Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 24 de agosto de 2013

Emboladas e poesias

Sábado, 24 de agosto de 2013
Do Blog do Siro Darlan*

EMBOLADAS E POESIAS

O desembargador Luis Cesar Bitencourt provocou-me com a seguinte poesia:

Sou um menino de rua
Completo e assumido
Dela não saio nem me retiro

 -“Sabe por que? Juiz doutor Siro

 A lei está do meu lado
O artigo dezesseis que está presente
No Estatuto da Criança e do Adolescente
Me permite o ir e vir
E até ficar onde quiser
Sem ninguém me amolar

A calçada é minha cama
O céu o meu teto
E a rua o meu lar

Com a camisa até os pés
Passo o dia sentado
Esmolando algum trocado
Não sei se vou até jantar
Mas como afanei uns biscoitos
Vai dar p`ro galho quebrar

Mas esta vida não é para mim
Tenho uma outra ambição.
Já conheço uma boca
E vou ser seu avião

Tenho sonhos ainda mais altos
Uns sequestros, uns assaltos
E orgulhoso e  enfático
E quem sabe ser um dia
O Rei do Tráfico

Eu por ser de menor
Posso agir à vontade
Não serei processado
E assumir dos maiores
Sua responsabilidade
Deixando-se por consequência
Na maior impunidade

Mas isto pouco durou
Este fim não esperava
Mas foi o que procurou
N`um entrechoque
Com a polícia
Uma bala
O matou

Minha resposta ao ilustre Desembargador Luiz Cesar Bittencourt, e em sua memória:


Sou menino de rua
Não porque assim quis
Mas porque assim me fizeram
E prá isso nada fiz

“Sabe por que? Desembargador”

A lei que está do meu lado
Me assegura direitos,
Os mesmos que são de adultos
Que não garantem respeito.

Assegura-me família, respeito, dignidade,
Mas família não conheço,
Cobram-me além da idade
Responsabilidade excessiva, que não mereço

O Governo não me abriga
Não respeita meus direitos,
O Estatuto não conhecem
E atribuem mil defeitos.

Marginal não quero ser
Embora você promova
Condições tão desumanas
Pare de me humilhar,
Antecipar a maioridade,
Deixe-me ser criança,
Poder na rua viver, Se você me der um lar,
Bem depressa vou querer.

A droga que faço uso
Você põe na minha mão,
O amor que você mata,
Põe ódio em meu coração.

Tire a droga, dê comida,
Tire o ódio, plante amor.
Alimente com carinho
Meu coração de menino
Que saberei onde por
O amor que você plantou,
O afeto que você deu.
Eis que nós somos irmãos
Filhos de um  mesmo Deus


*Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia.