Sábado, 26 de janeiro de 201
Da Página do MST
O trabalhador rural e militante do MST Cícero Guedes foi assassinado
por pistoleiros nesta sexta-feira (25/1), nas proximidades da Usina
Cambahyba, no município de Campos dos Goytacazes (RJ).
Cícero foi baleado quando saía do assentamento de bicicleta. Nascido
em Alagoas, ele foi cortador de cana e coordenava a ocupação do MST na
usina, que é um complexo de sete fazendas que totaliza 3.500 hectares.
Esse latifúndio foi considerado improdutivo, segundo decisão do juiz
federal Dario Ribeiro Machado Júnior, divulgada em junho.A área
pertencia ao já falecido Heli Ribeiro Gomes, ex-vice governador biônico
do Rio, e agora é controlada por seus herdeiros.
Cícero Guedes era assentado desde 2002 no Sítio Brava Gente, no norte
do Rio de Janeiro, no assentamento Zumbi dos Palmares, mas continuou a
luta pela Reforma Agrária. Era uma referência na construção do
conhecimento agroecológico tanto entre os companheiros de Movimento como
também entre estudantes e professores da Universidade do Norte
Fluminense.
No lote, ele desenvolvia técnicas da agroecologia, com uma
diversidade de plantas , respeitando a natureza e aproveitando de tudo
que ela poderia dar. Começou com o plantio de sua cerca viva de
sabiá, que viu sua propriedade melhorar visualmente e também obter uma
boa fonte de renda.
Cícero também era conhecido pelas suas bananas, presentes em muitas
partes do lote, consorciadas com leguminosas, milho e espécies
frutíferas.Os filhos cresceram vendo a experiência se desenvolver e
aprenderam com o pai que os alimentos produzidos na agroecologia têm
qualidade superior aos do supermercado
O agricultor assentado Cícero Guedes dos Santos, desde o inicio da
ocupação do seu lote em 2002, já possuía o desejo de ter em sua área
diversidade de plantas , respeitando a natureza e aproveitando de tudo
que ela poderia dar. A natureza , inclusive, foi a fonte de inspiração
para esse tipo de consciência e o entendimento da mesma fez com que
esse sentimento de preservação e convívio fosse dia-a-dia aumentando.
Violência do latifúndio
O complexo de fazendas tem sido palco de todo tipo de violência:
exploração de trabalho infantil, exploração de mão de obra escrava,
falta de pagamento de indenizações trabalhistas, além de crimes
ambientais.
Em dezembro, o Incra fez o compromisso de criar um assentamento na
área da usina, mas até agora não avancou no sentido de assentar as
famílias.
A morte da companheiro Cícero é resultado da violência do latifúndio,
da impunidade das mortes dos Sem Terra e da lentidão do Incra para
assentar as famílias e fazer a Reforma Agrária. O MST exige que os
culpados sejam julgados, condenados e presos.
As fazendas da Usina Cambahyba acumulam dívidas de milhões com a
União e seu processo de desapropriação está paralisado há 14 anos —
desde que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)
considerou aquelas terras improdutivas e passíveis de desapropriação
para fins de reforma agrária.
Porém, a dívida da usina não se limita ao aspecto financeiro. No
último mês de maio, os brasileiros ficaram estarrecidos com a revelação
de que os fornos de Cambahyba foram usados para incinerar corpos de 10
militantes políticos durante a ditadura civil-militar brasileira. A
confissão do ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social
(Dops), Cláudio Guerra, consta no livro “Memórias da uma guerra suja” e
foi divulgada por toda a imprensa.
Até hoje, porém, a Justiça Federal impede a desapropriação da área e
já determinou despejos violentos de famílias que reivindicam a terra.
Essa é a segunda vez que o MST realiza uma ocupação na área da usina.
A primeira foi em 2000, e seis anos depois, as Polícias Federal e
Militar, por decisão da Justiça Federal de Campos, despejaram as 100
famílias que haviam criado o acampamento Oziel Alves II.