Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Subterrâneos de um ataque

Quarta, 20 de outubro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    O candidato da oposição a presidente da República, José Serra, foi agredido ontem por um grupo de militantes do PT quando fazia uma caminhada em Campo Grande, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Foi atingido por um rolo de adesivos na testa, logo acima do olho direito, queixou-se de náuseas e tonturas, colocou gelo para amenizar a dor e foi levado ao Hospital Samaritano, na zona sul do Rio.

Não havia ferimento aparente, mas o médico Jacob Kligerman, por precaução, determinou uma tomografia, que não revelou anormalidades. O médico recomendou repouso por 24 horas, o que levou o candidato a cancelar o restante da agenda do dia, incluindo um evento que seria realizado ontem à tarde no estádio do Maracanã.

Bem, na minha opinião, este é o principal fato de ontem na política brasileira, por mostrar a que tipo de ação está disposta a militância de pelo menos um dos principais partidos – exatamente a do partido que detém o Poder Executivo federal e a maioria do Congresso Nacional e se propõe a continuar nesta situação.

Certamente exagerando, pelo menos por enquanto, mas sem expressar um despropósito, o candidato, naquele momento que se seguiu à agressão continuada de que estava sendo alvo (o noticiário está à disposição do leitor em toda a mídia), o candidato da oposição fez uma afirmação que deve dar o que pensar à sociedade brasileira: “O PT tem tropa de choque. Não sei se foi previsto ou não, mas eles fazem no piloto automático. Lembra a tropa dos nazistas? É típico de movimentos fascistas”.

Se fosse um caso isolado, único, solitário, não haveria provavelmente razão para a sociedade pensar muito a respeito. Mas não é bem assim que acontece. Estão aí outros movimentos que partem com muita naturalidade para a violência, que visa a dominar, a submeter pela intimidação e, se necessário, pela força mesma.

O MST é no país (apesar de estar tão quieto e bem comportado nesse período eleitoral para não atrapalhar a candidatura petista à presidência da República) o exemplo maior do uso da violência para atingir objetivos que a lei desautoriza. Todas as pessoas que têm um mínimo de informação política não seriam inteligentes se vissem no MST qualquer outra coisa que não um movimento revolucionário – fundado na força e na rejeição à Constituição e a todo o sistema jurídico nacional – em desenvolvimento gradual.

Por enquanto tem-se visto que o MST usa instrumentos de trabalho (foices, enxadas, machados, ancinhos, facões, como armas, para intimidar ou até mais, não se podendo omitir, no entanto, que espingardas de caça integram o arsenal exibido, no qual não aparecem ocultos revólveres, raros, por enquanto). Momento chegará em que, se tiver como, o MST trocará a espingarda pelo fuzil e a foice, não pelo martelo, mas pela metralhadora. Ah, não temo ser processado pelo MST ao falar desse eventual futuro sombrio, pois o MST, espertamente, não tem personalidade jurídica. Para fugir à ação da Justiça.

Ora, ninguém ignora a simbiose existente entre o PT e o MST, como ninguém razoávelmente atento aos “movimentos sociais” pode ignorar os filhotes que o MST vem regularmente parindo, a exemplo do outro MST, o Movimento dos Sem Teto, para eventualmente ajudá-lo na tarefa revolucionária a que se propõe.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.