Quarta, 29 de novembro de
2011
Por Ivan de Carvalho
Impressiona o fato de que, três anos antes das
eleições presidenciais de 2014 e com as eleições de municipais de 2012 no
caminho, já estejam de prontidão para uma eventual investida em direção ao
Palácio do Planalto pelo menos cinco aspirantes. Três deles são do PT, o
partido que trabalha duro para conquistar a hegemonia política no país, mas
ainda tem uma parte importante do caminho até alcançar esta situação e
consolidá-la.
Aliás, teria o PT pela
frente menos caminho a percorrer se não estivessem a União Européia e o Estados
Unidos mergulhados em uma crise financeira e econômica que já contaminou
seriamente a política nesses dois entes. Vale assinalar que há uma grande
sinergia entre a crise na União Européia e nos Estados.
Assim é que a crise
explodiu primeiro nos Estados Unidos, usando como estopim os chamados títulos
sub-prime, representando a ganância de lucros em negócios irresponsáveis de
altíssimo risco, enquanto a União americana esvaía-se em déficit orçamentário
fortemente acentuado pelas guerras no Afeganistão e no Iraque.
Ao explodir
espetacularmente nos Estados Unidos, a redução da “confiança dos mercados” e a
realidade das relações econômicas entre a economia americana e economia da
União Européia acabaram impondo fase aguda da crise à EU, dentro da qual alguns
países importantes ou relevantes já vinham apresentando problemas próprios. A
impressão que se tem hoje é que na União Européia ainda vai se agravar muito –
a França já balança e a Alemanha, sozinha, não tem como tapar as brechas na
represa e, devido às circunstâncias americanas, não tem como receber a ajuda
dos Estados Unidos.
E nossa eleição
presidencial com isso?
Bem, é que a crise nos
Estados Unidos e União Européia (com um agudíssimo complicador político na
perigosa bagunça no mundo árabe e as intenções cavernosas do regime iraniano)
tem tudo para afetar com força a economia brasileira. Nessas prováveis
circunstâncias, a natural candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff
poderá se revelar seriamente ameaçada.
Se Dilma ou o PT virem que
Dilma não dá, então a alternativa será o ex-presidente Lula. Isso era óbvio até
ser descoberto o seu câncer de laringe. Agora, Lula continua sendo a principal
alternativa a Dilma no PT, mas, ainda que se possa torcer e rezar, já não se
pode considerar tão óbvio enquanto não for constatada a cura. O tratamento, com
grandes chances de êxito, está em curso, fase inicial.
Caso sejam inviabilizadas
as candidaturas de Dilma e Lula em 2014, talvez nada reste ao PT senão o
governador da Bahia, Jaques Wagner. O Escândalo do Mensalão, em 2005,
guilhotinou, para efeito de candidatura a presidente da República, algumas
lideranças petistas. E o ex-ministro Palocci cuidou de por o próprio pescoço
sob a lâmina, em duas oportunidades. Wagner atravessou a tempestade sem se
molhar.
Mas se realmente a crise
chegar fundo no Brasil, isto significará que nem só do PT poderá sair o futuro
presidente. O PSB, hoje na área governista, tem dois nomes em campo, Ciro Gomes
(já por duas vezes candidato a presidente) mais claramente, Eduardo Campos,
governador de Pernambuco e controlador do PSB, discretamente. No PSB, um exclui
o outro, é claro. O PSB seria o “caminho do meio”.
O caminho exposto, vistas
de hoje as coisas, seria o PSDB com Aécio Neves ou, numa hipótese menos
provável, o teimoso José Serra.
Mas, e o PMDB, com sua
recente estratégia de disputar campeonato para ter torcida, o que faria ante
uma conjuntura marcada pela crise, com o governo enfraquecido? Eis aí um
mistério.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.