Da Tribuna da Imprensa
Sergio Caldieri
Como dizia Darcy Ribeiro há 30 anos: “Ou construímos escolas ou no
futuro teremos um exército de trombadinhas assaltando nas ruas”. Não deu
outra. Desde 1984, nos 510 CIEPs teriam estudados cerca de 20 milhões
de crianças em turno integral, que era o objetivo. Mas foram destruídos
pelo Moreira Franco, Marcello Alencar e o sistema Globo (jornal, rádios e
TV).
Se Darcy Ribeiro não fosse derrotado pelo Moreira Franco (PDS,
ex-Arena da ditadura), teria construído mais 500 CIEPs. Mais 20 milhões
de crianças estudando. Culpa delles…
Lembro que em 24 de abril de 2002, o jornalão O Globo publicou que
sete mil crianças estavam trabalhando de olheiros do tráfico nas 337
favelas na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ganhavam 600 reais
por semana. Foi justamente neste dia, durante o programa Batendo Boca,
na Rádio Nacional, do apresentador José Carlos Cataldi, que perguntei:
mas estas crianças não deveriam estar estudando nos CIEPs? E ainda
acrescentei: “Cobrem do Moreira Franco, Marcelo Alencar e do sistema
Globo”.
NO “FEICEBUQUE”
No último dia 23/5, a jornalista Régis Farr fez o seguinte comentário no Feicebuque:
“Como jornalista de educação, fui “n” vezes a vários CIEPs, uma
inclusive com a recomendação expressa da chefia de reportagem para
mostrar como o Brizola “já tinha abandonado o projeto inicial e as
crianças comiam mal e não tinham atividades depois das aulas”. O que vi
rodando pelos CIEPs da cidade, devidamente acompanhada por um fotógrafo,
foi exatamente o oposto. O almoço nos deixou com água na boca, havia
atividades desportivas e ensino orientado. Mais ainda: em alguns CIEPs
havia alunos-residentes (8 meninos dos socialmente mais problemáticos),
abrigados em espaço construído como apartamento, com um “pai” bombeiro e
sua esposa como “mãe”.
Era um projeto realmente de educação integral, para a cidadania.
Foi só o Marcelo Alencar entrar para terminar com o inovador e audacioso
sistema educacional e transformar os CIEPs em escolas de terceira
categoria, em dois turnos, pois era isso que o pobre merecia, de acordo
com o pensamento retrógrado dessa turma. À guisa de esclarecimento: eu
não era brizolista à época. E de curiosidade: escrevi uma matéria sobre o
que vi nos CIEPs visitados na ocasião. Logicamente não foi publicada e
fiquei por um tempo na geladeira. Eu trabalhava no JB, onde o
antibrizolismo era menos acintoso. Se isto tivesse acontecido no Globo,
eu teria sido despedida na hora. De fato, o jornalista Pinheiro Jr., que
foi responsável da editoria de cidade de O Globo, me contou que todos
os dias, o chefão Evandro Carlos de Andrade cobrava uma matéria contra o
governo do Leonel Brizola. Se não tinha, era para se virar, pois era
ordem do Roberto Marinho”.