Terça, 26 de outubro de 2010
Por Ivan de Carvalho

Abordei o tema por causa de uma tentativa atual de ressuscitar esse tal “controle social” da mídia que o governo federal tanto quer e o PT tem como uma de suas diretrizes programáticas, além de fazer parte do Plano Nacional de Direitos Humanos-3, uma proposta recente do governo Lula.
A tentativa de ressurreição, assinalei ontem, surgiu na Assembléia Legislativa do Ceará, que, por proposta de uma deputada do PT e com votos de parlamentares de todos os partidos – inclusive do líder do governo, que representa na Assembléia o governador Cid Gomes, do PSB – aprovou projeto de lei criando um Conselho Estadual de Comunicação Social.
Ontem outra parte da história – ou deveria chamar de conspiração? – é revelada. O jornal Folha de S. Paulo, em sua principal manchete de primeira página, anuncia que, além do Ceará, em pelo menos mais três Estados estão sendo adotadas iniciativas iguais ou similares – Piauí, Alagoas e Bahia. E em São Paulo, aí sem envolvimento do Executivo e por proposta do deputado Mentor, do PT.
E conta a reportagem da Folha que essa coisa começou quando decreto do presidente Lula convocou a 1ª Conferência Nacional de Comunicação, realizada de 14 a 17 de dezembro de 2009. A Confecom fez “propostas orientadoras” relacionadas com o setor de comunicação. Daí saiu a brilhante (com toda a ironia) idéia desses conselhos estaduais. É certo que os Estados não têm competência para regular a mídia impressa ou eletrônica, mas esse invento dos “conselhos” estaduais pressiona e principalmente pode dar a impressão de que há uma demanda que exige uma regulação federal, através do Congresso Nacional, provavelmente por proposta do Poder Executivo.
Bem, o governo do Piauí, chefiado por Wellington Dias, do PT, recusou a proposta de criação de um “conselho” desses no Estado. Consultada, a Procuradoria Geral do Estado considerou a proposta inconstitucional, por se tratar de matéria da competência exclusiva da União. Bom assinalar que o projeto foi feito a partir de um grupo de trabalho criado pelo governador e foi enviado à Assembléia Legislativa por ele, governador, que deve ter depois mudado de idéia. “Não passa pela cabeça do governador qualquer tipo de cerceamento de liberdade de expressão”, disse o coordenador de Comunicação do Estado, Fenelon Rocha, enquanto o deputado estadual e presidente do PT do Piauí, Fábio Novo, insistia em que é a favor dos conselhos “para coibir abusos”, mas que defende (???!!!) a liberdade de expressão.
Em Alagoas, onde o governador, Teotônio Vilela Filho, é do PSDB, existe desde 2001 um conselho consultivo pouco operante que agora propôs transformar-se em conselho deliberativo, o que o capacitaria a “tomar medidas efetivas”. A proposta, por enquanto, está sob exame da Casa Civil e da Procuradoria Geral do Estado.
Na Bahia, um grupo de trabalho criado em novembro passado pelo governador Jaques Wagner, que foi reeleito, produziu minuta do regulamento do “conselho”. O regulamento está em exame pela Casa Civil e não será divulgado antes de passar “pelo crivo jurídico”, disse o secretário de Comunicação, Robinson Almeida. O líder da oposição na Assembleia Legislativa, deputado Heraldo Rocha (DEM), disse ontem que o projeto que o Executivo está elaborando sobre o controle social da mídia é um retrocesso aos avanços democráticos do país e atenta contra a liberdade de imprensa.
O presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, afirmou ontem que esses conselhos são inconstitucionais e que “a OAB vai ter um papel crítico e ativo no sentido de ajuizar ações diretas de inconstitucionalidade contra a criação desses conselhos.”
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.