Da Tribuna da Imprensa
Por Igor Mendes

Não
é possível que a chusma de intelectuais petistas que passaram os últimos meses
escrevendo acerca de um possível “golpe” sejam ignorantes a ponto de acreditar
realmente no que dizem. Minha opinião é que, na maior parte dos casos, trata-se
da defesa interesseira de uma boquinha aqui e um edital acolá, de que vive há
décadas essa “esquerda” oficial que temos no País. Os que embarcam nessa
movidos por um sincero temor da “direita” são os famosos ingênuos úteis, sem os
quais qualquer fraude política é impossível.
Basta
olhar o Ministério da senhora Dilma para ver a quais interesses seu governo
serve. Seus discursos e seu “ajuste fiscal”, idem.
Do
ponto de vista histórico, não se pode desconhecer que são completamente
diversas as situações de 1964 e 2015, internacional e também domesticamente. Há
cinco décadas atrás o mundo estava polarizado entre dois blocos, o soviético e
o norte-americano, ambos imperialistas, havendo ainda países que resistiam na
revolução socialista (caso da China Vermelha, que o foi até a morte de Mao em
1976) e nas lutas de libertação nacional (Cuba, Argélia, Vietnã,etc). O
imperialismo norte-americano, engasgado com a vitória dos guerrilheiros de
Sierra Maestra embaixo das suas barbas, não admitia a mais mínima abertura
democrática no seu quintal, a América Latina, e desencadeou golpes sucessivos
numa série de países da região. Dentro do Brasil, financiou e apoiou
politicamente a desestabilização de Jango, liquidado a partir do momento que
prometeu fazer a reforma agrária e limitar a remessa de lucros para o
estrangeiro, afrontando assim os interesses dos latifundiários e monopólios
forâneos aqui instalados.
Atualmente,
é muito mais cômodo para o “Tio Sam” jogar com a política de “democracia”,
alimentando governos eleitos em processos farsantes, pois que os principais
candidatos são financiados pelos mesmos grupos e defendem, basicamente, os
mesmos interesses. Esse o caso do Brasil. Após a “redemocratização” vivemos um
ciclo ininterrupto de privatizações, arrocho salarial, concentração da
propriedade fundiária, desemprego e tantas outras mazelas que assolam nosso
povo diariamente. O tal “combate à inflação”, baseado numa política de juros
estratosféricos, multiplicou o endividamento interno e externo, forçando o
governo a aumentar sucessivamente impostos, pagos principalmente pelos mais
pobres. A incipiente indústria nacional foi liquidada, e o papel do capital
financeiro na vida nacional, associado às empreiteiras, somente aumentou.
A
esses interesses serve a gerentona Dilma, como anteriormente serviu o pelego
Lula. Quanto ao imperialismo norte-americano, artífice do golpe de 64, não é
difícil ver sua mão na “operação salvamento” do governo petista, com viragem
brusca da cobertura da crise pela Rede Globo e demais veículos dos monopólios
de comunicação, notas de entidades empresariais e personalidades entreguistas
de longa data, inclusive FHC, que se posicionou abertamente contra o impeachment.
Tudo isso após a vexatória visita de Dilma a Obama, na qual aquela tentou (e
aparentemente conseguiu) salvo-conduto para continuar administrando a velha
semicolônia Brasil, pelo menos por enquanto. O anúncio de políticas caras ao
norte-americanos nas áreas de energia, com privatização de subsidiárias da
PETROBRAS (caso da BR Distribuidora) e prosseguimento dos infames leilões do
petróleo, na indústria automobilística (o “pacotão” de socorro às montadoras
anunciado por Levy poderá chegar a R$ 14 bilhões), ademais da aprovação da
fascista Lei Antiterrorismo, parecem revelar parte dos acordos firmados em
Washington –os mais lesivos não vêm à tona, naturalmente.
Jango
não foi a Casa Branca em março de 64, mas convocou um comício na Central. Por
isso mesmo, caiu.
*
Aos
trabalhadores da cidade e do campo, à juventude sem perspectivas, aos
intelectuais honestos e ao povo brasileiro de modo geral, cabe lutar para
derrubar não apenas esse governo antipopular e antinacional, mas o Estado e a
ordem social burguesa e latifundiária, serviçal do imperialismo (principalmente
norte-americano), que ele defende. E derrubar, junto dele, essa falsa esquerda
canalha, traidora, que joga lama sobre as bandeiras vermelhas dos que lutam
verdadeiramente por profundas mudanças sociais. Por mais árduo que seja o
caminho, reconheçamos, não há outro.