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(Millôr Fernandes)

sábado, 29 de março de 2014

Congresso Nacional: Exposição sobre golpe de 64 atrai jovens e sobreviventes do período

Sábado, 29 de março de 2014
Mariana Jungmann - Repórter da Agência Brasil Edição: José Romildo
Brasília - A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e o Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) lançam a exposição Onde a Esperança se Refugiou. (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Exposição Onde a Esperança se Refugiou lembra presos políticos desaparecidos Antonio Cruz /Agência Brasil
Às vésperas do dia 31 de março, quando se completam 50 anos do golpe militar de 1964, o Congresso Nacional recebe a exposição Onde a Esperança se Refugiou, para lembrar de 366 presos políticos desaparecidos e das práticas de tortura, assassinato e exílio ocorridas ao longo dos 20 anos de exceção.


Considerada “impactante” pelo jovem professor de filosofia Gabriel Andrade Bandeira, de 25 anos, a exposição começa com a entrada em uma câmara escura, gradeada, onde se tem a impressão de estar em uma cela. A partir daí, o visitante é levado a caminhar por instalações divididas em cinco eixos que tratam do contexto político brasileiro e latino-americano, da ditadura militar no Brasil, das vítimas, do Movimento Justiça e Direitos Humanos, da transição política no Cone Sul para a redemocratização e das políticas de memória.

No caminho, é possível ver vídeos com depoimentos de ex-presos políticos. Numa das instalações, o visitante é levado a colocar o rosto em um recorte na parede para enxergar melhor as fotos dos desaparecidos do período ditatorial. Na parede oposta, um espelho faz com que se veja o próprio rosto entre as fotos. Em outro trecho da exposição, um telefone comum das décadas de 1970 e 1980 pode ser acessado por quem passa para ouvir histórias de pessoas exiladas contadas em cartas enviadas ao Movimento de Justiça e Direitos Humanos por parentes e vítimas das ditaduras da América Latina.

Para o professor Gabriel Andrade Bandeira, o passeio é válido para entender a influência do passado recente na vida política do país atualmente. Na opinião dele, a juventude tem pouco contato com os fatos do período ditatorial, mas ainda assim é influenciada pelo espírito de rebeldia daquela época. “Eu ouvia histórias do meu pai. Ele teve pouco contato com os problemas daquela época porque era sobrinho de militar, mas mesmo assim ele conta que ia para a aula e de repente percebia que um colega tinha sumido. Ele sabia que ele tinha sido levado pelo regime, não sabia se tinha sido morto, se estava preso, em tortura, mas sabia que tinha sido o regime”, diz. O professor vê reflexo dessas histórias nas fortes manifestações de junho do ano passado. “Acho que ainda está recente essa coisa dos protestos e [a resistência à ditadura] é o que a nossa geração tem de mais próximo”, completa.

Acompanhando o professor na visita, a namorada dele, Cristiane dos Santos Parnaíba, de 26 anos, concorda que a juventude atual é inspirada por uma “nostalgia do que não viveu”. “Por considerar válida a luta, eles se inspiram no que aconteceu antes”, diz a jornalista e estudante de mestrado paulista.

Cristiane se disse surpresa por ver a exposição montada no Salão Negro do Congresso Nacional, onde disse que não esperava ver um “espaço de denúncia”. Ela também faz um paralelo entre os protestos de junho do ano passado e a luta pela redemocratização. As manifestações recentes são uma continuação do processo iniciado com as Diretas Já. “A diferença é que agora não há um outro lado declarado, como antes havia a polícia. Mas também é uma manifestação de jovens. Antes conseguimos a democracia, agora falta a cidadania”, definiu.

Atingir a geração de Gabriel e Cristiane é um dos objetivos da mostra, segundo o produtor Iuri Pereira. Além disso, ela busca fazer uma homenagem aos desaparecidos e contar a história para  “mostrar o que não fazer”, explica. “Essa história, como ainda existem muitos desaparecidos, continua viva”, diz Pereira.

De acordo com ele, a exposição também tem recebido muitas visitas de pessoas que viveram o período da ditadura e que se emocionam ao ouvir histórias conhecidas ou semelhantes às vividas por familiares e amigos. É o caso de duas senhoras que perderam os maridos durante o regime militar e que passaram mal, precisando ser socorridas por brigadistas, após verem a mostra. “Isso é um projeto cultural para contar um pouco dessa história. Há pessoas mais velhas que vêm e saem muito emocionadas, agradecendo por contarmos para os mais jovens”, diz o produtor.

A exposição Onde a Esperança se Refugiou está montada no Salão Negro do Congresso Nacional em Brasília até dia 13 de abril. A visitação pode ser feita todos os dias da semana de 9h às 17h com entrada gratuita.