Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 2 de junho de 2012

Lula entra na campanha

Sábado, 2 de junho de 2012 
Por Ivan de Carvalho
A entrevista que Lula deu quinta-feira ao Programa do Ratinho, no SBT – entremeada por uma meia-entrevista do candidato petista a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad – foi evidentemente todo arrumadinha.

 Nada aconteceu ao sabor do acaso ou do voluntarismo de alguém. Cada fato, cada frase se encaixava de modo perfeito em um contexto que não poderia ter sido composto pela mais maravilhosa série de coincidências. Tudo isto foi ostensivo, incluindo o auditório amestrado.

O programa-entrevista teve dois objetivos essenciais, além de mostrar a boa recuperação de Lula. O primeiro deles foi tentar encher a bola, que vinha insistindo em manter-se murcha, da candidatura de Fernando Haddad.

Haddad estava na plateia, na primeira fila, mostrado pelas câmeras com frequência durante a primeira parte da entrevista de Lula, que, aliás, se saiu bem com a voz. E ele fizera na véspera uma palestra que acabou durando mais de uma hora.

O apresentador conduz daqui, conduz dali, Lula vai pegando as deixas, chutando as bolas levantadas, o Corinthians e o futebol entram no jogo para a entrevista ficar bem “popular” e simpática, e então sem demora se chega ao essencial: a propaganda eleitoral do candidato do PT a prefeito de São Paulo. O gancho em que a penduraram foi, claro, a educação.

Depois de falar da saúde, que tem sido indicada pela população nas pesquisas de opinião pública como o maior problema nacional, de modo a que Lula pudesse culpar a oposição por ter negado a proposta de eternização da CPMF e impedido, assim, que R$ 40 bilhões fossem destinados ao setor, Ratinho puxou o tema da educação.

Em outras palavras, puxou Haddad. E Lula ajudou. Eles então arrastaram Haddad da plateia para o palco. Para uma poltrona que desde o começo estivera oculta do telespectador, mas em seu devido lugar – em um plano pouco inferior à bancada em que estavam Ratinho e Lula –, esperando o candidato a prefeito. Ele aboletou-se nela e várias perguntas lhe foram feitas, por ele respondidas e algumas das respostas brindadas (não confundir com blindadas) por elogios grandiloquentes de Lula.

Dar a Haddad mais presença junto ao eleitorado paulistano foi o primeiro objetivo essencial da ida de Lula, Haddad a tiracolo, ao programa do Ratinho. Mas não deve parar aí. Está praticamente certo que Lula também irá ao programa Domingo Espetacular, apresentado por Paulo Henrique Amorim na Rede Record. E talvez a mais algum. Aliás, informa-se que o PT baiano também quer tratamento igual para Pelegrino.

A Rede Globo, até agora, não está incluída no roteiro. A não ser, talvez, no da vingança. No dia 15 de maio, as emissoras passaram a transmitir inserções de “propaganda partidária” do PT e essas inserções tinham muito o sentido de inflar a bola murcha da candidatura de Haddad. A Rede Globo negou-se a transmitir, emitindo nota em que afirmou que o PT não cumprira as exigências legais de entrega da documentação com pelo menos 15 dias de antecedência. O TSE deu razão à Globo.

O PT ficou muito irado. Por isto, Ratinho não parava de fazer alusões à grande audiência que o SBT estava obtendo com a entrevista de Lula. Ficou em “segundo lugar” no ibope. No Domingo Espetacular, considerando que a Record já tem a segunda maior audiência sem Lula, com ele se tentará talvez superar o Fantástico da Rede Globo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista Baiano.