Quarta, 29 de novembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

Aliás, teria o PT pela
frente menos caminho a percorrer se não estivessem a União Européia e o Estados
Unidos mergulhados em uma crise financeira e econômica que já contaminou
seriamente a política nesses dois entes. Vale assinalar que há uma grande
sinergia entre a crise na União Européia e nos Estados.
Assim é que a crise
explodiu primeiro nos Estados Unidos, usando como estopim os chamados títulos
sub-prime, representando a ganância de lucros em negócios irresponsáveis de
altíssimo risco, enquanto a União americana esvaía-se em déficit orçamentário
fortemente acentuado pelas guerras no Afeganistão e no Iraque.
Ao explodir
espetacularmente nos Estados Unidos, a redução da “confiança dos mercados” e a
realidade das relações econômicas entre a economia americana e economia da
União Européia acabaram impondo fase aguda da crise à EU, dentro da qual alguns
países importantes ou relevantes já vinham apresentando problemas próprios. A
impressão que se tem hoje é que na União Européia ainda vai se agravar muito –
a França já balança e a Alemanha, sozinha, não tem como tapar as brechas na
represa e, devido às circunstâncias americanas, não tem como receber a ajuda
dos Estados Unidos.
E nossa eleição
presidencial com isso?
Bem, é que a crise nos
Estados Unidos e União Européia (com um agudíssimo complicador político na
perigosa bagunça no mundo árabe e as intenções cavernosas do regime iraniano)
tem tudo para afetar com força a economia brasileira. Nessas prováveis
circunstâncias, a natural candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff
poderá se revelar seriamente ameaçada.
Se Dilma ou o PT virem que
Dilma não dá, então a alternativa será o ex-presidente Lula. Isso era óbvio até
ser descoberto o seu câncer de laringe. Agora, Lula continua sendo a principal
alternativa a Dilma no PT, mas, ainda que se possa torcer e rezar, já não se
pode considerar tão óbvio enquanto não for constatada a cura. O tratamento, com
grandes chances de êxito, está em curso, fase inicial.
Caso sejam inviabilizadas
as candidaturas de Dilma e Lula em 2014, talvez nada reste ao PT senão o
governador da Bahia, Jaques Wagner. O Escândalo do Mensalão, em 2005,
guilhotinou, para efeito de candidatura a presidente da República, algumas
lideranças petistas. E o ex-ministro Palocci cuidou de por o próprio pescoço
sob a lâmina, em duas oportunidades. Wagner atravessou a tempestade sem se
molhar.
Mas se realmente a crise
chegar fundo no Brasil, isto significará que nem só do PT poderá sair o futuro
presidente. O PSB, hoje na área governista, tem dois nomes em campo, Ciro Gomes
(já por duas vezes candidato a presidente) mais claramente, Eduardo Campos,
governador de Pernambuco e controlador do PSB, discretamente. No PSB, um exclui
o outro, é claro. O PSB seria o “caminho do meio”.
O caminho exposto, vistas
de hoje as coisas, seria o PSDB com Aécio Neves ou, numa hipótese menos
provável, o teimoso José Serra.
Mas, e o PMDB, com sua
recente estratégia de disputar campeonato para ter torcida, o que faria ante
uma conjuntura marcada pela crise, com o governo enfraquecido? Eis aí um
mistério.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.