.