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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

APÓS LUTA DA COMUNIDADE ESCOLAR, GDF SUSPENDE, POR TEMPO INDETERMINADO, RETORNO DAS AULAS PRESENCIAIS

Quarta, 19 de agosto de 2020
Vitória da vida. Depois de muita pressão dos(as) trabalhadores(as) do magistério público, estudantes e de mães, pais e responsáveis, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu suspender, por tempo indeterminado, o retorno das aulas presenciais na rede pública de ensino na manhã desta quarta-feira (19). Se o Governo do Distrito Federal (GDF) não agisse assim, correria o risco de transformar a capital do País no epicentro epidemiológico do mundo.

Diante dos números subnotificados da Covid-19, a diretoria colegiada do Sinpro-DF vê como única alternativa do governador a suspensão. Milhares de vidas foram poupadas com a mudança de posição do governo ao atender o pleito da comunidade escolar, que tem lutado, por meio das várias campanhas do sindicato, contra o retorno das aulas presenciais previsto para ocorrer a partir de 31 de agosto, em pleno agravamento da pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal.


A decisão do governo é resultado do empenho do Sinpro-DF, que tem mostrado, insistentemente, a impossibilidade desse retorno por causa de dezenas de fatores, sobretudo, pela aceleração diária e descontrolada da pandemia da Covid-19 na capital do País, que tem batido sucessivos recordes em relação a outras unidades da Federação e a outros países a ponto de chegar, à tarde desta quarta-feira, com a triste marca de 2.129 óbitos pela Covid-19 e 140.539 (mil) contaminados. O retorno das aulas presenciais significaria aumentar muito mais esses números.

Luta da vida contra a morte

“Não falamos que tivemos uma vitória porque estamos numa luta da vida contra a morte literalmente. A gente pensa, às vezes, que obtivemos uma vitória, mas quem está vencendo todas as batalhas, neste momento, é a pandemia, que continua em alta no DF. Antes de mais nada, o Sinpro-DF se solidariza com todas as famílias do DF, e, principalmente, da categoria do magistério público, que perderam alguém querido, especialmente com os colegas professora(as) e orientadores(s) educacionais”, afirma Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF.

A diretoria colegiada agradece o empenho da comunidade escolar – gestores(as), professores(as), orientadores(as) educacionais, estudantes, mães, pais e responsáveis –, que dedicaram tempo às campanhas do sindicato, se manifestando, para, realmente, assegurar essa mudança de decisão do governo. Lembra que a entidade fez todo um esforço, com várias campanhas, especialmente para alertar a população do risco que ela estaria se submetendo se apoiasse o retorno das aulas agora, no dia 31 de agosto, e alerta, no entanto, para outros problemas relacionados à pandemia que precisam ser resolvidos imediatamente.

“Primeiramente, temos de dizer que essa decisão já era esperada porque, como a gente vem insistindo, a situação do DF já apontava para isso. O que se poderia esperar de um governador era que tivesse mesmo uma atitude de responsabilidade com a população do DF. Com isso, muitas famílias e trabalhadores ficarão mais calmos, porém não mais seguros. E aí vai o apelo da gente à população que continue com o empenho de sair de casa apenas se for extremamente necessário”, observa.

Aulas remotas e exclusão educacional

Outros problemas decorrentes da pandemia são apontados pelo Sinpro-DF. Um deles, tão urgente quanto a suspensão das aulas por tempo indeterminado, é a exclusão educacional que ocorre em decorrência da pandemia. As aulas remotas estão acontecendo, mas há uma parcela muito grande de estudantes que não está conseguindo acessá-las. Não consegue e não conseguirá se o governo não cumprir sua parte de providenciar as condições e prover os excluídos das aulas virtuais com equipamentos (tables ou celulares ou computadores etc.), especialmente a banda larga, que se comprometeu a disponibilizar e já tem 1 mês e não aconteceu.

Além de assegurar o direito à educação a essa parcela grande de estudantes sem acesso às aulas remotas, a conexão desses estudantes ofertada pelo GDF irá impedir outras formas de contaminação e até morte em gestores(as) e outros(as) servidores(as) que têm tido de comparecer presencialmente às escolas para entrega de materiais impressos e outras atividades. A diretoria colegiada do Sinpro-DF tem alertado sobre o risco de contaminação e cobrado do GDF a suspensão de todo e qualquer tipo de atendimento presencial nas escolas.

Enquanto isso, os(as) gestores(as) continuam expostos ao risco de contaminação e morte por Covid-19 ao prestarem serviços presenciais. “Não é somente a suspensão por tempo indeterminado dos estudantes, mas também dos(as) gestores(as) e outros(as) servidores(as) que têm tido a obrigação de comparecerem às escolas para cumprirem tarefas presenciais”, afirma. No entendimento da diretoria, a realidade do DF, infelizmente, é que, agora, as aulas serão remotas e, com a decisão desta quarta-feira, foi instituída uma escola virtual que deverá demorar mais tempo do que o que se esperava. Isso obriga o governo a tomar medidas que ele ainda não cumpriu, embora seja de sua responsabilidade, como é o caso de fornecer Internet e equipamentos de informática para estudantes carentes para que os prejuízos sejam menores.

Teletrabalho extrapola jornada diária

Outro problema que precisa ser resolvido, urgentemente, é a jornada de trabalho da categoria. A diretoria observa que, hoje os(as) professores(as) estão com uma carga horária maior do que a de costume, sobrecarregados, há muitas incertezas porque é tudo muito novo, portanto, é preciso, imediatamente, definir regras para esse tipo de prestação de serviço que está fora daquilo que estava previsto para a nossa atuação.

No entendimento da diretoria, é preciso iniciar, de imediato, o debate pedagógico, repensar e reorganizar, urgentemente, os conteúdos ministrados e pensar, imediatamente, numa proposta curricular para recuperar os prejuízos que os estudantes estão sofrendo este ano para que tão logo seja possível o retorno presencial a gente já tenha também uma proposta pedagógica que possa atender.

Ela observa que é preciso ressignificar os conteúdos e promover uma adequação curricular. “Diante disso, já solicitamos, no contato que ele fez com o Sinpro-DF, na manhã desta quarta-feira (19), para anunciar a decisão do governador, o início do debate pedagógico. Vamos imaginar que em 2021 a pandemia esteja absolutamente sob controle, que tenha vacina, mas não podemos ignorar todos os prejuízos causados pela Covid-19 na vida escolar dos nossos estudantes”, alerta.

Fonte: SINPRO-DF