Segunda, 22 de abril de 2013
Carlos Newton
Tribuna da Imprensa
Desde 2010 eu vinha avisando que Lula e Dilma iriam se enfrentar. E
ninguém acreditou. Agora, os dois caminham para um duelo de titãs, e o
caso de Rosemary Novoa Noronha está sendo usado como arma estratégica
nessa disputa que agita os bastidores do poder. O que está em jogo é a
sucessão presidencial de 2014, que já começou faz tempo, embora poucos
estivessem percebendo, porque os políticos (com as exceções de praxe)
são dissimulados, ardilosos e cínicos. Ao eleitorado, prometem dias
melhores, mas quando chegam ao poder, só pensam em si próprios (e na
próxima eleição, preferencialmente).
Lula diz que Dilma é candidata, mas já fez várias vezes a ressalva
fatal, que tanto atormenta a atual locatária do Planalto-Alvorada.
Afirma ele: “Se houver qualquer problema, o velhinho” estará pronto para
entrar em campo”. Outro dia, nosso grande amigo Carlos Chagas chamou
atenção para essa posição mais do que dúbia de Lula. Imaginem o que não
passa pela cabeça de Dilma Rousseff.
DISPUTA HIPÓCRITA
No contexto dessa disputa hipócrita (que agita nos bastidores,
enquanto em público os dois vivem na maior harmonia) Lula torce para que
a economia fique travada, de forma a que em 2014 ele possa reinvindicar
a candidatura, surgindo como salvador da pátria, e o PT prazerosamente o
atenderá, podem ter certeza. Ao mesmo tempo, Dilma tenta de tudo para
retomar o crescimento econômico e torce para que a imagem de Lula se
deteriore devido ao novo inquérito da Polícia Federal sobre o mensalão,
em que o ex-presidente é o principal investigado, ao lado do ex-ministro
Antonio Palocci, que perdeu o cargo, a honra e a reputação, mas
continua influente no partido, que tem essa característica de conviver
normalmente com a corrupção, sob o argumento de que os outros partidos
também são corruptos, vejam a que ponto chegamos.
Aliás, não é por mera coincidência que se diz que a Operação Porto
Seguro foi desfechada com a cumplicidade do Planalto (ou melhor, da ala
dilmista do palácio, porque há a outra ala, a lulista, que não gostou
nada da iniciativa da Polícia Federal, que trouxe à tona o romance do
ex-presidente com sua chefe de gabinete, o poder transferido a ela e
tudo o mais. Curiosamente, quando a operação foi desfechada, o ministro
da Justiça José Eduardo Cardozo estava curtindo uns dias de praia em
Fortaleza…
Agora, o caso Rosemary volta às manchetes e ela ameaça falar, vejam
só que situação delicada. A ala lulista do PT (praticamente todo o
partido) está temerosa, é claro. A ala dilmista do governo (não existe
ala dilmista no PT) está em festa.
O assunto é muito quente e logo iremos voltar a ele.